Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O brincar sob a ótica da criança hospitalizada: Uma proposta para o enfrentamento hospitalar.
Stefanny Maria Santana de Campos, Tatiane Lebre Dias

Resumo


INTRODUÇÃO No ambiente hospitalar, o brincar tende a transformar as enfermarias em um local menos hostil e que permita uma adaptação melhor às novas condições de saúde que as crianças enfrentam. Estratégias como: atividades lúdicas, a utilização de brinquedos e atividades recreativas, diminuem a probabilidade do medo e da ansiedade em relação ao processo de hospitalização (LEITE, 2004).A criança hospitalizada, independente da doença é passível às condutas terapêuticas propostas pelos profissionais de saúde através da realização de exames diagnósticos, ingesta de medicamentos e normas e rotinas rígidas de horários para alimentação, repouso, além da impossibilidade de locomoção e a necessidade de colaboração de outras pessoas (FAVERO, 2007). Segundo Paula (2007) para que o processo de hospitalização não cause tantos transtornos psíquicos à criança, há necessidade de uma estratégia de atuação que possa diminuir os efeitos que a doença ocasiona, garantindo o desenvolvimento infantil, além de promover a interação social e a adesão ao tratamento terapêutico. Desta forma, o brincar surge como um importante recurso para que a criança possa transpor as barreiras do adoecimento e os limites de tempo e espaço. Com base nessas considerações sobre o brincar, o presente estudo objetivou em avaliar a influência do brincar como estratégia para o enfrentamento à hospitalização infantil, com o intuito de garantir à criança o direito de brincar, conforme estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na Política Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente. METODOLOGIA Trata-se de um estudo analítico de abordagem quali-quantitativa, com pesquisa de campo delineada pela representação antropossocial dos sujeitos participantes durante os meses de agosto e dezembro de 2011. A população do estudo foram 50 crianças da unidade pediátrica do Hospital Regional de Cáceres, na faixa etária de 5 a 10 anos de idade, de ambos os sexos, obedecendo aos critérios de inclusão: estar internado na unidade pediátrica, consciente, em condições de brincar.Realizou-se a seleção das crianças, com o consentimento dos responsáveis, bem como da própria criança. Conforme a Resolução 196/96, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP sob protocolo nº 2009-165, foi esclarecido o objetivo da pesquisa e solicitado a autorização de sua participação, que deveria ser ratificada pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, ressaltando que a criança poderia desistir, a qualquer momento da pesquisa, sem acarretar quaisquer danos ao regime terapêutico. Para a coleta de dados, desenvolveu-se um instrumento, denominado “Formulário de registro das crianças hospitalizadas”, contendo duas partes: a primeira com dados de identificação e a segunda contendo dados referentes à compreensão da criança sobre o brincar e suas estratégias de enfrentamento da hospitalização e seus interesses. Os dados foram coletados durante o período de realização das atividades recreativas, nos finais de semana, tendo a duração da entrevista de 30 a 45 minutos para cada participante da pesquisa. Durante o período em que as crianças participavam das atividades recreativas, a pesquisadora permaneceu próxima, sem interferir na brincadeira; participando quando solicitada ou auxiliando no manuseio dos brinquedos. Após a coleta dos dados, deu-se o início a análise na qual os dados foram listados e agrupados, com base na descrição do universo dos comportamentos e respostas apresentados pelas próprias crianças através da estatística descritiva para as questões subjetivas. RESULTADOS A partir desse estudo, percebeu-se que à faixa etária predominante foi 5 de anos de idade (50% = 25), vindo em seguida as de 6 anos ( 32% =16) e as de 8 (10% =5) e 9 (8 % =4). Com relação ao sexo, a maioria das crianças, ou seja, 62%, eram do sexo masculino. Constata-se que essa prevalência da faixa etária de 5 anos de idade e do sexo masculino é evidenciado