Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O processo da Humanização em Saúde Mental no acolhimento à crise na emergência de Hospitais Gerais
Renata Flores Trepte, Simone Mainieri Paulon, Fernanda Steffen Culau, André Luis Leite de Figueiredo Sales, Mário Francis Petry Londero, Loiva Maria de Boni Santos, Liana Della Vecchia, Rafaela Schneider Brasil, Diego Drescher de Castro, Eduardo Eggres

Resumo


Este projeto se propõe a investigar o tema da humanização em saúde, concentrando-se nas estratégias de acolhimento às crises de saúde mental em emergências de hospital geral. A mudança no modelo de assistência nesse campo da saúde requer correspondente expansão dos dispositivos de acolhimento às diferentes demandas e momentos do adoecimento psíquico, entre elas às situações de crise. Entretanto, o ritmo com que a rede de saúde mental tem-se estruturado para dar conta dessas situações não corresponde às necessidades da população usuária. Com isso, o atendimento à crise persiste como ponto nevrálgico para que os cuidados das pessoas com transtornos psíquicos possam se efetivar com base territorial, como prevê a política de saúde mental vigente em nosso país. A presente pesquisa visa, enquanto objetivo geral, identificar e analisar os atuais modos de acolhimento realizados junto aos pacientes em sofrimento psíquico que chegam às emergências do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), a fim de subsidiar eventual revisão dos critérios da saúde mental constantes nos protocolos de classificação de risco. Mais especificamente, pretende-se identificar, também, os critérios diagnósticos de saúde mental utilizados pelas equipes de acolhimento; quais critérios de avaliação de risco dos protocolos utilizados no acolhimento que contemplam as necessidades e o grau de vulnerabilidade dos usuários em crise de saúde mental. Já que pesquisar, no campo das relações institucionais, está dado concomitantemente a produção de reflexões e análises no campo estudado uma dimensão de intervenção, tem-se como um dos objetivos específicos do projeto sensibilizar equipes de atendimento em emergência e ofertar espaço de Educação Permanente para que o dispositivo do acolhimento com classificação de risco funcione cada vez mais alinhado às diretrizes da Política Nacional de Humanização. Por fim, pretende-se subsidiar as gestões municipais e estaduais na constituição de uma rede local em saúde mental de atenção à crise. A análise institucional socioanalítica (ALTOÉ, 1993) fornece os aportes teórico-clínicos que sustentarão a análise do material pesquisado. A fim de articular a fundamentação teórica às técnicas investigativas, propomos estruturar o trabalho no método cartográfico. Buscando uma análise micropolítica do cotidiano, o que se intenciona é analisar os múltiplos sentidos cristalizados nas instituições (Barros e Passos, 2005) que, em muitos momentos, estabelecem uma atitude pouco eficaz no âmbito do cuidado. Para isso, a pesquisa orienta-se no sentido de construir ou utilizar-se de analisadores - eventos ou acontecimentos - que por condensarem questões políticas, afetivas e conflitivas do grupo trazem à tona dimensões de seu trabalho dificilmente exploradas no cotidiano. Para tanto, uma das principais ferramentas de pesquisa a ser utilizada será um questionário de Incidente Crítico, o uso dessa técnica, enquanto ferramenta metodológica, é capaz de fornecer ao pesquisador uma caracterização geral do campo de pesquisa, pois Incidentes Críticos são situações relevantes, observadas e relatadas pelos sujeitos entrevistados, podendo ser positivos ou negativos em função de suas consequências. Num primeiro contato com o grupo que participará da pesquisa, será solicitado aos profissionais que elejam duas situações extremas: aquela que consideram como a melhor abordagem que se lembram de ter sido dada a um usuário com sofrimento psíquico naquele serviço e aquela que consideram a pior abordagem da mesma situação. Será solicitado, também, que cada um indique quais foram os comportamentos ou procedimentos que favoreceram e aqueles que impediram a sua atuação como um profissional da saúde inserido no SUS. A pesquisa também contará com a utilização de outras duas ferramentas, as entrevistas individuais semi-estruturadas e as Rodas de Conversa de Educação Permanente. As entrevistas individuais serão realizadas com gestores e com algumas funções estratégicas (como, por exemplo, coordenações, supervisores de turno, representantes de alguns segmentos profissionais) a partir de questões norteadoras sugeridas para cada eixo de análise. A Educação Permanente insere-se nesta pesquisa como ferramenta em função do entendimento de ser uma proposta de ação capaz de contribuir para a necessária transformação dos processos formativos e das práticas pedagógicas e de saúde, abarcando também a organização dos serviços. A pesquisa encontra-se em estágio inicial e seus resultados referem-se somente ao percurso teórico-reflexivo de elaboração do projeto. Diante dessa experiência, as discussões sobre o tema despertaram alguns questionamentos valiosos para a bagagem necessária à posterior pesquisa em campo, a saber: os leitos de atenção integral em saúde mental em hospitais gerais ofertam efetivamente o acolhimento? Destinam atenção integral aos pacientes em crise? Quais dispositivos devem ser pensados para qualificar o atendimento à crise? Sabe-se que a modificação do modelo de assistência no campo da saúde mental requer o aumento dos dispositivos de acolhimento às diferentes demandas, inclusive no que tange aos momentos de sofrimento psíquico e às situações de crise. A partir de experiências neste campo, perbeceu-se que o ritmo com que a rede de saúde mental se estrutura para dar conta dessas situações, muitas vezes não corresponde às reais necessidades da população usuária dos serviços. Considerando este quadro um importante sinalizador do tema da pesquisa, concluímos até esta etapa, que há uma necessidade vigente em problematizar as condições de acesso dos usuários ao SUS para que as vertentes da Reforma Psiquiátrica no Brasil possam ser revigoradas e desenvolvidas de maneira que haja, constantemente, atenção integral àquelas pessoas que tem de enfrentar uma crise em saúde mental. Por conseguinte, entendemos que o processo de Reforma Psiquiátrica nunca estará findado, pois, para o seu sucesso é necessária a permanente revisão e reflexão dos modos de operar na saúde.