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GRUPO VIDA - SUICIDOLOGIA: UMA NOVA ABORDAGEM NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Resumo
No mundo, os suicídios estão entre as 10 principais causas de morte na população geral e entre as três principais em indivíduos com 15 a 35 anos. A taxa de suicídios é de cerca de 16/100.000 habitantes/ano. No Brasil esta taxa é de aproximadamente 4,5/100.000 habitantes/ano, ressaltando-se que existe uma enorme subnotificação, devido aos inúmeros tabus e receios com relação ao tema e que para cada suicídio consumado ocorrem de dez a 20 tentativas. Os comportamentos suicidas incluem manifestações de ideias suicidas; a tentativa de suicídio, que é qualquer lesão auto-provocada, com o intuito de morrer ou em que este desfecho é previsível e o suicídio propriamente dito, em que a tentativa culmina com a morte. Entre aqueles que tentam suicídio é comum a presença de doenças psiquiátricas como a depressão, alcoolismo e uso de outras drogas, desemprego, término de relacionamento amoroso, morte de ente querido, simbolismo e fatores culturais, disponibilidade e familiaridade que a pessoa tem com o método utilizado, imitação dentre outros fatores. Estes comportamentos estão relacionados a intenso sofrimento do indivíduo. Embora caracterizado como um importante problema de saúde pública, potencialmente evitável, por estar cercado de muitos tabus, raramente o acadêmico tem contato com o tema “suicídios” dentro de sala de aula. E o acadêmico, quase sempre fica restrito à sala de aula, uma vez que a grade curricular dos cursos da saúde, na maioria das vezes integrais, é considerada muito extensa, deixando este de participar de outras abordagens profissionais essenciais para a sua formação. No entanto, existem inúmeras oportunidades para que o acadêmico aumente sua experiência, seja na pesquisa, extensão e/ou ensino, dentro da universidade. Os grupos de pesquisa e de extensão geralmente surgem a partir de uma demanda identificada. O Grupo de Pesquisas ViDA – Suicidologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), foi criado no ano de 2006 por uma docente e duas acadêmicas da instituição em virtude dos frequentes casos de suicídios ocorridos no município de Diamantina-MG. O presente relato de experiência tem como objetivo apresentar a percepção de discentes dos cursos de enfermagem e nutrição da UFVJM, a respeito da relevância de sua participação no Grupo de Pesquisas ViDA-Suicidologia. Ao participarem deste grupo, os discentes têm a possibilidade de vivenciar na prática a realidade de trabalhos de pesquisa e extensão. Primeiramente o acadêmico realiza, através de reuniões semanais com a coordenadora e profissionais membros do Grupo (Enfermeira e Psicólogos), estudos e discussões da literatura científica atual, bem como de informações recentes divulgadas pela Associação Internacional de Prevenção em Suicídios (IASP), livros, estudos de caso e principalmente a elaboração de projetos e ações a serem desenvolvidas. No caso de projetos de pesquisa os aspectos éticos, em especial a Resolução 196/96 do CNS são amplamente discutidos e a execução só é iniciada após análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFVJM. Cuidados relacionados à ética também são tomados nas atividades de extensão e discussões de casos clínicos. No âmbito da pesquisa científica, o grupo desenvolve o projeto intitulado: “Prevenção de Suicídios: Conhecendo a Realidade em Diamantina-MG”, que envolve estudos qualitativos e quantitativos, sendo realizadas coletas de dados em instituições de saúde, corpo de bombeiros e outros e entrevistas com profissionais relacionados a atendimentos de comportamentos suicidas, como bombeiros militares e diferentes profissionais da saúde. Com relação à extensão universitária os membros do Grupo ViDA atuam em diferentes projetos e se envolvem em todas as etapas dos mesmos: elaboração e viabilização, divulgação de cartazes, entrevistas na mídia, organização de eventos, coordenação de dinâmicas e aulas expositivas em cursos de capacitação de Prevenção do Suicídio, sempre sob a supervisão de profissionais capacitados. Uma ação anual e muito relevante desenvolvida pelo grupo é a divulgação do “Dia mundial de prevenção do suicídio”, 10 de setembro, uma proposta da IASP (Associação Internacional para a Prevenão do Suicídio), em parceria com a OMS, para solidarizar-se aos sobreviventes do suicídio e ressaltar que, na maioria das vezes, o suicídio pode ser prevenido. Os membros do grupo participam de diversas atividades, tanto dentro da Universidade quanto externos, apresentando trabalhos em eventos, regionais, nacionais e internacionais (Uruguai e China), destes alguns foram premiados: dois prêmios regionais e um internacional, no Congresso da IASP no Uruguai, em 2009. Também já foram realizados cursos de prevenção do suicídio em outras cidades. Uma das grandes conquistas do Grupo ViDA foi a formação de um pré-comitê para a implantação do Núcleo de Valorização da Vida (NVV), responsável pelos trabalhos do Centro de Valorização da Vida (linha telefônica de ajuda). A Assembleia de criação do NVV aconteceu em 2011. Em breve também será iniciado o atendimento a sobreviventes do suicídio. A partir da execução destas atividades nota-se que há uma significativa mudança da visão de todos os envolvidos a respeito do suicídio. Tabus e mitos são diminuídos e estes se tornam mais sensíveis ao tema. O referido grupo busca tornar os acadêmicos capazes de agir preventivamente, evidenciar fatores de risco e propor abordagens que garantam ajuda para as pessoas que apresentem comportamentos suicidas. Trabalhar com um tema difícil e cercado de tabus torna o trabalho mais árduo, porém mais gratificante. Atuar na prevenção do suicídio torna o profissional em formação mais humano e sensível para diversos problemas que afligem a sociedade. Essa vivência oferece uma forma mais empática de pensar e de entender o outro, com todos os seus problemas e inquietações. É importante ressaltando que ser integrante de um grupo de pesquisa e extensão não prejudica em nada o rendimento acadêmico, só vem a contribuir e enriquecer proporcionando uma formação integral e possibilitando um engrandecimento pessoal, uma lição de vida e melhor convivência com o outro, além de facilitar que o acadêmico perceba que ele é o elo entre teoria e prática e depende dele aproveitar as oportunidades para o fortalecimento e busca de novos conhecimentos, sejam pessoais e profissionais. Pode-se observar que a participação no grupo é uma experiência enriquecedora em que os acadêmicos adquirem conhecimentos e habilidades. Assim, eles desfrutam de uma formação mais ampla, possibilitando que se tornem profissionais capazes de oferecer melhor assistência às pessoas sob seus cuidados. Toda Universidade deve desenvolver e possibilitar a inserção do acadêmico neste contexto (pesquisa e extensão), que se apresenta como uma estratégia útil para aprimorar sua formação.