Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O espaço físico como fator limitador da humanização do cuidado na estratégia saúde da família
Ana Karla Sousa Oliveira, Lairton Cortez de Moura, Sheilla Maria Ramos Fontes, Ana Roberta Vilarouca da Silva, Laura Maria Feitosa Formiga, Alexsandro Anacleto de Sousa

Resumo


Introdução: As diretrizes da Política Nacional de Humanização delimitam possibilidades de transformar a atenção à saúde ao propor iniciativas que buscam oferecer atendimento de qualidade, articulando as tecnologias do cuidado com acolhimento, melhoria dos ambientes dos serviços de saúde e das condições de trabalho dos profissionais. Aqui ressaltamos a importância da manutenção da estrutura física e organização do espaço e das pessoas no interior dos serviços de saúde, componentes estes que contribuem de forma significativa para a produção da saúde, uma vez que atuam como modificadores e qualificadores do espaço, estimulando a percepção de um ambiente físico mais acolhedor e confortável. Destaca-se, portanto, o conceito de ambiência, que delimita o tratamento dado ao espaço físico dos serviços de saúde, entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais, que deve estar organizado de modo a favorecer uma atenção acolhedora, humana e resolutiva. Diante disso, o presente estudo se justifica em face da necessidade de apreender o modo como os serviços de saúde vêm incorporando a perspectiva da humanização da atenção no cotidiano das ações, através da diretriz do acolhimento em sua proposta de inversão da lógica de organização e funcionamento dos serviços de saúde, humanização das relações e resgate dos serviços de saúde enquanto espaço de sujeitos, com enfoque específico no ambiente físico das unidades de saúde da família. Objetivo: Analisar as dificuldades identificadas pelos enfermeiros para a implantação do acolhimento na estratégia saúde da família (ESF) com relação ao espaço físico das unidades. Método: Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa extraído do Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Enfermagem (UFPI/CSHNB-PI) intitulado “Acolhimento na estratégia Saúde da Família na percepção do enfermeiro”. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada aplicada a 06 (seis) enfermeiros vinculados às equipes da estratégia saúde da família de um município piauiense e apreciados por meio da análise de discurso na vertente proposta por José Luis Fiorin. Essa orientação metodológica de análise e a visualização da posição dos profissionais enfermeiros frente à concepção e prática do acolhimento no cotidiano dos serviços permitiu a identificação dos temas predominantes que orientaram a definição da categoria empírica: a inadequação do espaço físico como elemento limitador para a humanização do cuidado. Para o desenvolvimento da pesquisa foram cumpridas as exigências formais dispostas na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CSN), que dispõe sobre pesquisas envolvendo seres humanos. Resultados: Quando questionados sobre quais as dificuldades encontradas na implementação do acolhimento para a humanização do cuidado os sujeitos do estudo destacaram a não garantia de um ambiente adequado e agradável nas unidades de saúde onde atuam como um fator restritivo importante para o desenvolvimento das ações. Aspectos como estrutura física, mobília, disponibilidade de recursos tais como televisão, ventiladores, disponibilidade de água e “cafezinho” foram citados como necessários ao conforto dos usuários durante sua permanência na unidade de saúde, de maneira que a inexistência ou inadequação desses elementos, notadamente no que se refere à mobília (cadeiras ou bancos), figura como obstáculo à qualificação do espaço das unidades. Nesse processo, a inadequação e falta de manutenção do espaço físico emerge como uma dificuldade que se materializa inclusive em riscos reais à integridade física dos sujeitos que transitam diariamente no espaço das unidades de saúde, trabalhadores e usuários, notadamente no que se refere à sala de atendimento. Destaca-se ainda, o desconforto causado pelo calor excessivo característico da região onde está inserido o município no qual se inserem as unidades investigadas, dificultando a permanência de trabalhadores e usuários nos ambientes das unidades, e, como consequência, comprometendo o desenvolvimento das atividades. Vale destacar que em alguns relatos a referência à necessidade de uma estrutura mais adequada encontra-se intimamente associada à possibilidade de garantir maior conforto durante a espera pelo atendimento, uma vez que se os usuários permanecem na unidade por um longo período, podendo, em alguns casos, esperar “uma manhã inteira”, como aponta um dos sujeitos, em uma evidência clara da necessidade de organizar a demanda pelos serviços ofertados. Foi possível observar ainda o entendimento de que, embora em alguns casos haja um mínimo de condições físicas necessárias a um atendimento adequado, é possível haver melhorias, através da adição de equipamentos que tornem o ambiente mais confortável e acolhedor. Conclusão: A análise dos dados coletados no presente estudo permitiu observar inicialmente que embora o cuidado tome forma e se realize no encontro entre profissional e usuário dos serviços de saúde, há uma série de aspectos externos a essa relação que, uma vez que estejam em desarmonia, podem comprometer a qualidade desse cuidado. Não basta, contudo, garantir um ambiente agradável e acolhedor se a isso não se associam iniciativas que visem organizar a demanda pelos serviços de maneira a promover a qualidade do cuidado, dando maior resolubilidade às ações superar o “congestionamento” de sujeitos nos serviços de saúde. Disso conclui-se que para tornar o cuidado humanizado uma realidade no cotidiano das ações e serviços de saúde faz-se necessário garantir uma diversidade de fatores (estruturais, organizacionais, culturais, interpessoais, entre outros), promovendo transformações profundas nas instituições e sujeitos envolvidos nesse processo. Destaca-se, desse modo, o papel integrador a ser desempenhado no âmbito da gestão dos serviços, sempre em articulação com profissionais e usuários, a fim de problematizar e promover discussões que ampliem a perspectiva de cuidado e acolhimento contribuindo para o processo de produção da saúde.