Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS EM SAÚDE DO IDOSO: CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO MÉDICA
Maicon Fellipe Gheller, Daniela Nunes Shinzato, Thainá Soares Miranda

Resumo


Caracterização do problema: A analogia feita ainda no ano de 1981 por San Martin entre um bloco de gelo que flutua na água – um iceberg – e sua porção maior, submersa e invisível ao horizonte clínico e que corresponde às doenças subclínicas ou infecções inaparentes, demonstra que a maior parte destas está na base, ajudando a compor as necessidades em saúde não sentidas, a parte do iceberg que não enxergamos. Se o indivíduo não sente ou não percebe a doença, não surge uma necessidade e, logo, não procura o serviço de saúde. Na área em que a UBSF Parque do Sol abrange, não é diferente. Tratando-se da população idosa, é evidente que uma parcela não procura os serviços de saúde por falta de conhecimento, educação em saúde ou mesmo dificuldade no deslocamento. Concomitante a esse problema em saúde, está a falta de oferta de profissionais que busquem: esclarecer doenças, tirar dúvidas, estimular o auto-cuidado e a capacidade funcional dessa população - para diminuir tais necessidades não sentidas, que, como comprovou o autor supracitado, contribui ainda mais para grande parte do “Iceberg das Doenças”. Tendo consciência da teoria e enxergando o fato na prática, acadêmicos de medicina atuantes no PET-SAÚDE em parceria com o SESC desenvolveram atividades com grupos de idosos, esclarecendo dúvidas que promovem melhora na qualidade de vida da população-alvo. Descrição da experiência: Durante três meses, uma vez por semana, acadêmicos do primeiro e segundo anos de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul elaboraram atividades cujos temas se relacionavam com doenças prevalentes na faixa etária acima de 60 anos. Alguns dos temas abordados foram: Osteoporose e como preveni-la, Doença de Alzheimer, Estimulando o Cérebro, Atividades de Alongamento, Oficina de Dança e Higiene Pessoal. As práticas educativas durante os encontros seguiram a proposta participativa e interativa, seguindo a da Teoria da Ação Dialógica de Paulo Freire caracterizada e distinguida em sua obra “Na Pedagogia do Oprimido”. Este foi o método escolhido para desenvolver as atividades devido a sua capacidade de favorecer a livre expressão, sobretudo para pessoas acima de 60 anos, sobre suas experiências, sentimentos e emoções nesta fase da vida, contando ainda com um ambiente de colaboração, união e sincretismo cultural. Neste sentido os temas foram discutidos oportunizando-se também a fala dos idosos presentes para a percepção do conhecimento prévio dos mesmos sobre o assunto em questão. Além disso, foram utilizados outros meios de comunicação tais como televisão para a apresentação de breves vídeos educativos, aparelho de som para as oficinas de danças e cartazes elaborados pelos próprios participantes, a partir do conhecimento adquirido e somado ao já existente. Em todo o desenvolvimento dos encontros semanais, pretendeu-se estimular a melhoria na qualidade de vida, orientar para escolhas mais saudáveis, auxiliar no processo de conscientização sobre a saúde de forma global. Pensando ainda nas necessidades não sentidas, os acadêmicos incentivaram e orientaram os participantes a procurarem os serviços de saúde com maior frequência, a fim de prevenir e promover a saúde dos mesmos. Outro grande ganho das atividades realizadas, que se demostravam verdadeiras rodas de conversas, foi a oportunidade de crescimento e a maturação dos graduandos em medicina que se surpreenderam ao vivenciar outras formas de promover saúde na atenção básica, usando-a, assim, não apenas no campo do conhecimento científico incrementado as disciplinas da graduação, mas ajudando-os a experimentar a partilha de informações, de forma participativa, diferenciada, escutando, trocando, percebendo a essência da conversa, a importância da interação neste processo e visualizando a cada prática, a importância de seu papel no processo de conscientização dos indivíduos. Além da constatação de que a Atenção Primária Básica é fundamental e o papel do médico nesse contexto ainda é deficitário. Efeitos alcançados: Como o profissional generalista, capacitado em atuar em todos os níveis de atenção à saúde e articular ensino/assistência, é o perfil traçado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, constatamos a contribuição positiva da inserção do aluno de graduação na ESF, visto que, os estudantes tornam-se conhecedores e potenciais modificadores da realidade. O julgamento favorável dos usuários em relação à presença e a colaboração em atividades voltadas à humanização, ao cuidado e à qualificação da atenção à saúde torna-se um subsídio para a formação de profissionais não somente preparados para o mercado de trabalho, mas críticos e conscientes da realidade social na qual está inserido e capacitado para desenvolver ações voltadas à prevenção, promoção e educação em saúde, ou seja, profissionais socialmente referenciados e comprometidos. Recomendações: A formação dos futuros profissionais de saúde precisa ir além das práticas atuais e avançar no delineamento dos possíveis cenários sociais nos quais estarão inseridos os atuais estudantes, identificando as diferentes necessidades de saúde da população e ampliando o foco da formação profissional. Com relação à saúde coletiva, praticar o exercício da escuta proporcionando a fala das pessoas, reconhecerem seus conflitos, dificuldades e necessidades, estabelecer em conjunto parcerias buscando soluções, através da relação dialógica e atividades interativas. Agindo dessa maneira, o “Iceberg das Doenças” poderia sofrer grandes modificações, com a vantagem de não serem ações dispendiosas para os serviços de saúde, uma vez que a principal ferramenta necessária para tais mudanças é o futuro profissional, porém, com um poder de enxergar além das enfermidades. Esse seria um importante passo a ser dado contribuindo para a formação de um médico melhor preparado para a atenção à saúde integral e familiar, ao estimular o crescimento e a apropriação da metodologia participativa pelos acadêmicos de medicina, desde o início de sua formação. Espera-se, seguindo essa proposta, uma maior oferta de médicos interessados e comprometidos com a Atenção Básica.