Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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IDENTIFICAÇÃO DE NECESSIDADES DE SAÚDE – PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS E EQUIPE NA ATENÇÃO BÁSICA
Renata Evangelista Tavares, Florence Romijn Tocantins, Luiz Henrique Chad Pellon, Adriana Lemos

Resumo


Caracterização do problema: A Atenção Básica orienta-se pelos princípios da universalidade, acessibilidade, integralidade e equidade da atenção e da assistência em saúde. O conjunto desses princípios deve subsidiar as ações desenvolvidas pela equipe de saúde, o que significa que esta deve estar e ser permanentemente preparada para assistir a população, de modo a atender suas necessidades de saúde. O enfermeiro como integrante dessa equipe apresenta, como uma de suas competências profissionais, identificar as necessidades individuais e coletivas de saúde da população, seus condicionantes e determinantes. No contexto da Atenção Básica as necessidades de saúde não devem ser abordadas apenas numa perspectiva individual, mas também de uma forma mais ampliada, no qual são reconhecidas dimensões de determinantes e condicionantes sociais, especialmente o estilo de vida da população. Teve-se como desafio estruturar uma estratégia com a finalidade reconhecer as necessidades de saúde de uma determinada população como subsidio para o desenvolvimento de assistência e consequente oferta de serviços. Descrição da experiência: Enquanto acadêmica de Enfermagem, tive a oportunidade de participar do desenvolvimento de uma estratégia para identificar necessidades de saúde. A estratégia envolveu duas etapas principais tendo por referencia a população que reside na área de abrangência de uma Unidade Básica de Saúde tradicional, tendo como território dois bairros, além de cinco favelas. A primeira etapa da atividade consistiu de uma entrevista junto a usuários que procuravam a Unidade para uma consulta, agendada ou não. Procurou-se: identificar o perfil desse usuário (idade, cor, religião, profissão/ocupação, situação conjugal, filhos), conhecer suas condições de vida (bairro de moradia, tipo de imóvel, se na residência existe abastecimento de água própria para consumo, energia elétrica, tipo de esgoto e coleta de resíduos sólidos), além de solicitar a sua opinião acerca do atendimento, englobando também a atribuição de uma nota e sugestões. Além disto, os usuários foram perguntados quanto a orientações oferecidas pelos profissionais de saúde e quem as deram; buscou-se ainda obter informações quanto ao horário de funcionamento da Unidade e serviços oferecidos. A segunda etapa englobou o acesso a informações do território e sua população em base de dados da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC-RJ), incluindo o Módulo de Recuperação de Informações (MOREI). Esta etapa teve como propósito conhecer indicadores sócio-demográficos e epidemiológicos da região de abrangência da Unidade. Efeitos alcançados: Foi possível traçar como perfil da população entrevistada a predominância de mulheres idosas; quanto à religião, 45% correspondem a católicos; 40% se declaram brancos; 60% se dizem solteiros; 50% têm um filho; 80% residem no bairro de Copacabana; 52% dizem morar em casa e 48% em apartamento, com acesso a água potável, rede de esgoto, coleta de lixo e energia elétrica, dentre estes imóveis 88% possuem mais de três cômodos. Como profissão/ocupação, predominou a situação de dona de casa, empregada doméstica, vendedor, fotógrafo, aposentado, telefonista e estudante. A maioria declarou que busca o atendimento ginecológico; 76% receberam alguma orientação de um profissional médico e 53% destas orientações eram quanto ao uso de medicações. Quanto ao atendimento na Unidade, foi atribuída a nota média oito, com sugestões com foco no serviço institucional e a atuação do profissional de saúde. As sugestões para o serviço institucional perpassam por aspectos relacionados à diminuição do tempo de espera pelo atendimento e ampliação do horário de funcionamento da Unidade; quanto às com foco no profissional de saúde: aumentar o quantitativo de médicos e melhorar o atendimento prestado por este profissional. Os dados detalhados a seguir referem-se ao levantamento em base de dados. A área de abrangência possui população com aproximadamente 57,6% de mulheres e os idosos correspondem a 26%. Houve insuficiência de informação específicas quanto à região administrativa da Unidade Básica de Saúde, o que levou a optar por coletar dados referentes à sua área programática, correspondente à zona sul da cidade do Rio de Janeiro. A área programática 2.1 possui 638.440 habitantes (2000); em 2000 a renda média era de R$1.619,74, superior à renda média da cidade do Rio de Janeiro; a Rocinha, entretanto, apresentou uma renda média muito inferior: R$219,95; a taxa de alfabetização dos moradores é de 98%, e acima da média da cidade (93%). O Índice de Desenvolvimento Humano é um dos melhores, comparado com outras áreas programáticas; a Esperança de Vida ao Nascer em Copacabana é de 77,8 anos; a média de anos de estudo (formal) da população que reside em Botafogo, Copacabana e Lagoa é de 10 anos, superior a média da cidade (6,8 anos). O horário de funcionamento/atendimento na Unidade é de segunda-feira à sexta-feira das 7 às 17 horas e aos sábados de 8 às 12 horas; Esta oferece serviços voltados para a saúde de grupos da população por ciclo vital (adultos, mulheres e crianças) e a porta de entrada ocorre mediante acolhimento, feito por uma enfermeira, com orientações e encaminhamentos do usuário, para: farmácia, serviço de imunização, programa de hipertensão e diabetes, odontologia, além do serviço de medicina alternativa. Oferecem também atendimento educativo em grupo, com equipes multidisciplinares. O conjunto de informações obtidas permite apontar como necessidades de saúde da população de abrangência da Unidade, entre outros, a assistência multiprofissional e o acesso a serviços sociais e saúde que contemplem a vulnerabilidade para agravos crônico-degenerativos. Recomendações: Se há um número maior de mulheres as ações de saúde devem estar voltadas prioritariamente para este grupo da população; da mesma forma, e considerando a população idosa, não se deve perder de vista à atenção a prevenção de doenças crônicas. Desta forma, a equipe de saúde deve estar atenta para que a atenção a necessidades de saúde reflita a perspectiva individual e coletiva da população e expresse de modo concreto subsídios para a assistência e oferta de serviços. Faz-se relevante incentivar no cotidiano do estabelecimento das ações assistenciais da Unidade de Saúde, a participação dos usuários, para que os profissionais de saúde desenvolvam ações de atenção e assistenciais, apoiados no princípio da integralidade, direcionadas para as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade.