Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O parto normal assistido pelas enfermeiras obstétricas na Casa de Parto do Rio de Janeiro
Mariana Santana Schroeter, Tamara Rubia Lino de Lima, Adriana Lenho de Figueiredo Pereira

Resumo


Introdução: No Brasil, o Ministério da Saúde instituiu os Centros de Parto Normal (CPN) para o atendimento de mulheres com gestações de baixo risco no final dos anos de 1990. Os CPN podem ser unidade assistencial situada dentro, anexa ou isolada do hospital, onde atuam as enfermeiras obstétricas. Há uma tendência de denominar como Casa de Parto os CPN que são fisicamente distanciados do hospital. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC/RJ) instituiu um CPN isolado do hospital e comunitário, que se encontra em funcionamento desde março de 2004 e foi denominado de Casa de Parto David Capistrano Filho (CPDCF). A CPDCF atende o pré-natal, o parto, o pós-parto. Os casos que requerem acompanhamento médico são encaminhados para uma maternidade pública localizada nas adjacências.Objetivos: Caracterizar a assistência prestada pelas enfermeiras obstétricas às mulheres que foram atendidas no pré-natal e parto na Casa de Parto e analisar os resultados maternos e neonatais desses atendimentos. Resultados e Discussão: Na Casa de Parto foi assistido um total de 269 partos em 2009, que resultaram no mesmo quantitativo de nascidos vivos. Não houve caso de morte materna e neonatal. Alguns prontuários não estavam acessíveis na unidade de saúde. Portanto, foram analisados 236 (100%) prontuários dos partos assistidos no período de janeiro a dezembro de 2009. O perfil social e obstétrico das parturientes assistidas era de mulheres que em sua maioria estava na faixa etária de 20 a 24 anos (n=84; 35,6%), seguida de parturientes com idade de 15 a 19 anos (n=76; 32,2%), negras/pardas (n=112; 47,5%), solteiras (n=112; 47,5%), que não possuíam ocupação remunerada (n=109; 46,2%), nulíparas (n=145; 61,5%), que realizaram 7 ou mais consultas pré-natais (n=134; 56,9%) e assistiram 4 ou mais oficinas educativas (n=102; 49,2%).Considerando as condutas realizadas no pré-parto, nenhuma parturiente teve a prescrição de dieta zero. Não existe justificativa para restringir líquidos e alimentos para as parturientes classificadas como baixo risco1. Em quase a metade das parturientes foi administrada ocitocina no soro (n=109; 46,2%). A amniotomia (ruptura artificial da bolsa amniótica) foi realizada apenas em 8,5% (n=20). A proporção de utilização de ocitocina foi semelhante ao observado no Centro de Parto Normal (CPN) peri-hospitalar, com taxa de 44,5%, e maior que a taxa de 23,5% em outro CPN peri-hospitalar2,3. As parturientes com a ocorrência de bolsa amniótica rota durante o trabalho de parto representaram 28,7% (n=77) da totalidade de partos analisados na Casa de Parto. Grande parte (n=203; 86,0%) das parturientes teve a presença do acompanhante durante o parto. A presença do acompanhante deve ser garantida como um direto legal previsto na Lei federal 11.108/2005. No trabalho de parto, os cuidados mais realizados foram: exercícios respiratórios (n=209; 88,6%); deambulação (n=175; 74,5%); música ambiente (n=154, 65,3%); banho morno (n=139; 58,9%); massagem (n=122; 51,7%) movimentos pélvicos (n=121; 51,3%); proteção perineal (n=121; 51,3%); óleos essenciais (n=112; 47,5%); essência aromática (n=43; 18,2%); uso da bola bobath (n=32; 13,6%); banquinho meia-lua (n=18; 7,6%) e técnica do rebozo (n=9; 3,8%). Quanto ao local do parto, houve uma variedade onde ocorreu o parto, como a Banheira (n=68; 28,9%); a cama de casal da suíte (n=57; 24,1%); o leito tipo PPP (n=49; 20,7 %) e no banquinho (n=40; 16,9%). Com relação à posição da mulher no parto, a mais escolhida foi a lateral (n=98; 41,5%); seguida das posições vertical (n=84; 35,6%); sentada (n=23; 9,8%) e cócoras (n=15; 6,4%). A posição horizontal somada