Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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IMPLEMENTANDO METODOLOGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM ENFERMAGEM: UMA ARTICULAÇÃO ENTRE ATIVIDADE FÍSICA E PROMOÇÃO À SAÚDE
Livia Angeli Silva

Resumo


Os efeitos positivos da atividade física para a saúde vêm sendo comprovados cientificamente nos âmbitos biológicos, psicológicos e sociais1,2, corroborando para a apropriação desta prática nas ações de promoção à saúde. Todavia, numa lógica hegemônica de formação ainda fragmentada dos cursos de graduação em saúde, essa e outras temáticas relevantes para as ações de promoção à saúde, são trabalhadas de forma superficial, exceto nos cursos específicos, como é o caso da Educação Física. O enfermeiro, apesar de corresponsável por ações de promoção à saúde, geralmente, não possui em sua formação uma fundamentação teórica dessa temática, podendo desencadear uma subutilização de conhecimento. Percebe-se que mesmo quando tais conhecimentos são trabalhados, ainda é numa perspectiva empírica, levando o enfermeiro a adotar uma conduta prescritiva. Isso reflete a importância de discutir sobre os conteúdos, relacionados à atividade física, a serem trabalhados nos cursos de graduação em saúde, bem como sobre as metodologias a serem usadas para a apropriação desse conhecimento, assim como para o desenvolvimento de ações de promoção à saúde e sobre as diferentes estratégias necessárias para motivar as mudanças de atitudes junto à população. Este trabalho objetivou socializar uma experiência de prática educativa acerca da importância da atividade física para promoção à saúde. Na referida atividade educativa buscou-se discutir uma proposta de conteúdos necessários para a graduação de enfermagem, a partir da auto-avaliação do estudante acerca de sua prática de atividade física e suas possibilidades como agente transformador. A proposta foi planejada e executada por mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e contou com a participação de 17 discentes do 6º semestre da graduação em Enfermagem da referida instituição. Foi realizada uma produção audiovisual documentando a atividade desenvolvida, que teve como fundamentação teórica as concepções da aprendizagem significativa formulada pelo psicólogo norte-americano Ausubel3, e da problematização enfatizada por Paulo Freire nas últimas décadas do sec. XX. Para orientar o planejamento das atividades, utilizou-se as etapas metodológicas apresentadas por Saviani4 na Pedagogia Histórico-crítica, a saber: a prática social, a problematização, a instrumentalização, a cartase e a prática social. Para cada etapa foram escolhidas técnicas e/ou instrumentos que atendessem aos seus objetivos. Na primeira etapa, parte-se do pressuposto que a atividade física é um tema do cotidiano e com bastante evidência, a prática social é todo essa bagagem trazida pelos sujeitos sobre o tema. Logo, o trabalho começa no momento em que discentes e docentes se preparam para o momento presencial em questão. Em sala de aula, iniciou-se o trabalho presencial e a princípio, como forma de tornar a aprendizagem significativa para os discentes, desenvolveu-se a segunda etapa que se constitui na problematização. Para este momento, utilizou-se a aplicação de uma auto-avaliação quanto à prática de atividade física através do instrumento adaptado e intitulado Pentágono do Bem-estar, formulado por Nahas5, e que foi readaptado para esta atividade. A demonstração gráfica dos resultados obtidos através da aplicação do questionário individual, que incluiu características de atividade física habitual e do estilo de vida, foi demonstrada em figura no formato de uma estrela de cinco pontas, permitindo ao participante analisar sua própria prática. A etapa seguinte proposta por Saviani, definida como instrumentalização, consiste no processo de apropriação dos instrumentos e signos produzidos pela humanidade, tanto os que fazem parte da herança cultural como as novas criações da contemporaneidade dentro das diversas formas de produção de conhecimento e vivências. Essa etapa foi desenvolvida a partir da técnica de painel integrado, que se constituiu de dois momentos: o primeiro, no qual a turma foi dividida em quatro grupos e cada grupo leu e discutiu um texto acerca do tema; o segundo, em que foram desmembrados os grupos iniciais e formados quatro novos grupos, possibilitando a socialização das informações de cada texto. A cartase, quarta etapa, constitui-se como a construção de formas de pensar e agir produzidas histórica e socialmente, as quais resultam de um longo processo educativo. Para que as reflexões e trocas fossem propiciadas foi utilizada a técnica da roda de conversas, em que o debate foi aberto entre discentes e facilitadores fazendo a correlação com a prática nos diferentes espaços sociais e de trabalho da enfermagem. A cartase também propiciou a realização de parte da verificação de aprendizagem. Com isso espera-se que a próxima etapa, a prática social, seja concretizada nos espaços extraclasse, onde o conhecimento construído possibilite a transformação das condições sociais objetivas, tanto das instituições de ensino como da sociedade em geral, perpassando também pela transformação dos próprios professores e alunos. No final das atividades os discentes procederam à avaliação da abordagem metodológica. Em respeito aos aspectos éticos, os participantes da atividade assinaram termo de consentimento autorizando a divulgação dos resultados obtidos, assim como a utilização das imagens produzidas. Como resultados foram observados: envolvimento da turma nas etapas do processo; reconhecimento entre os discentes da necessidade do conteúdo na graduação, e ainda a concordância com a proposta de conteúdo apresentada durante a atividade; reflexões por parte dos acadêmicos sobre a complexidade de se trabalhar essa temática nos diferentes cenários da Saúde Coletiva, bem como das concepções que contribuem e/ou dificultam essa prática no cotidiano. As metodologias desenvolvidas nesta atividade também foram avaliadas positivamente pelos participantes. Assim, a experiência oportunizou reflexões acerca do processo de formação do Enfermeiro, apontando para a necessidade de conhecer o que pensam os estudantes e docentes sobre essa e outras temática voltadas à promoção da saúde. Tais reflexões se estendem pelas reais possibilidades de aperfeiçoamentos dos conteúdos e maior utilização de metodologias ativas nos currículos da graduação. 1. Nieman D. C. Exercício e Saúde. Como se Prevenir de Doenças Usando o Exercício Como seu Medicamento. São Paulo: Manole, 1999.2. Pitanga F. J. G. Epidemiologia da Atividade Física, Exercício Físico e Saúde. Salvador: Editora do Autor, 2001.3. Ausubel D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.4. Saviane D. Escola e democracia. São Paulo, Cortez, 1984.5. Nahas M.V. O pentágono do bem-estar. Boletim do NUPAF, Florianópolis, v.2, n.7, 1996.