Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Educação permanente e práticas comunicativas no trabalho das Agentes Comunitárias de Saúde: um espaço de produção de acolhimento e cuidado
Larissa Beatriz do Carmo Moreira, Rodrigo Carvalho Paulino da Costa, Adriana Kelly-Santos

Resumo


Caracterização do problema: Segundo a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e a Portaria n° 1.996, de 20 de agosto de 2007, a Educação Permanente (EP) é um espaço de instituição de relações entre ensino-ações-serviços para provocar transformações das práticas técnicas e sociais. Para tal, utiliza-se de estratégias pedagógicas centradas na resolução de problemas do cotidiano das equipes de saúde pautadas pelas necessidades das pessoas e das comunidades. A EP se insere de forma institucionalizada no processo de trabalho, gerando compromissos entre os trabalhadores, gestores, instituições de ensino, movimentos sociais e usuários para a consolidação e desenvolvimento do SUS. O projeto pedagógico do curso de Medicina de uma Instituição Federal de Ensino Superior prevê a inserção discente desde o início da graduação em Unidades de Básicas de Saúde da Família (UBSF). Durante a supervisão de uma dessas atividades, a docente que integra a autoria deste trabalho observou lacunas no processo de formação das ACS, o que comprometia suas práticas comunicativas, em especial, no que se referia ao acolhimento e cuidado à saúde prestados à comunidade assistida. Considerando-se que a articulação entre academia-serviços de saúde- comunidade possibilita a construção de espaços de formação-integração de profissionais de saúde e alunos, iniciou-se o projeto de extensão com interface em pesquisa intitulado “Práticas comunicativas na Estratégia da Saúde da Família: o papel do Agente Comunitário de Saúde no acolhimento e cuidado aos usuários do Sistema Único de Saúde”. O presente resumo, objetiva descrever a realização de oficinas de leitura e vivência de técnicas grupais na construção de espaços de EP entre as ACS e os alunos. Descrição da experiência: Trata-se de um projeto de extensão-pesquisa, desenvolvido em uma UBSF de Viçosa-MG e iniciado em fevereiro de 2011. Esta unidade localiza-se em um bairro periférico, abriga duas equipes de Saúde da Família, cada qual composta por seis (06) Agentes Comunitárias de Saúde, uma (1) Técnica de Enfermagem, um (1) Enfermeiro, uma (1) Médica, uma (1) Técnica em Higiene Bucal e uma (1) Dentista. As ACS integram o estudo pelo seu papel mediador entre serviço-comunidade e pelo lugar estratégico da comunicação nas atividades que elas realizam (Kelly-Santos, 2010). A coleta dos dados foi efetuada por meio da técnica de observação participante de oficinas de leitura e vivência de técnicas grupais. Até o presente momento, realizaram-se oito (8) oficinas, são elas: Pactuação do projeto e Identificação de demandas; Biografia; Planejamento, Execução e Avaliação da Feira de Saúde “Na medida certa”; Discussão do texto “Equipe em Construção”; Sensibilização para a prevenção ao câncer de colo do útero; Vivência corporal; Análise de materiais educativos; e Estratégias de Educação em Saúde. O registro dessas observações foi realizado em um diário de campo cuja análise ocorreu em reuniões da equipe executora do projeto. A execução de oficinas de leitura e vivência de técnicas grupais foi uma das estratégias empregadas para compreender as práticas comunicativas vigentes entre os sujeitos investigados. A realização destas possibilitou refletir sobre as relações interpessoais, características e valores comuns da equipe. Nas oficinas criou-se espaços de discussões sobre a forma como cada ACS identifica o seu papel como pessoa, membro da comunidade e profissional de saúde, e, a partir daí, como ela constrói a sua prática profissional e social, além da sua relação com os membros da equipe e a comunidade. As vivências grupais evidenciaram que as práticas de acolhimento e cuidado produzidas pelas ACS vinculam-se ao cuidado de si e na possibilidade de se conhecerem, se escutarem e serem escutadas. Também permitiu planejar, executar e avaliar atividades de promoção à saúde e contextualizar a leitura do texto e a análise de materiais educativos às experiências do cotidiano. Nesse sentido, o processo de capacitação das ACS partiu das necessidades da equipe de saúde e da comunidade. Em algumas atividades, conseguiu-se articular os aparelhos sociais, lideranças comunitárias, usuários, acadêmicos, docentes, profissionais de saúde e órgãos e gestores da saúde pública na produção de práticas de saúde multidisciplinares que asseguram o acesso ao serviço de saúde e, assim, potencializam a produção de acolhimento e cuidado à saúde. Efeitos alcançados: A EP permitiu aos atores envolvidos vivenciar as práticas comunicativas promovidas no contexto da UBSF e elaborar ferramentas teórico-metodológicas que subsidiarão as atividades comunicativas sobre acolhimento e cuidado desenvolvidas pelas ACS. Criou-se um espaço de qualificação da escuta e compartilhamento de saberes e afetos, o que melhorou a convivência da equipe e vem proporcionando o reconhecimento da importância da comunicação no cuidado de si e nas transformações do processo de trabalho. Percebeu-se que algumas ACS, com a aquisição de ferramentas teórico-metodológicas, sentem mais segurança ao abordar os usuários em visitas domiciliares e dentro da unidade. Além disso, notou-se autonomia das ACS na proposição de atividades de promoção à saúde, como a criação de um grupo de caminhada com os idosos e o estabelecimento de uma parceria com a universidade em um programa de atividade física. Recomendações: Sugere-se, na formação dos ACS, o uso de metodologias que problematizem o processo de trabalho, visto que a abordagem das demandas da equipe e da comunidade, durante as oficinas, fomentou a construção de estratégias comunicativas contextualizadas à dinâmica da produção de saúde daquele território. Igualmente indica-se o investimento de estudos no campo da comunicação e saúde na ESF. Referências bibliográficas: Kelly-Santos, A. (2010). Práticas comunicativas na Estratégia de Saúde da Família: o papel do Agente Comunitário de Saúde no acolhimento e cuidado aos usuários do Sistema Único de Saúde (Projeto de Extensão), Viçosa, MG, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Medicina e Enfermagem, Curso de Medicina. Portaria n° 1.996, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília, 2007. Recuperado em 04 de março de 2012 de http: //bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2007/prt1996_20_08_2007.html. A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde – PNEPS (2012). Sobre a Política. Brasília, 2012. Recuperado em 04 de março de http: //portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=26643&janela=1.