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Grupo de Discussão de Casos: uma experiencia de Apoio Matricial
Resumo
Este relato de experiência é referente a um Grupo de Discussão de Casos fundamentado nos princípios da Atenção Primária em Saúde Brasileira, da Co-gestão (BRASIL, 2009 e 2011), do Apoio Matricial (SANTOS, 2007; SANTOS & GUERREIRO, 2010) e de fundamentos da Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2006) desenvolvido em uma Unidade de Saúde da Família no Rio de Janeiro com o apoio de uma equipe de residentes multiprofissional. Que ao chegar à unidade, esses residentes perceberam dificuldades tanto nas reuniões das equipes locais, como a falta de espaços formais para construção da gestão compartilhada do cuidado (FRANCO, 2006; MERHY, 1999; MERHY & FRANCO, 1999) longitudinal do usuário, que são vistos periodicamente mas muitas vezes não é produzindo o acompanhamento com o efeito da Resolutividade, possivelmente em decorrência da grande demanda de atendimentos caraterística do contexto da Estratégia Saúde da Família. Agravado ainda mais pela situação no município do Rio de Janeiro, onde as agendas dos profissionais são fixadas a priori e as metas impostas verticalmente, muitas vezes dificultam a construção criativa de formas de funcionar e organizar atividades que não contemplem o que foi estabelecido pelos contratos de gestão entre o município e a Organização Social. Somando-se esses pontos, também apareceram demandas apresentadas de forma desorganizada aos residentes que não compõe a equipe básica da estratégia (nutrição e psicologia), forma esta que não necessariamente produziram uma co-responsabilização dos casos entre os diversos profissionais das equipes e da gestão, influenciada pelo modelo tradicional de encaminhamento e de uma visão consultório-centrada dessas profissões. Ainda é importante apresentar que a gestão se configura de forma fragmentada por dupla linha de mando (Secretaria Municipal de Saúde e Organização Social) e fragmentadora pois não se aproxima dos processos de trabalho do profissionais, para buscar de qual maneira poderiam apoiar na organização dos serviços. Visando resolver ou ao menos amenizar esses problemas, foi pensado como proposta pelos residentes e pactuado em conjunto com profissionais da unidade alguma atividade que problematizasse as práticas do serviço de saúde buscando mudanças institucionais que pudessem atender as necessidades e questões do cotidiano do trabalho. Para tal, encaminhou-se duas reuniões mensais para discussão de casos que inicialmente acontecia em dia fixo da semana, sendo posteriormente alterado para momentos flexíveis a serem pactuados com cada equipe, e assim abarcar um maior número de profissionais do serviço. Experimentou-se diferentes métodos como Familiograma (CHIAVERINI, 2011) e a construção de Projetos Terapêuticos Singulares (OLIVEIRA, 2008), as quais alguns casos de difícil manejo puderam ser avaliados, discutidos, encaminhados e posteriormente reavaliados em discussão formal entre os profissionais de diferentes categorias. As reuniões aconteceram com a participação dos profissionais de nível superior e de maneira imprescindível dos Agentes Comunitários de Saúde, com suas preciosas informações a respeito da história e acompanhamento do caso. Esses momentos foram iniciados com a apresentação do caso e a dificuldade de seu manejo que justificaria sua escolha como prioritário, seguido de um resgate da história e das relações do sujeito ou família na comunidade, buscando averiguar do que se verifica como potencialidades ou vulnerabilidades na situação, passando então a discussão e construção de propostas de estratégias a serem abordadas e pactuadas com os sujeitos em questão, escolhendo responsáveis para cada tarefa e marcando uma data para reavaliação do caso. Buscando assim, por em prática os princípios doutrinários da Equidade e Integralidade e exercitando a responsabilização e longitudinalidade do cuidado. Colocando em debate a tensão dos diversos saberes/poderes implicados na problematização do processo de trabalho e na produção do cuidado, criando uma lógica sistemática de acompanhamento de usuários em maior situação de vulnerabilidade, a partir de trocas de saberes Núcleo de cada categoria envolvida, balizados pelos saberes Campo, possibilitando produção de novos saberes que sejam fruto das relações micropolíticas da realidade vivenciada (Oliveira, 2010). Produzindo assim como matriciadores, a que se propuseram (os residentes), a necessidade de articulação da rede, seja intra, intersetorial ou mesmo as redes informais, buscando produzir linhas de cuidado (FRANCO, 2006) que sejam reflexo dos Projetos Terapêuticos Singulares, induzindo a um desafio de provocar os trabalhadores e a gestão a participar deste complexo processo de mudança. Um trabalho que exige empenho no processo de facilitar as discussões para que as hierarquias dos saberes e os processos políticos externos a unidade de saúde não atrapalhem nos objetivos finalísticos de um serviço de saúde que são a produção de saúde, a realização pessoal e profissional do profissional de saúde e a própria reprodução do serviço enquanto política democrática e solidária (BRASIL, 2009). Dessa forma, a escuta e as trocas entre os participantes devam ser preponderantes nesse processo de produzir formas singulares de cuidado com a população adscrita e transformações no cotidiano do trabalho.