com outras posições escolhidas teve uma baixa proporção, 3,3% (n=8). A condição do períneo também foi analisada. Houve predominância das lacerações (n=181; 76,7%); seguida de períneo íntegro (n=44; 18,7%). A episiotomia foi praticada em pouquíssimos (n=6; 2,5%) casos. Dentre as lacerações (n=181) a mais frequente foi a de primeiro grau (n=139, 76,8%); seguida a de segundo grau (n=33;18,2%). Não houve registros de lacerações de terceiro e quarto graus. As menores proporções de episiotomia ocorrem nos partos em birth centers e no domicílio, correspondendo a 3,8% no Canadá, 7,8% na Suécia, 15,7% na Alemanha e 17,6% nos Estados Unidos3. Em Birth Center australiano a episiotomia foi realizada em 7,7% das mulheres5. Os dados relativos à saúde do neonato foram o peso ao nascer e o índice do Apgar no primeiro e no quinto. A maioria dos neonatos apresentou peso superior à 2500g (n=230; 97,4%) e boas condições vitalidade. Apenas 0,8% (n=2) obteve Apgar abaixo de sete no quinto minuto. Dados semelhantes aos observados em pesquisas nacionais e internacionais. Entre os nascidos vivos em CPN Peri-hospitalar, 4,1% receberam um valor de Apgar abaixo de 7 no 1o minuto e 1% no 5o minuto6. Entre as 22.222 mulheres cujos partos foram atendidos em Birth Centers da Austrália, período de 2001 a 2005, os nascidos vivos que obtiveram Apgar abaixo de 7 no 5o minuto de vida corresponderam a 0,9% da totalidade de nascimentos7. Quanto às transferências neonatais para o hospital, essas representaram 6,7% (n=16) do total dos nascimentos no ano de 2009. A causa de transferência mais frequente foram desconforto respiratório (n=5, 31,2%), icterícia (n=3; 18,8%); baixo peso (n=2; 12,5%) e hipoatividade/hipoglicemia (n= 6,3%). Quanto à transferência materna, somente 3,8% (n=9) das parturientes foram transferidas. Os motivos mais frequentes foram hipertensão arterial (n=2; 22,2%), hipotonia uterina (n=2; 22,2%) e mastite (n=1; 11,1%). As transferências neonatais foram semelhantes de CPN Peri-hospitalar6. Conclusão: O perfil assistencial e os resultados maternos e neonatais da Casa de Parto David Capistrano Filho são semelhantes aos observados na literatura nacional e internacional. Em relação à taxa de episiotomia foi verificado um percentual menor entre os praticados em Centro de Partos Normais do Brasil. As enfermeiras utilizam cuidados variados que promovem o relaxamento e o conforto no processo da parturição, sendo que as mais empregadas foram os exercícios respiratórios, os movimentos pélvicos e o banho morno. Referências: 1. Lawrence A, Lewis L, Hofmeyr GJ, Dowswell T, Styles C. Maternal positions and mobility during first stage labour. Cochrane Database Syst Rev. 2009;15(2): CD003934. 2. Schneck CA, Riesco MLG. Intervenções no parto de mulheres atendidas em um centro de parto normal intra-hospitalar REME – Rev. Min. Enf.; 10(3): 240-246, jul./set., 2006. 3 Lobo SF, Oliveira SMJV, Schneck A, Silva FMB, Bonadio IC, Riesco MLG. Resultados maternos e neonatais em Centro de Parto Normal peri-hospitalar na cidade de São Paulo, Brasil. Rev Esc Enferm USP 2010; 44(3): 812-8. 4. Koiffman MD, Schneck CA, Riesco ML, Bonadio IC.Risk factors for neonatal transfers from the Sapopemba free-standing birth centre to a hospital in São Paulo, Brazil. Midwifery. 2010 Dec; 26(6): e37- e43. 5. Tracy SK., Dahlen H, Caplice S, Laws P, Wang YA, Tracy M B, Sullivan, E. Birth Centers in Australia: A National Population-Based Study of Perinatal Mortality Associated with Giving Birth in a Birth Center. Birth. 2007; 34 (3): 194–201. 6. Campos SEV, Lana FCF. Resultados da assistência ao parto no Centro de Parto Normal Dr. David Capistrano da Costa Filho em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(6): 1349-1359, jun, 2007. 7. Laws PJ, Tracy SK, Sullivan EA. Perinatal outcomes of women intending to give birth in Birth Centers in Australia. Birth. 2010;37(1): 28-36.