Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Estratégias de Educação Permanente para o cuidado a Saúde de pessoas com deficiência na Atenção Primária em Angra dos Reis
Daniela Koeller R. Vieira, Ângela dos Santos Bersot Ribeiro, Nicolas A. Koenigkam Soares, Ruben Araujo Mattos

Resumo


INTRODUÇÃO A reestruturação e reorganização da rede de saúde através da atenção primária é a estratégia prevista pelo Ministério da Saúde para o SUS. Dentre os problemas enfrentados pela população estão os apresentados por pessoas de todas as idades com deficiências o que vem sendo ampliado pela mudança no perfil epidemiológico da população brasileira. Com o progressivo envelhecimento observado na população, mais e mais indivíduos têm deficiências e incapacidades funcionais que necessitam de reabilitação. Tendo isso em vista, o Pacto pela Saúde para o biênio 2010-2011, definiu como uma de suas prioridades, o aumento da capacidade de resposta do sistema de saúde as necessidades de pessoas com deficiência (Portaria 2669 de 03 de novembro de 2009). Enquanto prática de cuidado na atenção primária a atenção à saúde de pessoas com deficiência deve ser vista através da ótica da integralidade. Neste sentido, é essencial definir que neste nível de assistência compreende não só ações clínicas de reabilitação, mas, principalmente, ações de promoção e prevenção. A atuação reabilitadora será composta de ações sobre a deficiência para além da questão orgânica e biológica, mas compreendendo também a interação do indivíduo com o meio social e a autonomia, promovendo a adaptação e inclusão social e a redução de incapacidades. O papel da atenção primária no cuidado a pessoas com deficiência não deverá ser somente o de porta de entrada para recursos especializados, mas estabelecer estratégias de cuidado efetivas e reabilitadoras.O objetivo deste trabalho é discutir a contribuição da estratégia de educação permanente estabelecida pela Área Técnica da Pessoa com Deficiência de Angra dos Reis (ATPD), a partir de 2009, para a criação destes espaços de cuidado. Esta estratégia foi implantada e desenvolvida em consonância com as propostas da Política Nacional de Educação Permanente (2009). MATERIAL E MÉTODOS Este estudo será de natureza qualitativa e descritiva, com análise dos documentos produzidos pela ATPD e a realização de entrevista narrativa, segundo proposto por Jovchelovitch e Bauer (2002), com a equipe de profissionais da mesma (01 médico e 02 fisioterapeutas). Foi realizada a gravação do relato dos mesmos sobre as atividades de educação permanente, buscando explorar a trajetória da construção do cuidado a pessoas com deficiência na atenção primária do município de Angra dos Reis. O material gravado foi transcrito e submetido à análise através da técnica de Schütze. RESULTADOS A implantação de políticas de educação permanente é uma das prioridades para o SUS. O projeto aqui discutido, tenta construir, em parceria com as equipes da atenção primária uma rede de conhecimentos teórico-práticos sobre o que é o cuidado a uma pessoa com deficiência e sua família. A estratégia utilizada no processo de educação permanente incluiu mergulhar na realidade das equipes por um dia, e viver junto às experiências de visitar o paciente e sua família, as dificuldades impostas pela realidade local, como a estrutura física das unidades, a referência e contra referência, os encontros e desencontros nas expectativas de profissionais e usuários, as dificuldades para se viver o dia a dia de equipes incompletas e buscar soluções possíveis. As visitas em conjunto, e a sugestão de novas possibilidades em ato, implicam em um reconhecimento da possibilidade do uso da criatividade e de intervenções pouco convencionais ou que utilizam recursos externos a saúde, permitindo a permeabilidade do técnico ao não técnico nas formas de fazer saúde e a utilização de conhecimentos práticos, ampliando o alcance da atenção primária em saúde. As estratégias que foram usadas no exemplo de Angra dos Reis demonstram a aplicação prática dos conceitos trazidos por Ayres (2004b), referentes ao cuidado nas relações de saúde, que incluem voltar-se à presença do outro, otimizar a interação e enriquecer horizontes. A estratégia de educação permanente permitiu às equipes a apropriação de diversos conceitos, dentre eles o projeto de felicidade buscado por equipes e famílias, a fusão de horizontes entre as expectativas das pessoas e dos profissionais e os processos de criatividade experimentados como novas possibilidades, que incluem a experiência prática de famílias e equipes. A experiência da fusão de horizontes, entre os vários membros das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), da gestão, da zeladoria e do transporte, permite a inclusão na discussão de questões práticas sobre o cuidado, a busca de recursos locais, mudanças nos processos de planejamento, gestão local do cuidado e propostas de intervenção com impacto no uso dos recursos para a comunidade. Uma das questões que fez a diferença no processo de educação permanente que foi implementado, foi a disponibilidade e a capacidade de em ato afetar o outro. Isto permitiu haver uma ampliação de possibilidades, disparando o engajamento das equipes e propostas de soluções criativas, como a proposta de utilização de almofada de alpiste para a cadeira de rodas de um paciente com escara na região sacra, ou a proposta de alfabetização para uma adolescente com deficiência que estava fora da escola. Outra diretriz que foi colocada em prática foi o matriciamento. Os profissionais da ATPD atuaram como equipe de referência e reforçaram a discussão sobre a importância da responsabilização de pessoas por pessoas, assim como levaram as equipes a discutirem estratégias de gestão local, como a discussão do cuidado às pessoas com deficiência, incluindo a rede assistencial de apoio, discussões técnicas e uma visão interdisciplinar e intersetorial. Os conceitos discutidos durante o processo de educação permanente possibilitaram a ampliação do olhar da equipe e com isso, alargaram as possibilidades de identificação na comunidade de pessoas com incapacidades que necessitam do cuidado da equipe e também as possibilidades de intervenção. Após o processo de educação permanente que foi estabelecido, foram encontrados resultados em dimensões distintas: a dimensão individual, dos casos que receberam visitas em conjunto da equipe da ATPD e das equipes de ESF, a dimensão da mudança de práticas de cuidado de profissionais e equipes e ainda, nas formas de gestão do cuidado de pessoas com incapacidades residentes na comunidade. CONCLUSÃO A construção da conexão com os conceitos de cuidado e educação permanente permite dar visibilidade ao processo de trabalho e resultados da estratégia implementada em Angra dos Reis. Destacamos as mudanças significativas na vida de pessoas com deficiências e suas famílias, na justa medida em que trazem a questão do cuidado e da introdução dos projetos de felicidade das pessoas sob a responsabilidade das equipes para a pauta do dia na atenção primária. Nesse sentido, pretendemos enriquecer a discussão que se avoluma sobre o papel da atenção primária na saúde.