Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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MEDICAMENTOS PRESCRITOS EM GESTANTES EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE, CASCAVEL-PR
Ligiane Lourdes Silva, Juliano Marcel Santos, Juliana Beal Menegotto, Patricia Kanae Yamashita, Layse Fernada Antonio Souza, Izabel Cristina Carnaval Chitolina

Resumo


Introdução: O uso de medicamentos na gestação merece especial atenção pelos riscos potenciais ao feto em desenvolvimento, devendo ser, por princípio, evitada, já que a maioria dos fármacos administrados a mulheres grávidas atravessa a barreira placentária e expõe o embrião em desenvolvimentos a seus efeitos farmacológicos. Após a tragédia da talidomida ocorrida entre 1950 e 1960 a utilização de medicamentos por gestantes e seus efeitos sobre o feto passou a ser objeto de grande preocupação. A gravidez é uma ocasião única, dado que a exposição de um afeta dois organismos, sendo que um deles (o feto) ainda não tem a mesma capacidade de metabolizar substâncias que a mãe, estando assim, mais sujeito a efeitos negativos não esperados. Os fármacos que são reconhecidos como teratogênicos representam um grupo relativamente pequeno, englobando menos de 30 medicamentos no mercado. (Mellin, et al, 1962). O que deve ser observado é se os benefícios obtidos a partir do uso do medicamento superam os possíveis riscos causados tanto à mãe quanto ao feto e se realmente há a necessidade do uso de determinado medicamento a durante a gravidez. Os efeitos nocivos sobre o feto dependem das características do fármaco ou substância, da paciente, período gestacional e da frequência utilizada. Na maioria dos medicamentos, o seu potencial teratogênico é desconhecido, o que pode acarretar alterações na fisiologia e na morfologia do feto, em maior ou menor complexidade. (Mengue, et al, 2001). E essas alterações ocorrem principalmente quando o medicamento com potencial teratogênico é utilizado ainda no primeiro trimestre de gestação, a qual é o período de diferenciação embriológica. Já nos demais trimestres podem ocorrer alterações na fisiologia da gestante e no desenvolvimento do feto. Os estudos epidemiológicos estão sendo utilizados para proteger as mães e seus filhos de riscos necessários, tendo em vista que não há como abster gestantes do uso de medicamentos, e por consequência, a exposição dos fetos aos riscos inerentes a uma terapia medicamentosa. (Carmo, 2004). A partir de vários estudos sobre o tema, foi possível a classificação dos medicamentos em categorias de risco para o uso na gestação, facilitando na orientação dos prescritores de quais medicamentos prescrever e, principalmente, quais medicamentos não prescrever durante a gestação. Com o propósito de orientar o prescritor na escolha terapêutica mais adequada para uma gestante, a agência americana Food and Drug Administration (FDA) classificou os fármacos quanto aos efeitos na gestação em categorias de risco A, B, C, D e X. Categoria A, foram incluídos os medicamentos que, em estudos controlados em gestantes, não demonstram risco para o feto durante a gravidez. Categoria B, aqueles em que os estudos em animais não demonstraram risco fetal, mas também não existem estudos controlados em mulheres grávidas; ou aqueles cujos estudos em animais mostraram risco, não confirmado em estudos controlados em gestantes. Categoria C, aqueles em que não foram realizados estudos em animais ou mulheres grávidas; ou então, os estudos em animais demonstram risco fetal, mas não existem estudos disponíveis realizados em mulheres grávidas. Categoria D, aqueles com evidências positivas de risco fetal humano, porém os benefícios potenciais para a mulher grávida podem, eventualmente, justificar seu risco. Categoria X inclui os medicamentos contraindicados na gestação, pois estudos em animais e em mulheres grávidas demonstraram clara evidência de risco fetal. O risco para o feto supera qualquer benefício possível para a gestante. Metodologia: Foi realizado um estudo retrospectivo sobre o padrão de prescrição de medicamentos de gestante, os dados foram obtidos de prontuários de gestantes cadastradas no Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) de uma Unidade Básica de Saúde, no município de Cascavel-PR, durante o período de janeiro de 2010 a maio de 2011. Os dados observados foram relacionados a idade gestacional e os medicamentos prescritos e foram classificados até o segundo nível da classificação Anatomical Therapeutic, Chemical (ATC) e quanto risco pela Federal Drugs and Foods Administration (FDA). Resultados: Das 61 gestantes cadastradas, a idade variou entre 13 e 43 anos, com média de 24,3 anos, com maior ocorrência (37%) entre 19-24 anos. Destacam-se como as enfermidades mais freqüentes as ligadas ao sistema geniturinário (34%), sistema nervoso (32%) e sistema digestório (16%). A média de prescrição foi de três medicamentos por gestante, de um total de 170 prescrições, sendo que 65% foram prescritos no primeiro e 27% no segundo semestre de gestação, destacando-se os anti-infecciosos (16%), dentre eles a cefalexina e antiespasmódicos (15%). Em relação ao risco, segundo a FDA, 35% pertenciam a categoria B e 23% a categoria C, somente 12 % na categoria A, a qual não oferece risco ao feto. A associação butilbrometo de escopolamina/dipirona sódica foi prescrita a 12 pacientes, a dipirona atravessa a barreira placentária e pode causar danos ao feto durante o primeiro trimestre gestacional, assim o seu uso deve ser restrito e substituído quando necessário pelo paracetamol que é o analgésico eleito para uso durante a gravidez. (Mengue, et al, 2001). De acordo com a classificação da ATC, 16% dos medicamentos utilizados pertenciam a classe J01 (anti-infecciosos sistêmicos); 15% a classe A03 (antiespasmódicos e anticolinérgicos); 13% a classe N02 (analgésicos) e também 13% a P01(antiprotozoários). Conclusão: O uso racional de medicamentos é indispensável para garantir a qualidade e eficácia de um tratamento medicamentoso. A utilização de medicamentos durante a gestação deve ser analisada e acompanhada minuciosamente para diminuir os riscos e possíveis consequências ao feto e à gestante. É de extrema importância que a equipe de profissionais da saúde tenha conhecimento dos medicamentos usados na gestação, bem como o conhecimento de seus efeitos adversos e correlação com os períodos críticos da gestação. Tais conhecimentos podem ser direcionados ao planejamento e intervenções educativas dirigidas a gestantes e aos profissionais de saúde e, desta forma, proporcionar maior segurança quanto à utilização racional de medicamentos durante a gestação. Referências Bibliográficas: Mellin GW, Katzenstein M. The saga of Thalidomide (conclude): neuropathy to embryopathy, with case reports of congenital anomalies. N Eng J Med 1962; 267: 1238-44. Mengue SS, Schenkel EP, Duncan BB, Schmidt MI. Uso de medicamentos por gestantes em seis cidades brasileiras. Rev Saúde Pública 2001; 35: 415-20. Carmo TA, Nitrini SMOO. Prescrições de medicamentos para gestantes: um estudo farmacoepidemiológico. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro; 2004, 20(4): 1004 - 1013, jul-ago.