Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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GRUPO VIDA - SUICIDOLOGIA: UMA NOVA ABORDAGEM NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Cláudia Ap. Fernandes Cordeiro, Ana Paula Fraga Pacheco, Bianca Luisy Santos Alves, Giulian Gabriela Mendes Silva, Elaine Oliveira Leite, Lenniara Pereira Mendes, Sara Jemima Mota de Almeida, Carliaine Aparecida Siqueira, Vinícius de Matos Freitas, Luciana Roberta dos Magalhães e Silva, Nadia Veronica Halboth

Resumo


No mundo, os suicídios estão entre as 10 principais causas de morte na população geral e entre as três principais em indivíduos com 15 a 35 anos. A taxa de suicídios é de cerca de 16/100.000 habitantes/ano. No Brasil esta taxa é de aproximadamente 4,5/100.000 habitantes/ano, ressaltando-se que existe uma enorme subnotificação, devido aos inúmeros tabus e receios com relação ao tema e que para cada suicídio consumado ocorrem de dez a 20 tentativas. Os comportamentos suicidas incluem manifestações de ideias suicidas; a tentativa de suicídio, que é qualquer lesão auto-provocada, com o intuito de morrer ou em que este desfecho é previsível e o suicídio propriamente dito, em que a tentativa culmina com a morte. Entre aqueles que tentam suicídio é comum a presença de doenças psiquiátricas como a depressão, alcoolismo e uso de outras drogas, desemprego, término de relacionamento amoroso, morte de ente querido, simbolismo e fatores culturais, disponibilidade e familiaridade que a pessoa tem com o método utilizado, imitação dentre outros fatores. Estes comportamentos estão relacionados a intenso sofrimento do indivíduo. Embora caracterizado como um importante problema de saúde pública, potencialmente evitável, por estar cercado de muitos tabus, raramente o acadêmico tem contato com o tema “suicídios” dentro de sala de aula. E o acadêmico, quase sempre fica restrito à sala de aula, uma vez que a grade curricular dos cursos da saúde, na maioria das vezes integrais, é considerada muito extensa, deixando este de participar de outras abordagens profissionais essenciais para a sua formação. No entanto, existem inúmeras oportunidades para que o acadêmico aumente sua experiência, seja na pesquisa, extensão e/ou ensino, dentro da universidade. Os grupos de pesquisa e de extensão geralmente surgem a partir de uma demanda identificada. O Grupo de Pesquisas ViDA – Suicidologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), foi criado no ano de 2006 por uma docente e duas acadêmicas da instituição em virtude dos frequentes casos de suicídios ocorridos no município de Diamantina-MG. O presente relato de experiência tem como objetivo apresentar a percepção de discentes dos cursos de enfermagem e nutrição da UFVJM, a respeito da relevância de sua participação no Grupo de Pesquisas ViDA-Suicidologia. Ao participarem deste grupo, os discentes têm a possibilidade de vivenciar na prática a realidade de trabalhos de pesquisa e extensão. Primeiramente o acadêmico realiza, através de reuniões semanais com a coordenadora e profissionais membros do Grupo (Enfermeira e Psicólogos), estudos e discussões da literatura científica atual, bem como de informações recentes divulgadas pela Associação Internacional de Prevenção em Suicídios (IASP), livros, estudos de caso e principalmente a elaboração de projetos e ações a serem desenvolvidas. No caso de projetos de pesquisa os aspectos éticos, em especial a Resolução 196/96 do CNS são amplamente discutidos e a execução só é iniciada após análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFVJM. Cuidados relacionados à ética também são tomados nas atividades de extensão e discussões de casos clínicos. No âmbito da pesquisa científica, o grupo desenvolve o projeto intitulado: “Prevenção de Suicídios: Conhecendo a Realidade em Diamantina-MG”, que envolve estudos qualitativos e quantitativos, sendo realizadas coletas de dados em instituições de saúde, corpo de bombeiros e outros e entrevistas com profissionais relacionados a atendimentos de comportamentos suicidas, como bombeiros militares e diferentes profissionais da saúde. Com relação à extensão universitária os membros do Grupo ViDA atuam em diferentes projetos e se envolvem em todas as etapas dos mesmos: elaboração e viabilização, divulgação de cartazes, entrevistas na mídia, organização de eventos, coordenação de dinâmicas e aulas expositivas em cursos de capacitação de Prevenção do Suicídio, sempre sob a supervisão de profissionais capacitados. Uma ação anual e muito relevante desenvolvida pelo grupo é a divulgação do “Dia mundial de prevenção do suicídio”, 10 de setembro, uma proposta da IASP (Associação Internacional para a Prevenão do Suicídio), em parceria com a OMS, para solidarizar-se aos sobreviventes do suicídio e ressaltar que, na maioria das vezes, o suicídio pode ser prevenido. Os membros do grupo participam de diversas atividades, tanto dentro da Universidade quanto externos, apresentando trabalhos em eventos, regionais, nacionais e internacionais (Uruguai e China), destes alguns foram premiados: dois prêmios regionais e um internacional, no Congresso da IASP no Uruguai, em 2009. Também já foram realizados cursos de prevenção do suicídio em outras cidades. Uma das grandes conquistas do Grupo ViDA foi a formação de um pré-comitê para a implantação do Núcleo de Valorização da Vida (NVV), responsável pelos trabalhos do Centro de Valorização da Vida (linha telefônica de ajuda). A Assembleia de criação do NVV aconteceu em 2011. Em breve também será iniciado o atendimento a sobreviventes do suicídio. A partir da execução destas atividades nota-se que há uma significativa mudança da visão de todos os envolvidos a respeito do suicídio. Tabus e mitos são diminuídos e estes se tornam mais sensíveis ao tema. O referido grupo busca tornar os acadêmicos capazes de agir preventivamente, evidenciar fatores de risco e propor abordagens que garantam ajuda para as pessoas que apresentem comportamentos suicidas. Trabalhar com um tema difícil e cercado de tabus torna o trabalho mais árduo, porém mais gratificante. Atuar na prevenção do suicídio torna o profissional em formação mais humano e sensível para diversos problemas que afligem a sociedade. Essa vivência oferece uma forma mais empática de pensar e de entender o outro, com todos os seus problemas e inquietações. É importante ressaltando que ser integrante de um grupo de pesquisa e extensão não prejudica em nada o rendimento acadêmico, só vem a contribuir e enriquecer proporcionando uma formação integral e possibilitando um engrandecimento pessoal, uma lição de vida e melhor convivência com o outro, além de facilitar que o acadêmico perceba que ele é o elo entre teoria e prática e depende dele aproveitar as oportunidades para o fortalecimento e busca de novos conhecimentos, sejam pessoais e profissionais. Pode-se observar que a participação no grupo é uma experiência enriquecedora em que os acadêmicos adquirem conhecimentos e habilidades. Assim, eles desfrutam de uma formação mais ampla, possibilitando que se tornem profissionais capazes de oferecer melhor assistência às pessoas sob seus cuidados. Toda Universidade deve desenvolver e possibilitar a inserção do acadêmico neste contexto (pesquisa e extensão), que se apresenta como uma estratégia útil para aprimorar sua formação.