Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Educação em Saúde Participativa e Promoção de saúde sexual e reprodutiva: oficinas em sexualidade para adolescentes por eles!
Helena Maria Campos, Isabella Campos Araújo, Maria Carmo Fonseca, Virgínia Torres Schall

Resumo


A participação juvenil, o trabalho em grupos e ações intersetoriais configuram-se como estratégias com potencial para a promoção de saúde de adolescentes.A Adolescência é uma fase da vida que tem características próprias, marcada pela passagem da infância para a idade adulta, com mudanças físicas e emocionais, inclusive no campo da sexualidade, vivenciada de formas diferenciadas por cada sujeito, em cada sociedade, num determinado tempo histórico.Portanto, a adolescência exige um olhar específico às suas particularidades e um cuidado zeloso a cada adolescente.“A garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos dessa população é uma questão de direitos humanos e propicia o pleno exercício do direito fundamental à saúde”(BRASIL, MS, 2007, p.7). O objetivo do presente estudo foi desenvolver uma proposta de educação em saúde compartilhada com os próprios adolescentes para promover a saúde sexual e reprodutiva a seus pares, pois “o fato é que não é possível pensar saúde sem pensar em educação e as relações existentes entre ambas”. (GAZZINELLI, PENNA, 2006, p.11).Acredita-se como Freire (1999, p.7), na “sexualidade como possibilidade e caminho de alongamento de nós mesmos, de produção de vida e de existência, de prazer e de boniteza, que exige de nós essa volta crítico-amorosa, essa busca de saber de nosso corpo, estando e sendo autenticamente no mundo e com o mundo abertos e responsáveis aos mistérios da vida”.A Educação em sexualidade aqui proposta baseia-se nas novas concepções de educação, no paradigma comunicacional que tem foco nas interações sociais e na perspectiva relacional em contraposição ao modelo transmissionista,conteúdista e linear.É fundamentada nos quatro pilares da educação (DELORS, 1996): aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver, pois a educação pode possibilitar a cada um, descobrir-se a si mesmo, só então cada um poderá se por no lugar do outro, desenvolvendo a compreensão de si e do outro, o respeito à pluralidade de ideias, à diversidade de expressões, crenças, valores e relações, além de desenvolver a capacidade de solucionar os conflitos através do diálogo e da realização de projetos comuns. Na primeira fase da pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou-se entrevistas semi-estruturadas como instrumentos de coleta de dados e a analise de conteúdo (BARDIN,1977) para interpretação das informações. Realizou-se entrevistas individuais com 23 adolescentes, do sexo masculino e feminino, de idade entre 15 a 19 anos nas três escolas estaduais selecionadas em Belo Horizonte, levantando-se temas relacionados à sexualidade que consideram relevantes e sugestões de atividades. Os temas apontados por eles foram: Ficar e Namorar “Eu acho que é muito mais a questão do namoro e do ficar, por que eu acho que hoje em dia é muito mais comum ficar e namorar do que o sexo assim...” (Adolescente, sexo feminino, 15 anos), sexo, sexualidade, “a primeira vez”, gravidez na adolescência, métodos contraceptivos, DSTs/AIDS, uso do preservativo masculino e feminino, “Muito interessante o uso da camisinha, muito adolescente usa a camisinha incorretamente. E pra mulher também porque tem a camisinha feminina. Ou então aquele tal de, acho que a mulher toma um remédio, num sei o que...” (Adolescente, sexo masculino, 18 anos), valorização do corpo, cuidado com a saúde, prevenção “Ah eu acho que é mais a prevenção mesmo que têm tanta coisa acontecendo... mais ensinar como que usa sabe? Pra prevenir doenças, gravidez” (Adolescente, sexo feminino, 18 anos), diversidade sexual “É igual eu falei o importante é a questão da diversidade sexual, é uma coisa muito estranha, é uma coisa muito de outro mundo sendo que não é... lá na sala tem um que é homofóbico, (risos), entendeu? eu já falei com ele: você vai apanhar muito na vida” (Adolescente, sexo masculino, 17 anos) e convivência. Na