Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
EDUCAÇÃO SEXUAL EM SAÚDE DA MULHER EM TERREIROS DE UMBANDA- AUTOEXAME DA MAMA
Antonio Cheslem Souza, Laio Santana Passos, Daiana Clara Bueno de Sousa Brandão, Tayná Maria Gonçalves Varão Silva, André Fonseca Nunes, Manoel Guedes de Almeida, José Ivo dos Santos Pedrosa

Resumo


INTRODUÇÃO Segundo o médium e escritor brasileiro Rubens Saraceni, a Umbanda é uma religião sincrética e ecumênica por excelência, não proselitista e desinteressadamente pronta a atender a toda e qualquer pessoa, independentemente da religião que professe, sem cobrar agradecimentos ou filiações, tudo feito em nome do Amor. Essa religião surgiu, segundo os seus seguidores, em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Mesmo antes disso, já havia, de forma expressiva, a manifestação de guias (pretos-velhos, caboclos, crianças), assim como religiões ou simples manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Podemos ver, no entanto, que foi através de Zélio que organizou-se uma religião com rituais e contornos bem definidos à qual deu-se o nome de umbanda. A umbanda combina elementos católicos, espíritas, indígenas, africanos e considera Deus um ser único e supremo. Muitos historiadores que se tem ocupado com o estabelecimento da Umbanda no Brasil, afirmam que ela teve inicio, pode-se dizer, logo após o seu descobrimento, afirmando ainda que, por volta de 1930, já andava por cerca de dois milhões de negros africanos que, dentro dos seus usos e costumes. Tal doutrina entende o mediunismo como uma dádiva divina que permite o contato entre o mundo físico e o espiritual. Os cultos são realizados em lugares específicos, os terreiros, ao som de tambores e cânticos. A influência dessa religião na vida de seus seguidores ultrapassa o significado místico, tendo ampla relação com o contexto social no qual tais indivíduos estão inseridos. Exemplo disso é o contato diferenciado desse segmento com as práticas de saúde convencionais. O auto-exame é prática amplamente divulgada pelo ministério da saúde para identificar anormalidades na mama; é um exame mensal que a mulher pode fazer em si mesma para verificar a presença de câncer nos seios. Quando fizer o auto-exame na mama, deve procurar por protuberâncias, ondulações, checar a espessura dos seios e liberação de líquidos pelo mamilo. Observou-se, porém, que essa técnica era praticamente desconhecida entre mulheres que freqüentavam um terreiro de Umbanda no Bairro Monte Verde em Teresina. METODOLOGIA No dia 8 de novembro de 2011, às 17: 30 h, estudantes de Medicina da Universidade Federal do Piauí, dirigiram-se do Campus da referida instituição para o Bairro Monte Verde, na periferia de Teresina. Os acadêmicos realizaram rodas de conversa com população que freqüenta um terreiro de Umbanda localizado na área, levantando discussões acerca da saúde da mulher. Ao tratar da problemática do câncer de mama, questionou-se o conhecimento da técnica do auto-exame de mama por parte das mulheres do local. RESULTADOS, DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Observou-se que as mulheres questionadas desconheciam, parcial ou totalmente, a técnica do auto-exame da mama. Elas receberam com estranheza as informações repassadas, demonstrando que aquele era o primeiro contato que tinham com esse tipo de prática. A pergunta inicial que se deve fazer é a respeito dos fatores que tornam essa população singular no que se refere às práticas em saúde. A princípio, devem ser considerados os costumes da própria cultura dos terreiros, que individualizam a maneira como esses indivíduos encaram a relação saúde-doença. Ou seja, historicamente, a população negra encontrou formas alternativas de tratamento, quer por questões culturais, quer por impossibilidade de acesso ao sistema de saúde. No atual contexto do Brasil, O Sistema Único de Saúde (SUS) prediz a universalidade como princípio fundamental. Dessa forma, toda a população deve ter acesso aos serviços por ele oferecidos. Para tanto, é preciso solucionar as discrepâncias que por tanto tempo segregaram a população negra do restante da sociedade. Isso não significa extirpá-los de suas práticas culturais, e sim, buscar formas de integrar tais práticas com a maneira tradicional de se fazer saúde. Não é difícil teorizar a solução para esse problema. A questão fundamental é efetivar práticas que diminuam a distância entre essas duas formas de se fazer saúde. Ações de extensão, como rodas de conversa, palestras, dinâmicas de grupo, são o primeiro passo para uma integração entre os segmentos. É necessário que o processo seja de troca, para que não se torne uma nova aculturação, como anteriormente já se caracterizou o contato entre essas culturas. Nesse sentido, a participação da gestão pública se torna indispensável. O SUS incentiva ações de integração com a pluralidade de costumes. Contudo, os profissionais de saúde ainda não saem da Universidade preparados para lidar com um conhecimento diferente do seu. Assim, na prática as mudanças no modelo tradicional ainda são pequenas. O auto-exame da mama é uma técnica de fácil realização, cujo princípio básico é palpar a região dos seios para verificar a presença de possíveis nódulos. Orientam-se as mulheres que encontram alguma alteração a procurarem um profissional de saúde, para que seja feita uma investigação mais profunda. No caso da população questionada, o risco maior do desconhecimento dessa prática é o diagnóstico tardio do câncer de mama. Quando tratada precocemente, a doença tem boas perspectivas de cura. Do contrário, as taxas de mortalidade são alarmantes. Ações de mero cunho científico não são efetivos para incentivar tais mulheres a realizarem a técnica do auto-exame. É um tipo de conhecimento ao qual elas não estão acostumadas. É preciso, pois, utilizar uma linguagem que se aproxime da realidade delas para que algum resultado prático seja atingido. Daí a importância da promoção de formas alternativas de educação, como as rodas de conversa. Em última análise, a solução para esses problemas não vai ser atingida de modo repentino. É preciso que haja ações graduais de aproximação inicial e troca de informações para que o as necessidades singulares do segmento negro sejam abrangidas pelo SUS. Afinal, uma saúde que se propõe a ser universal e integral não pode ser construída sobre as bases de uma única forma de conhecimento.