Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Dengue 15 minutos: estratégia de qualificação dos Agentes Comunitários de Saúde na atenção aos casos suspeitos e confirmados de dengue
Cristiane Lemos de Oliveira Telles Menezes, Jaldeci Leite Silva

Resumo


Caracterização do problema: No segundo semestre de 2011 o Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro realizaram a formação de instrutores para o treinamento intitulado Dengue 15 minutos. Esta capacitação teve como principal objetivo o fortalecimento da rede de assistência e a não ocorrência de casos de óbito. Representou um treinamento simplificado para médicos e enfermeiros que já tivessem conhecimento e experiência no manuseio de casos suspeitos e confirmados de Dengue. A partir desse treinamento, os instrutores deveriam treinar aproximadamente 80% dos profissionais das unidades de saúde, através da formação de monitores. Nesse momento, levantou-se a seguinte questão: como qualificar o Agente Comunitário da Saúde para a dengue, de modo que ele possa contribuir na organização do serviço no enfrentamento dos números cada vez mais crescentes de casos da doença? Dessa forma, este trabalho apresenta uma proposta de educação permanente voltada para a qualificação de agentes comunitários de saúde da Estratégia de saúde da Família, na área do centro do Rio de Janeiro. A capacitação é direcionada para a atenção aos casos suspeitos e confirmados de dengue, tendo como base a metodologia do treinamento do Ministério da Saúde intitulado “Dengue 15 minutos”. Através deste trabalho, buscou-se atender aos seguintes objetivos: 1. Alinhar o trabalhos dos ACS ao dos outros profissionais da equipe no atendimento aos casos suspeitos e confirmados de dengue. 2. Sistematizar a organização do cuidado para que se possa alcançar maior efetividade no acompanhamento, assim como a redução de complicações e maior controle ambiental. 3. Dialogar sobre o processo de adoecimento dos casos de Dengue, de modo que sejam compreendidas a importância e contribuição das suas atividades em relação ao acompanhamento dos casos, efetividade do cuidado e controle ambiental. Descrição da experiência: O desenvolvimento desta capacitação utilizou os conceitos da Educação Permanente estabelecidos na Política Nacional de Educação Permanente do Ministério da Saúde. Parte-se do conhecimento acumulado dos atores envolvidos, buscando a reflexão da prática a partir da problematização da vivência profissional, e o exercício de incorporação do conteúdo à prática cotidiana do trabalho. A capacitação teve como modelo a metodologia desenvolvida pela Secretaria de Saúde do Estado do Rio de janeiro e Ministério da Saúde, intitulada Dengue 15 minutos. Neste modelo, o conhecimento acumulado dos profissionais de nível superior, médicos e enfermeiros, na atenção aos casos suspeitos e confirmados de dengue é valorizado e utilizado durante todo o tempo. O foco é direcionado para o entendimento e uso dos conceitos-chave: definição de caso suspeito, sinais de alarme, acompanhamento por estadiamento e hidratação. Dá-se ênfase à importância de re-estadiamento do usuário a cada retorno, coleta dos exames de controle e volume adequado de hidratação conforme o estadiamento, sempre com o uso do fluxograma de classificação de risco e manejo do paciente. A capacitação desenvolvida para os ACS considerou o conhecimento acumulado em relação ao ciclo de vida do mosquito Aedes aegypti, assim como suas características no ambiente, medidas preventivas e ações para controle de focos nas residências. Deu-se ênfase ao conceito de caso suspeito, sinais de alarme, o significado do estadiamento da doença, importância da hidratação, o reconhecimento dos grupos mais vulneráveis, tais como crianças menores de dois anos, gestantes, idosos, condições clínicas especiais, risco social e comorbidades, e do papel do ACS no território, no acolhimento da unidade e no acompanhamento dos casos. Foi apresentado também o fluxograma de classificação de risco e manejo do paciente, visando à compreensão da sua organização, embora seja sabido que o ACS não faz uso desse instrumento nas suas ações. Durante todo o andamento da capacitação, foi esclarecido junto aos profissionais que a compreensão sobre o processo de adoecimento não representa novas atribuições na sua prática, mas uma estratégia de fortalecimento de ações no enfrentamento da doença no território, assim como uma forma de envolvê-lo no contexto do cuidado, tendo o enfermeiro supervisor como referência para orientação e acompanhamento das ações. Com o objetivo de nortear e sistematizar as atividades, e também facilitar a tomada de decisão, foi criado um instrumento denominado fluxograma para a atuação do ACS na atenção aos casos de dengue. Nesse instrumento é apresentado o conceito de caso suspeito, seguido dos sinais de alarme, e as atribuições do profissional no território, no acolhimento da unidade, e no acompanhamento dos casos confirmados. Para que o investimento na capacitação dos ACS tivesse impacto no trabalho das equipes, utilizou-se como estratégia o envolvimento das enfermeiras em relação ao conteúdo abordado, organização do fluxograma, e desenvolvimento do trabalho, de modo a haver efetividade no acompanhamento dos casos. Efeitos alcançados: Utilizando as bases da educação permanente, que possibilita a transformação da prática profissional a partir da problematização do cotidiano, foi possível trabalhar com os ACS os conteúdos apresentados. A utilização do fluxograma favorece a sistematização do trabalho e rápida tomada de decisão contribuindo para a qualidade do cuidado na situação de dengue, como por exemplo, o reconhecimento de um caso suspeito no momento da visita domiciliar e no acolhimento, a busca ativa de caso suspeito que não retornou para reavaliação do quadro, busca ativa de usuário que apresentou alteração significativa nos exames de controle, maior efetividade em relação ao controle e bloqueio das áreas com casos confirmados, em parceria com os Agentes de Vigilância em Saúde . Recomendações: Esse modelo de trabalho demonstrou ser bem aplicado aos ACS que já tinham conhecimento anterior sobre o mosquito Aedes aegypti e controle ambiental da dengue. Dessa forma, àqueles profissionais ainda não capacitados, é importante que se dê atenção ao conteúdo que define o papel do ACS no enfrentamento da Dengue. Merece destaque o entendimento do fluxograma também pelos outros profissionais da equipe, principalmente o enfermeiro supervisor, de modo que todos possam unir esforços no sentido de se obter maior efetividade no cuidado aos casos de dengue.