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A formação profissional em saúde tem com hegemônica a abordagem biologicista, procedimento-centrada, fragmentada e hospitalocêntrica, o que tem resultado em profissionais descomprometidos com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e insensíveis às necessidades da população brasileira. Buscando modificar essa realidade, tem surgido estratégias e projetos que buscam a reorientação da formação profissional, proporcionando aos estudantes a vivência e experimentação da realidade do SUS através da imersão no cotidiano dos serviços e redes de saúde. Nesse contexto, o presente trabalho consiste em um relato da experiência de participação de uma estudante no 3º Estágio de Vivência no SUS (EVSUS), na cidade de Salvador, Bahia. O Estágio de Vivência no SUS - Bahia resulta da articulação entre a Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) e estudantes da área de saúde do estado da Bahia, tendo suas primeira e segunda edições realizadas no ano de 2009. O 3º Estágio de Vivência no SUS (3º EVSUS - BA) ocorreu no período de 31 de Julho a 08 de Agosto de 2010. Para esta edição, foram selecionados estudantes de várias instituições e cursos da área da saúde, posteriormente distribuídos entre as cidades participantes. Durante o EVSUS estes realizaram visitas que permitiram conhecer o cotidiano do SUS nestas cidades, e ao fim de cada dia compartilhar e problematizar suas observações e experiências. Para a cidade de Salvador, foram selecionados 32 estagiários, acompanhados por três mediadores de aprendizagem. Na cidade de Salvador, as atividades foram iniciadas com a realização de uma roda de conversa na qual cada estagiário pode se apresentar e falar sobre suas expectativas acerca do 3º EVSUS. O grupo foi composto por acadêmicos dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Psicologia, oriundos de diferentes instituições e regiões do estado. O planejamento/programação foi apresentado antes de as visitas serem realizadas, contudo foi repensado e reelaborado pelos organizadores, mediadores e estagiários, de acordo com as necessidades e dificuldades encontradas no decorrer do Estágio. Também foi entregue uma coletânea de textos, para orientar as discussões, que abordavam os conteúdos relacionados aos eixos do projeto (Políticas de Saúde, Modelos de Atenção à Saúde, Formação em Saúde e Controle Social/ Participação Popular). Foram realizadas visitas e observações a serviços de saúde, movimentos sociais e rodas de conversa com a gestão municipal de saúde. Para a realização dessas, fomos distribuídos em dois grupos, deste modo mais espaços puderam ser visitados e o número de estagiários por serviço foi reduzido. Durante as visitas, pudemos conhecer o funcionamento, estrutura, espaço físico, e as dificuldades enfrentadas por cada setor e/ou serviço, bem como observar como se dava a inserção e atuação das diferentes profissões da área de saúde no SUS. Também foram apresentados alguns programas e projetos desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Saúde. Ao final do dia, eram relatadas as percepções de cada estagiário e as experiências vivenciadas eram compartilhadas e problematizadas, permitindo o desenvolvimento de um olhar crítico e a ocorrência de uma aprendizagem significativa. A partir das visitas e discussões/reflexões foram observados como pontos críticos: a falta de conhecimento sobre o SUS, por parte dos profissionais da saúde e da população; a atuação profissional isolada, descontextualizada e descomprometida; a precarização do trabalho; a não articulação dos diferentes serviços e setores; o enfraquecimento, ou inexistência, do controle social; e problemas diversos relacionados à gestão. Temas como a atuação multiprofissional e interdisciplinar, integralidade, acolhimento, gestão participativa, participação popular, educação permanente e educação popular em saúde também foram discutidos. Estes pontos foram destacados não apenas pela experiência proporcionada pelo EVSUS, mas também pelo resgate de situações enfrentadas anteriormente pelos estudantes em seus municípios de origem. Constantemente era relatada a falta de conhecimento sobre a existência e/ou funcionamento da rede e serviços de saúde dos seus municípios, e que os currículos e práticas adotadas nos cursos e/ou instituições geravam distanciamento e falta de comprometimento do estudante, tanto em relação ao usuário como em relação ao SUS, sendo o EVSUS uma oportunidade diferenciada de reflexão sobre a atuação como (futuro) profissional de saúde. Ao final do EVSUS, foi realizada uma roda de conversa com representantes da Escola Estadual de Saúde Pública e Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mediadores de aprendizagem e estagiários possibilitando que fossem compartilhadas as impressões dos envolvidos. Tanto os estagiários como os representantes da SMS deram sugestões relacionadas operacionalização e divulgação do Estágio, foram esclarecidas dúvidas que restavam a respeito da rede municipal de saúde e sobre o EVSUS. Este momento permitiu que a experiência do Estágio fosse problematizada e sua estrutura fosse avaliada. Apesar de enfrentarmos dificuldades relacionadas à hospedagem, alimentação e deslocamento, tempo restrito para as visitas, quantidade excessiva de estudantes por serviço, e desconhecimento por parte de algumas unidades e profissionais sobre as visitas e/ou existência do projeto, acarretando constantes modificações na programação e remanejamento das visitas, o 3º EVSUS mostrou-se uma importante estratégia de sensibilização dos estudantes, estimulando a militância a favor da consolidação e construção do SUS, bem como o desenvolvimento de (futuros) profissionais críticos, sensíveis às necessidades da população e comprometidos com o SUS. Acredito que as parcerias necessárias para a realização deste projeto necessitam ser fortalecidas e ampliadas para que seja possível que este ocorra em mais cidades e regiões, possibilitando assim que um número maior de estudantes tenha a oportunidade dessa vivência e reflexão.