Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
IMPLEMENTAÇÃO DA CLÍNICA AMPLIDADA NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TDAH
Camila Pasetto, Laura Gorski, Camila Agrelli Carneiro, Julia Costa Rosa, Luciana de Sousa Santos, Luiz Renato Ribeiro de Azevedo, Maria Eduarda Pianaro Chemin, Olívia Martins da Silva, Renata Rivabem, Rozeli de Fátima Pissaia Gabardo Pereira, Susana Brunow Ventura

Resumo


O Hospital Infantil Waldemar Monastier é estadual, público, 100% SUS, especializado em pediatria e é localizado em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba-PR. Inaugurado em 2009, dispõe de 141 leitos, distribuídos em UTI’s neonatal e pediátrica, leitos de pediatria clínica, cirúrgica e psiquiátrica, Ambulatórios de Especialidades e Multidisciplinar e Pronto Socorro. Em maio de 2011 foram encaminhados para o Ambulatório Multidisciplinar pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que eram atendidos no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS II) de Campo Largo. Isto ocorreu pelo desligamento do psiquiatra do CAPS II, responsável por esse serviço no município. Inicialmente, o atendimento era realizado por diversos profissionais individualmente, mas, percebeu-se que a procura era somente pela obtenção de receita médica, ignorando-se a importância de um acompanhamento mais abrangente. No decorrer dos atendimentos, constatou-se que se tratava de uma questão mais complexa, em que as intervenções medicamentosa e multidisciplinar no formato proposto não seriam suficientes para resolver e/ou amenizar os impactos do TDAH e suas comorbidades. Buscando melhorar qualidade e eficiência dos atendimentos, encontrou-se no dispositivo da Política Nacional de Humanização a “Clínica Ampliada”, base para uma intervenção mais completa e coerente, na qual a somatória de saberes de todos os sujeitos envolvidos no processo de saúde - profissionais, família, escola, criança/adolescente - seja considerada. Assim, os profissionais passaram a atender em conjunto, na mesma sala, proporcionando uma escuta diferenciada do paciente e maior interação entre os sujeitos que somam seus saberes. Inicialmente o Apoio Administrativo faz o agendamento das consultas, as quais são às segundas-feiras, das 13h às 16h, sendo 2 iniciais e 3 retornos. Previamente a Pedagoga contata a Secretaria de Educação para conhecer a escola da criança a ser atendida. Solicita à escola o preenchimento e envio por e-mail de relatórios (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM – IV e Escala de Conners). A criança é acompanhada pelo responsável e o atendimento, do qual participam se da por toda equipe envolvida sendo realizada em círculo. A consulta inicial dura cerca de uma hora. Conforme o relato da família, a anamnese é preenchida inicialmente por um profissional e complementada pelos demais. Toda a equipe faz questionamentos e pontuações. Durante a consulta: - A Enfermeira faz tomada de massa, altura, cálculo de IMC, temperatura e pressão arterial. Questiona e orienta sobre necessidades humanas básicas e fatores de risco prejudiciais à saúde; estimula e orienta a família sobre alimentação saudável e higiene. - A Farmacêutica acompanha o tratamento farmacológico para detectar Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM), prevenindo e resolvendo PRMs reais e potenciais (ex.: reações adversas e interações medicamentosas). - A Fisioterapeuta observa o desenvolvimento neuropsicomotor e possíveis agravos funcionais, indicando tratamento fisioterapêutico ou psicomotor se necessário e orienta quanto à prevenção de agravos. - A Fonoaudióloga observa a comunicação oral e escrita e prováveis alterações de linguagem, encaminhando para tratamento se necessário. - A Psicóloga faz avaliação psicodiagnóstica junto com a equipe, orienta e intervém a respeito do comportamento do paciente e da relação familiar, encaminhando para atendimento psicológico, se necessário. - A Pedagoga verifica se o aluno frequentou ou frequenta Sala de Recursos, Classe Especial, Sala de Apoio à Aprendizagem ou algum tipo de reforço escolar; orienta a família sobre possibilidades de a criança frequentar aulas de recuperação no contraturno escolar e, caso haja defasagem idade/série, verifica quais foram às séries que repetiu, bem como se as dificuldades foram sanadas. - A Assistente Social verifica se a família utiliza ou já utilizou os serviços da rede sócioassistencial. Diante da necessidade são realizados os devidos encaminhamentos para a mesma. - A Estagiária de Psicologia anota dados da entrevista para elaborar estudos futuros sobre a evolução das crianças e outros estudos correlatos. - O Psiquiatra faz avaliação diagnóstica e indicação terapêutica através da anamnese e do exame psiquiátrico das funções psíquicas. Salienta-se que, nas perguntas de diferentes profissionais, nuances são percebidas, possibilitando importantes intervenções e/ou encaminhamentos diversos. Ao final, é preenchido o Plano Terapêutico para aquela criança, onde constam as atividades de que ela participará, diagnóstico do encaminhamento, hipótese diagnóstica levantada pela equipe, medicação e demais encaminhamentos. As atividades são recomendadas conforme a necessidade percebida pela equipe e a disponibilidade de agenda. São ofertados serviços de: Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicomotricidade Relacional, Acompanhamento Pedagógico, Nutrição, Serviço Social e Grupos de Leitura/Escrita, de Pais, de Psicologia e de Psicomotricidade Relacional. Iniciaram-se visitas às escolas dos pacientes. Estas são feitas pela Pedagoga e pelos profissionais que realizam os atendimentos indicados para aquele caso, com o intuito de troca de informações, orientações e parcerias, para que a evolução da criança seja satisfatória e o trabalho dos profissionais de saúde e da educação facilitado, já que são complementares. Os retornos são discutidos e são elencados os casos mais emergentes e complexos para acompanhamento. Os demais retornam ao Psiquiatra e à Farmacêutica, para monitoramento do tratamento medicamentoso e observação da evolução; se necessário, voltam à consulta conjunta para ajustes no plano terapêutico. Esta experiência trouxe reflexões e tomadas de decisão acerca da anamnese, relatórios enviados e respondidos pelas escolas, assim como deu início à quebra do paradigma diagnóstico/médico/doença/remédio, diante da visão multidisciplinar. Os usuários começam a confiar na equipe, falam da sua realidade e expectativas para além do diagnóstico, aderem melhor ao plano terapêutico, pois os vínculos criados propiciam liberdade para opinar e decidir acerca do tratamento, implicando assim na co-responsabilização diante do mesmo. Até o momento foram realizados cerca de 150 atendimentos e aproximadamente 95% das crianças encaminhadas são meninos de 8 a 12 anos. O conceito de saúde presente nas diretrizes do SUS visa qualidade de vida dos sujeitos singulares, e essa singularidade precisa ser considerada para descobrirmos como ofertar esta saúde e qualidade. Não se resolve o problema da criança apenas com medicamento, é necessário parceria entre profissionais, escola e usuários. A proposta é nova, ajustes ainda ocorrem. Necessita-se reestruturar espaço, otimizar agendas, viabilizar pessoal e aprofundar a pesquisa. Mas, já se pode afirmar que é possível tornar o atendimento mais coerente, humano e resolutivo.