em estudos, onde a predominância de internação hospitalar ocorre com maior freqüência na faixa etária de 4 a 5 anos devido a criança não ter um domínio de noção de tempo, espaço e distância, ainda pode-se associar a inadequada supervisão do adulto (WONG, 1999). O predomínio do sexo masculino no que concerne a hospitalização infantil, provavelmente pela diferença de atividades desenvolvidas em cada sexo, estando o menino mais exposto às atividades que envolvem maior risco, enquanto que meninas possuem atividades mais brandas. Outro fator importante é que, sócio-culturalmente, o menino adquire liberdade mais precocemente em relação às meninas e começam a realizar atividades com menor supervisão direta dos adultos, tendo, então, um maior tempo de exposição a situações de risco (MATOS, 1996). Questionados sobre quais atividades as crianças estavam sentindo falta durante o período de hospitalização. Observou-se que todas responderam que gostariam de brincar nos dias em que ficarem no hospital. De acordo com estudos de Mitre (2000) o brincar é um dos aspectos mais importante para criança que se encontra em processo de hospitalização, sendo capaz de amenizar o processo de adoecimento da criança e eficaz para diminuir o estresse. Nesse sentido, o brincar é visto como um espaço terapêutico que promove a continuidade do desenvolvimento infantil. Questionadas sobre quais atividades as crianças gostariam de realizar durante o tempo que iriam permanecer no hospital, observou-se que 92% (n= 46) responderam que gostaria de brincar nos dias em que estiverem no hospital, sendo que 8% (n=4) relatou que gostariam de realizar outras atividades como ler e escrever. Portanto pode-se constar que o brincar é lembrado pelas crianças como uma estratégia de enfrentamento hospitalar. Ou seja, é caracterizado como um recurso de grande relevância que pode ser aplicada nas unidades hospitalares pediátricas, tendo em vista que o lúdico ajuda as crianças a lidar com as experiências estressantes do processo de hospitalização, permitindo que elas exteriorizem sentimentos e conflitos, possibilitando também a melhor adesão ao tratamento terapêutico (MITRE, 2000). CONCLUSÃO O processo de hospitalização é uma situação que provoca sensação de tristeza e abandono na criança, visto que esta tem que deixar o aconchego de sua casa e se distanciar de seus familiares para permanecer em um local totalmente desconhecido, quase sempre percebido com um ambiente hostil. No ambiente hospitalar as crianças se sentem a limitação de atividade, devido à própria enfermidade ou pela estrutura física do hospital, isso pode acarretar para o aumento do sofrimento psíquico-emocional da criança. Este estudo foi possível observar que o brincar deve fazer parte do ambiente hospitalar por proporcionar a criança hospitalizada a oportunidade de vivenciar um momento prazeroso que minimiza a tensão e garanta a elas o direito de ser criança, por isso é importante incentivar os estudantes da área de saúde a refletir sobre a utilização do lúdico em unidades pediátricas para garantir a melhoria de qualidade e humanização na assistência à criança hospitalizada. REFERENCIAS FAVERO, L; DYNIEWICZ A.M; SPILLER, A.P.M; FERNANDES L.A. A promoção do brincar no contexto da hospitalização infantil como ação de enfermagem: Relato de Experiência. Cogitare Enfermafem Out/Dez, p. 519-524, 2007. LEITE, D.; ESTEVES, A. Pedagogia do brincar : jogos, brinquedos e brincadeiras da cultura lúdica infantil. 2. ed. Salvador : Arte Contemporânea, 1995. 229 p. PAULA, E.M.A.T; FOLTRAN E.P. Brinquedoteca Hospitalar: Direito das crianças e adolescentes hospitalizados. Revista Conexão UEPG, 3ª ed, v.3, p.20-23, 2007. MATOS M.A.G; SILVA G.A.P; FERREIRA C.R.P; TEIXEIRA M.L.P.D. Perfil epidemiológico das crianças internadas por acidentes no hospital da restauração. PIBIC [online] out 1996. MITRE, R.M. Brincando para viver: um estudo sobre a relação entre a criança gravemente adoecida e hospitalizada e o brincar. Dissertação de mestrado. Instituto Fernandes Figueira, Fiocruz, Rio de Janeiro, 2000. WONG, D.L; WHALEY, L.F. Enfermagem Pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999.