maioria das narrativas os adolescentes indicaram a necessidade de maior conhecimento sobre sexualidade e atividades participativas e dinâmicas “Eh... assim igual eu acho que deveria ser de uma forma mais dinâmica, eu acho que geralmente quando as pessoas chegam e fazem palestra a maioria do povo da escola não presta muita atenção” (Adolescente, sexo feminino, 15 anos), com envolvimento entre as pessoas “Acho que este tipo de coisa que cê ta fazendo, ajudando, me perguntando, se envolvendo no meio de nós, a gente fica até mais a vontade de participar, é bacana vir alguém aqui e fazer perguntas pra gente, a gente acaba aprendendo. Tem que ter mais pessoas assim” (Adolescente, sexo masculino, 18 anos), interação, diálogo, troca de experiências, utilizando-se de vídeos, músicas “Todo adolescente é obsecado por musica, pela primeira vez, é filme, adora ficar contando filme” (Adolescente, sexo feminino, 15 anos ).Esse levantamento dos temas de interesse e atividades indicadas pelos adolescentes nas entrevistas conduziu à proposta de elaborar um material educativo compartilhado com os alunos protagonistas do Programa de Educação Afetivo-sexual (PEAS) em uma das três escolas participantes da pesquisa. Houve a adesão de todos os alunos convidados, que consideraram a proposta importante e relevante para a vida dos jovens e solicitaram a inserção de novos temas: convivência com os amigos e com a família, relação entre homens e mulheres e projetos de vida.Portanto,na segunda fase da pesquisa produziu-se um material educativo com 22 adolescentes de 15 a 18 anos de idade, no período entre abril e maio de 2011, durante oito encontros com duração de 3 horas cada. As oficinas em sexualidade são endereçadas aos próprios adolescentes, construído para eles e por eles, pois existem múltiplas motivações na conversa com interlocutores da mesma faixa etária e uma preferência em procurar o grupo de pares na fase da adolescência (HEILBORN,2006;GOMES,2009). Para o adolescente o grupo onde se insere ganha importância nesse período de vida com consequências para a constituição de sua identidade.Optou-se por realizar oficinas considerando o potencial dessa metodologia de intervenção psicossocial aplicada ao contexto da saúde como atestam os trabalhos de AFONSO et al. 2003 e SOARES,FERRAZ, 2007.O Material educativo constitui-se por 11 oficinas em sexualidade: Adolescência e Amigos; Adolescência e Família; Adolescência e Projeto de Vida; Adolescência e Relações de Gênero; Afetividade e Sexualidade; Direitos Sexuais e Reprodutivos; Diversidades, Identidades e Orientações Sexuais; Eu os Outros e nossa Convivência; Ficar e Namorar; Iniciação Sexual e Saúde Sexual e Reprodutiva. Esses adolescentes apontam a relevância do diálogo, da escuta, além de transformação em suas vidas e ampliação de conhecimentos durante o processo de construção das oficinas: “E enquanto fazíamos as oficinas... onde durante os debates, estimulados a desenvolvermos reflexões, acolhermos os outros e suas ideias, saímos com a certeza de que tínhamos sofrido uma transformação, alguém havia nos ajudado a nos compreendermos melhor, e a darmos um valor maior para a nossa sexualidade”(Adolescente, sexo masculino). Essa experiência indicou o potencial criativo e solidário de adolescentes como promotores de saúde, a capacidade de refletir criticamente, produzir conhecimentos sobre a vida afetiva e sexual. Essa pesquisa põe em evidência o fato de que a educação tecnicista e fundamentada apenas na informação verticalizada não atende a necessidade e desejos dos adolescentes, assim como não promove a saúde sexual e reprodutiva desse grupo específico.Os adolescentes entrevistados apontam que a educação que desejam deve propiciar a construção participativa do conhecimento abordando aspectos afetivos para além da cognição e envolvendo outros atores sociais, principalmente a família e a comunidade.As oficinas serão ainda replicadas com outros grupos, estimulando a participação juvenil enquanto estratégia promotora de saúde que favoreça o desenvolvimento da autoestima, a autonomia e a emancipação, conjugando liberdade com responsabilidade individual e coletiva.