Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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EnTenda: informação para o uso racional de medicamentos
Luciana Maria Ramires Esper, Rachel Magarinos-Torres, Benedito Carlos Cordeiro, Selma Rodrigues Castilho, Ranieri Carvalho Camuzi, Elaine Silva Miranda

Resumo


EnTenda: informação para o uso racional de medicamentos O termo uso racional de medicamentos pressupõe uso quando necessário de modo ajustado à situação clínica observando a melhor relação de custo-efetividade (PNM, 2001). Concorrem com o uso racional de medicamentos a propaganda farmacêutica e as lacunas de orientação profissional do paciente com relação aos mecanismos de acesso e ao modo de uso dos medicamentos (Nascimento, 2010; Palácios et al., 2008).O mercado farmacêutico possui características que diminuem o potencial das forças de mercado no ajuste econômico e que demandam ações no sentido de promover o bem estar da população, de sorte que a lógica econômica da produção não se sobreponha às necessidades sociais de acesso a medicamentos de qualidade. Estas características incluem o caráter de essencialidade do bem, a assimetria de informação, a baixa elasticidade da demanda aos preços, a existência de barreiras à entrada de novos produtores e a alta concentração de empresas por segmento do mercado. É neste espaço, que surgem problemas de acesso e uso inadequado de medicamentos. A enorme variedade de produtos disponíveis no mercado e a propaganda farmacêutica dificultam a apropriação de conhecimento e a orientação da população (Reis & Bermudez, 2004, Nascimento, 2010).O Brasil possui um sistema de saúde de gestão pública centrado no atendimento universal, na equidade e na integralidade das ações que, para tanto, precisa operar de forma descentralizada, regionalizada e hierarquizada, com incentivo à participação popular no controle da gestão – Sistema Único de Saúde (SUS). Embora co-exista, ao lado do SUS, um subsistema privado de assistência médica; composto por serviços promovidos diretamente por profissionais liberais, por operadoras ou por planos de saúde; o preceito de acesso universal às ações de saúde, incluindo a Assistência Farmacêutica, faz do Estado brasileiro o grande provedor de medicamentos para população (Lei nº 8.080, 1990; Oliveira et al., 2007). O uso irracional de medicamentos tem impacto direto na gestão do sistema (Vieira, 2008).Neste cenário, sensibilizar a população para a problemática do uso racional de medicamentos amplia a possibilidade de benefício clínico e fortalece o seu modo de interação com o setor saúde. Como coloca Sicoli (2003), é por meio da Educação em Saúde que se constrói o conhecimento que permite o exercício pleno da cidadania.Em outubro de 2011, durante a VIII Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense realizou no evento UFF na Praça Tenda da Ciência uma atividade de extensão intitulada de EnTenda: informação para o uso racional de medicamentos. O objetivo foi oportunizar a interação entre alunos de graduação e o grande público mobilizando ambos para a problemática do uso racional de medicamentos.Alunos do terceiro e quarto período de Graduação em Farmácia atuaram sob a supervisão de docentes no planejamento e na execução da atividade. O planejamento ocupou dois encontros presenciais com 4 horas de duração cada. Foi adotado como referencial metodológico um dos produtos do Educanvisa, o jogo de tabuleiro Trilha da Saúde. O Educanvisa é uma ação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária direcionada a profissionais da educação pública. Para esta atividade, voltada para o grande público, foram necessários ajustes no Trilha da Saúde.Nos encontros do planejamento foram discutidos os elementos teóricos do Trilha da Saúde (sobre saúde, medicamentos, riscos e a propaganda de medicamentos) e de educação com ênfase na adoção de jogos pedagógicos como espaço lúdico e, assim, privilegiado para a promoção de aprendizagem. Foram realizados ajustes nas regras e nas perguntas do jogo como, por exemplo, a participação em grupo, a retirada de todas as cartas relacionadas com alimentação e a inserção de cartas solicitando relatos de vivências com as temáticas relacionadas com a atividade.A execução da atividade aconteceu pela manhã na praça Campo de São Bento com duração de 4 horas. Foram realizadas cinco rodadas do jogo. Os participantes se organizaram em grupo de 3 a 4 pessoas. A cada rodada um dos grupos era o vencedor. Cabe destacar que não houve premiação para o grupo vencedor, ainda assim houve fila e espera para participar da atividade.Alguns elementos apontam que os resultados extrapolaram a expectativa, são eles: todos os 17 alunos que trabalharam no planejamento se mantiveram e atuaram na execução, todos os alunos estiveram durante todo o período de execução presente e de modo atuante na tenda do EnTenda, muitos dos alunos que participaram da atividade se mostraram interessados em dar continuidade ao trabalho, foi perceptível a melhora de rendimento em disciplina teórica, a tenda do EnTenda permaneceu com movimento do grande público durante todo o período de execução da atividade mesmo que sem recompensa imediata, não houve prêmio diferenciado para os participantes.A flexibilização das regras e os ajustes no jogo e o ainda pequeno número de ações com este cunho na graduação podem ter contribuído para os resultados. O jogo constrói um ambiente lúdico, um espaço privilegiado para a promoção da aprendizagem. Nele o participante enfrenta desafios, testa limites, soluciona problemas e formula hipóteses. O indivíduo brinca não para se tornar mais competente, mas devido a uma motivação intrínseca à própria atividade. Jogar é uma atividade paradoxal, ao mesmo tempo livre, espontânea e regrada. É uma maneira de apropriação de conhecimentos de forma direta e ativa. As aquisições de conhecimento mediadas pelos jogos podem se constituir no primeiro passo para a geração de novas atitudes de prevenção. O importante nos jogos educativos é que exista equilíbrio entre a função lúdica e pedagógica, conciliando a liberdade típica e desejada dos jogos e a orientação própria dos processos educativos (Toscani et al., 2007).Com relação ao segundo aspecto, Leite e colaboradores (2008) apresentam que a educação farmacêutica ainda é desenvolvida de forma desarticulada da realidade social, pouco comprometida com a resolução dos problemas nacionais de saúde. A formação tem sido focada na produção de medicamentos enquanto que a saúde da população tem pouco espaço no processo educativo (Leite et al, 2008). A Faculdade de Farmácia da UFF reconhece estes limites históricos e vem trabalhando no sentido da formação articulada aos espaços assistenciais e a demanda da população. A nova estrutura curricular da graduação convida os estudantes a vivenciarem a realidade dos serviços de saúde a partir do segundo ano de formação. Este atividade de extensão é parte desse esforço.