Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Educação em sala de espera do ambulatório especializado: experiência do residente em enfermagem no cuidado a portadores da doença renal crônica
Amanda Liliane Chaves da Costa, Frances Valéria Costa e Silva, Lidiane Passos Cunha, Denise Rocha Raimundo, Gesiane Pires Ivo, Rachel Bregman

Resumo


Caracterização do problema: A doença renal crônica (DRC) é uma síndrome caracterizada pela perda lenta e irreversível da função renal1. Sua prevalência é crescente, sendo problema impactante tanto no plano individual como coletivo. Diagnóstico e tratamento precoces podem retardar a necessidade de terapia renal substitutiva, mas sua instituição demanda mudanças em hábitos e estilos de vida cuja adesão é limitada. Estratégias facilitadoras da comunicação entre equipe cuidadora e usuários do serviço podem favorecer o empoderamento dos últimos acerca de seu estado de saúde e promover adesão ao plano terapêutico. Para tal é possível lançar mão de atividades educativas em sala de espera, recurso útil na troca de conhecimento entre pessoas que vivenciam situações semelhantes e tendo como mediadores os profissionais da saúde3. A habilitação de profissionais para a condução de processos educativos capazes de promover o empoderamento da clientela acometida por doenças crônicas exige estratégias de formação diferenciadas, onde a prática é contraposta a discussões no campo teórico, que direcionam sua reconstrução no cotidiano dos serviços de saúde. Neste sentido, a especialização profissional no formato de residência pode oferecer solo fértil para semear idéias e testar estratégias no campo da educação em saúde, fato ocorrido no contexto de um curso de especialização em enfermagem na modalidade de residência, especificamente no programa de enfermagem em nefrologia. Tendo como cenário um hospital universitário público situado no Rio de Janeiro, que tem como missão “prestar assistência integrada, humanizada e de excelência à saúde, sendo agente transformador da sociedade através do ensino, pesquisa e extensão”, a Residência de Enfermagem está ligada a uma unidade acadêmica de uma universidade pública e constitui modalidade de ensino de pós-graduação lato-sensu, destinada a enfermeiras (os), sob a forma de curso de especialização, sendo o programa de nefrologia desenvolvido junto a uma unidade docente assistencial (UDA) com a mesma denominação. O modo operativo deste programa tem como campos obrigatório de prática as unidades de internação em nefrologia e os ambulatórios de terapias renais substitutivas (hemodiálise e diálise peritoneal), oferecendo os ambulatórios de tratamento conservador da função renal e de pré e pós transplante como opções para aprofundamento de formação. Nesses espaços, o enfermeiro residente conta com suporte de professores e preceptores para seu desenvolvimento prático e reflexão sobre sua prática. Destaca-se neste trabalho a inserção do residente no ambulatório de tratamento conservador, cuja dinâmica de funcionamento favorece a aproximação entre residentes de enfermagem e alunos de graduação e pós graduação, tanto da enfermagem quanto de outras áreas profissionais, ampliando espaços de troca e contribuindo com a construção coletiva do saber. Descrição da experiência: Este trabalho tem como objetivo descrever a experiência das residentes de enfermagem que utilizam a dinâmica da sala de espera como estratégia de educação na assistência aos portadores de doença renal crônica, em um ambulatório de especialidades. Para tanto, as ações são desenvolvidas no período que antecede o atendimento, em um ambulatório de voltado a portadores de DRC de um hospital universitário. O espaço oferece atividades de cunho assistencial, ensino e pesquisa em saúde, além da extensão universitária. A possibilidade de criar intervenções que transcendem o limite dos consultórios hospitalares, envolvendo família e outros grupos sociais na discussão de modos de viver que podem atenuar ou agravar a condição vivenciada pelos portadores da DRC possibilitou o desenvolvimento de projetos de extensão neste cenário, introduzindo alunos de graduação como co-participantes no desenvolvimento de ações educativas. Uma vez que o serviço oferece consulta médica, de enfermagem e de nutrição com uma média de espera pelo atendimento de 100 minutos, são desenvolvidas atividades educativas durante a espera pelo atendimento, cujo foco está nas questões relacionadas ao funcionamento dos rins, a doença renal crônica e medidas de promoção da saúde. Efeitos alcançados: Embora a clientela da sala de espera não se conheça, a atividade promove um processo participativo com troca sobre experiências comuns, maneiras de cuidados com o corpo, suas aflições, suas doenças, a qualidade do atendimento na instituição e da vida cotidiana. Atividades educativas em grupo são frequentemente utilizadas em serviços básicos de saúde, mas a experiência mostra benefícios em unidades de cuidados especializados. Para tal é necessário habilidades no manejo de saberes e relação com o outro. A interação com os profissionais de saúde favorece o cumprimento da terapêutica e a identificação dos sinais de agravamento da doença. Para o residente de enfermagem a ação contribuiu para sedimentar sua formação no campo da especialidade, bem como na prática da promoção da saúde. Contribui ainda no desenvolvimento de habilidades complexas, quer seja no cuidado efetivo a clientela, quer seja no suporte ao aluno da graduação.Recomendações: O grupo de sala de espera é um recurso para a educação em saúde, que implica no manejo de saberes, na relação e em formas de cuidados. Essa atividade inerente à enfermagem, a qual contribui para a promoção da saúde, prevenção de agravos e encaminhamentos para outras atividades em saúde, precisa ser estimulada e adotada como um recurso teórico e prático, problematizador na formação do enfermeiro3. A prática de ensino-aprendizagem possibilita desenvolver capacidade de comunicação, interação com o cliente e práticas educativas. Profissionais de saúde inseridos em treinamento em serviço na modalidade de residência devem lançar mão de estratégias tradicionalmente utilizadas na atenção básica. Práticas educativas em grupo de sala de espera tem se mostrado benéficas para residentes e usuários na medida em que desenvolvem a capacidade de comunicação e favorecem a interação profissional e usuário do serviço. Referencias: National Kidney Foundation Kidney Disease Outcome Quality Initiative. Clinical practice guidelines for chronic kidney disease: evaluation, classification, and stratification. Am J Kidney Dis. 2002;39 S1-266. Silva FVC, Avesani CM, Scheeffer C, Lemos CCS, Vale B, Silva MIB, Bregman R. Tratamento da Doença Renal Crônica: Estratégias para o Maior Envolvimento do Paciente em seu Auto-Cuidado J Bras Nefrol 2008;30(2): 83-87 Teixeira ER, Veloso RC. O GRUPO EM SALA DE ESPERA: TERRITÓRIO DE PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES EM SAÚDE. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Abr-Jun; 15(2): 320-5