Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Educação Permanente Interprofissional como dispositivo para a integração de saberes e desenvolvimento de práticas colaborativas na Estratégia Saúde da Família
Ricardo José Soares Pontes, Ana Ecilda Lima Ellery

Resumo


Introdução. A despeito dos avanços na formação em saúde nos últimos anos, os profissionais continuam a ser formados hegemonicamente dentro da lógica da profissionalização (FURTADO, 2009), com reserva de mercado, disputas de poder e de espaço profissional. Contudo, a complexidade das situações problemas enfrentadas pelos trabalhadores da saúde no seu cotidiano de trabalho exige a colaboração entre os mesmos. A Organização Mundial de Saúde reconhece a educação e a prática da colaboração interprofissional como uma estratégia inovadora que irá desempenhar um papel importante na atenuação da crise dos profissionais da saúde global (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010). A Educação interprofissional ocorre quando estudantes de duas ou mais profissões aprendem sobre cada uma, permitindo a colaboração efetiva e melhorando os resultados da saúde. A educação interprofissional permite a efetivação da prática colaborativa, tornado o sistema de saúde mais forte, melhorando seus resultados (HAMMICK et al., 2007; BARR et al, 2005). Objetivo. Discutir a educação permanente interprofissional como dispositivo de construção de práticas colaborativas na ESF. Método. Estudo de caso, qualitativo. Foram observadas as práticas e realizadas entrevistas abertas com 19 profissionais da ESF e dos programas de residências médica e multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, num Centro de Saúde da Família (CSF), em Fortaleza. Este CSF integra o Sistema Municipal de Saúde Escola de Fortaleza (BARRETO et al, 2006), que está transformado todas as unidades de saúde do município em espaços de ensino, pesquisa e assistência. Resultados. O modelo de educação permanente em saúde adotado no CSF estudado centra-se em trocas interprofissionais, havendo uma aproximação sistemática entre profissionais e estudantes, de diferentes categorias, no desenvolvimento de ações assistenciais e comunitárias, o que vem contribuindo para ampliar a visão dos profissionais sobre o processo saúde, doença e intervenção. Um profissional da saúde que está preparado para a prática colaborativa é alguém que vem aprendendo como trabalhar em um time interprofissional e tem competência para fazê-lo. Um dos programas de formação de trabalhadores para o SUS em funcionamento no CSF estudado é o Programa de Educação para o Trabalho (PET-Saúde), com a participação de estudantes da graduação de diversos cursos superiores. Os profissionais integrantes das equipes mínimas da ESF do referido CSF são preceptores deste programa, como também da residência médica, além de orientarem estagiários de diversos cursos superiores e técnicos da área da saúde. A Educação Interprofissional tem lugar não somente na formação, quando estudantes têm a oportunidade de conviver com estudantes de outras categorias e aprender sobre outras profissões, mas também em relação aos próprios trabalhadores do SUS, na educação permanente. “A existência das residências, do PET, do acompanhamento de alunos das universidades, tanto públicas como particulares, eu acho que isto influencia, estimula aquele profissional a dar mais dele. Eu acho que isto basicamente, na unidade, é o que faz mais diferença (dentista, preceptora do Pet- Saúde). A estruturação do Sistema Municipal de Saúde Escola permitiu o funcionamento no CSF estudado dos programas de residência multiprofissional de Saúde da Família e Comunidade, bem como de programas de melhoria da graduação, como Pró-Saúde e Pet-Saúde, que vêm contribuindo de maneira efetiva para a Educação Interprofissional e a prática colaborativa, conforme atestam inúmeros depoimentos: “A formação da residência, que é interprofissional, é fantástica. Nenhum outro espaço de formação, de pós- graduação, oferece o que esta residência oferece. Principalmente por ser uma residência multiprofissional associada a uma residência médica (assistente social, residente). Políticas integradas de educação e saúde podem promover a educação interprofissional efetiva e a prática colaborativa. Considerações Finais. O conceito de educação permanente em saúde se encontra bem estabelecido no Brasil, sobretudo após a instituição da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), em 2004. A partir dela, a educação dos profissionais de saúde passou a ser considerada como uma ação finalística da política de saúde para o desenvolvimento da qualidade do trabalho, sendo este o aspecto diferencial, configurado sob o conceito político-pedagógico da Educação Permanente em Saúde (CECCIM, 2005). Propomos ser a concepção da educação permanente em saúde ampliada, incorporando a dimensão da interprofissionalidade, de forma a contribuir para a prática em colaboração entre os trabalhadores da ESF. Não podemos prescindir de otimizar a educação permanente, implantando uma sistemática de operacionalização da mesma promotora da interprofissionalidade, compreendida como a síntese da integração de saberes, no plano cognitivo, e pela colaboração interprofissional no nível pragmático (COLET, 2002), processos estes mediados pelos afetos. As estratégias de “educação permanente interprofissional” devem ser planejadas e realizadas não por categorias, mas disseminando oportunidades de trabalho, estudo, pesquisa e reflexões no coletivo dos profissionais, das mais diversas profissões que atuam na atenção primária à saúde. A educação permanente interprofissional vem se configurando como um passo necessário para promover a interprofissionalidade, de forma que os profissionais estejam melhores preparados para construírem juntos um projeto em comum de intervenção e responder às necessidades locais de saúde. Referências BARRETO, I.C.H.C. et al. A educação permanente e a construção de Sistemas Municipais de Saúde-Escola: o caso de Fortaleza (CE). Divulg. Saúde Debate, n. 34, p. 31-46, 2006. BARR H et al. Effective interprofessional education: assumption, argument and evidence. Oxford, Blackwell Publishing, 2005. CECCIM, R.B. Educação Permanente em Saúde: descentralização e disseminação de capacidade pedagógica na saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n.4, p. 975-986, 2005. COLET, NR. Enseignement universitaire et interdisciplinarité. Un cadre pour analyser, agir et évalue. Editions de Boeck & Larcier. S.A., Bruxelles, Belgique. 2002. 216 p. FURTADO, J.P. Arranjos institucionais e Gestão da Clinica: Princípios da Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade. CAD. Bras. Saúde Mental. Vol. 1, no. 01, jan-abr. 2009. HAMMICK, M et al. A best evidence systematic review of interprofessional education. Medical Teacher, 2007, 29: 735–751. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Framework for Action on Interprofessional Education & Collaborative Practice, 64p. WHO, Geneva. 2010.