Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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ENFERMEIROS ENTRE O SERVIÇO DE SAÚDE E A SALA DE AULA: UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE ATENÇÃO E DOCÊNCIA
Daniela da Motta Esteves, Maristela Vargas Losekann, Suzana Rolim Tambará

Resumo


O presente trabalho trata-se de um relato de experiência na área da educação técnica profissionalizante e envolve enfermeiros/docentes que transitam entre a sala de aula de um curso técnico em enfermagem e os serviços de saúde. Essa experiência ocorre na Escola do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) que está vinculada a uma instituição pública de saúde localizada na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (RS) e tem por objetivo a formação de trabalhadores para atuarem na área da saúde a partir de cursos de qualificação, aperfeiçoamento, especialização e técnicos voltados para as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Para compor o grupo de docentes da Escola foi aberto um processo seletivo interno composto por quatro etapas: análise da avaliação individual (instrumento utilizado internamente na instituição em que o funcionário é avaliado anualmente), análise do currículo, elaboração de um plano de aula e apresentação para uma banca e entrevista. A primeira etapa era de caráter eliminatório e as demais etapas classificatórias. A banca foi composta por professores e docentes renomados e experientes de instituições de ensino. Os selecionados foram trabalhadores da instituição que tiveram como pré-requisitos a vinculação direta à assistência e formação especializada na área que estava candidatando-se. A Escola tem como eixos norteadores os princípios e diretrizes do SUS, e busca desenvolver políticas e ações de ensino, pesquisa e extensão, e suas ações visam fortalecer a cooperação técnico-científica, produção e divulgação de informação científica e de inovação no campo da saúde. Qualificar a atenção, a gestão, a formação e a participação social no sistema de saúde e ampliar as possibilidades de inclusão e desenvolvimento social e econômico, estão entre os objetivos da Escola, a qual está comprometida com a formação de cidadãos conscientes, com o desenvolvimento sustentável e solidário e com a consolidação do SUS. Sendo assim, após o processo de seleção estes enfermeiros passaram a dividir o trabalho entre o cuidado/assistência aos usuários e as atividades de docentes do curso técnico em enfermagem na Escola. Inclusive, conforme acordo institucional foi realizado um aditivo no contrato de trabalho desses profissionais, com isso os docentes da Escola podem dedicar até quarenta por cento (40%) da carga horária para a atividade de docência, sendo o restante dedicado à assistência. A partir disso, surgiram algumas dificuldades apontadas pelos docentes relacionadas às deficiências na formação pedagógica do enfermeiro, pois a graduação em enfermagem valoriza pouco o papel de educador e não esta voltada à docência. Os cursos de graduação possuem um currículo técnico, voltado para a assistência não preparando os futuros profissionais para o exercício da docência. Os enfermeiros acabam ingressando na docência sem qualificação para o ensino (ZOCCHE, 2007) e sem uma educação inicial suficiente que assegure uma formação didático pedagógica para atuação em sala de aula (FERREIRA JUNIOR, 2008). As disciplinas voltadas para o ensino são ministradas com menos créditos ou são inexistentes em muitos currículos. Poucos cursos proporcionam uma base sólida para as atividades de orientação, ensino e informação (FERREIRA JUNIOR, 2008). Com isso acabam ocorrendo os improvisos e consequentemente falhas no processo de ensino aprendizagem. O enfermeiro/docente acaba levando para a sala de aula apenas sua experiência profissional, esquecendo-se de questões importantes e fundamentais, como o plano de aula. Após a criação da escola e com a inserção dos enfermeiros nas práticas pedagógicas, surgiu a necessidade de uma formação direcionada à área da educação, visto que grande parte dos docentes não possui formação de licenciatura ou formação pedagógica. Muitos estão iniciando sua prática docente inspirados em seus professores ou apenas por “gostar de ensinar”. Para isso a instituição está proporcionando aos seus docentes em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) um Curso de Especialização em Formação Integrada Multiprofissional em Educação e Ensino de Saúde com duração de dois anos e carga horária de 800 horas. Esse curso pretende suprir as deficiências didático pedagógicas vivenciadas pelos docentes no seu cotidiano, já que ocorrerá simultaneamente com a atividade docente. Agregar a atividade docente à atenção em saúde fortaleceu a qualificação dos profissionais enfermeiros envolvidos na escola, ampliando a motivação destes profissionais. Os enfermeiros encontram nessa prática o prazer da enfermagem, de ensinar e educar, buscando inovações e mudança necessárias ao bom desempenho pessoal e profissional, almejando o crescimento contínuo e também um bom relacionamento com os alunos (SANTOS; CASSIANI, 2000). Verifica-se (com isto), que o docente do ensino profissionalizante em enfermagem sente-se entusiasmado e gratificado pelo trabalho que desempenha na educação, dentre os quais a formatura do aluno que é um momento em que o professor reconhece neste, o resultado de seu esforço e dedicação (SANTOS; CASSIANI, 2000). Ao possibilitar uma ação e uma reflexão das práticas, a escola fez com que novas formas de aprendizagem emergissem, ou seja, possibilitou o compartilhamento de experiências e reflexões sobre a prática profissional no espaço escolar. Da mesma forma, esta atividade compartilhada trouxe uma riqueza de exemplos para o ambiente de formação, aproximando o aluno do contexto real de atuação, através das vivências trazidas para a sala de aula que enriquecem a contextualização de algumas temáticas. Por fim, na avaliação dos professores realizada pelos alunos, esta característica do corpo docente da escola foi destacada como sendo um dos pontos positivos para a formação integral, pois, segundo eles, os professores trazem para a sala de aula o que realmente fazem, não ficando restritos aos exemplos das bibliografias, havendo maior aproximação do enfermeiro com o cuidado em detrimento das questões administrativas e burocráticas.REFERÊNCIASFERREIRA JUNIOR, Marcos Antonio. Os reflexos da formação inicial na atuação dos professores enfermeiros. REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM, Brasília, p. 866-71, nov./dez. 2008.SANTOS, Lúcia Helena Pereira dos; CASSIANE, Silvia Helena De Bortoli. Vivendo em constante conflito: o significado da prática docente no ensino médio de enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 5, p. 58-6, 2000. ZOCCHE, Denise Antunes de Azambuja. Educação profissional em saúde: reflexões sobre a avaliação. Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, p. 281-295, jul. 2007.