Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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INÉDITO VIÁVEL PARA PROMOÇÃO DA CULTURA, CIÊNCIA E SAÚDE
Letícia Nunes, Eduardo Rocha, Ana Maria Oliveira, Jacqueline Antunes, Simone Chudo, Hans Fernando Dohmann, Agentes Culturais de Saúde, Flávio Alcoforado, Vitor Pordeus, Michel Wassersten, Allyson Silvério, Thamara Santos

Resumo


INTRODUÇÃO O Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, desenvolve ações de promoção de saúde por meio da Educação Popular em Saúde. As práticas são fundamentadas nos princípios do Sistema Único de Saúde, quais sejam: universalidade, integralidade e equidade; é praticado o conceito holístico de que saúde não é antônimo de doença, que esta é multicausal e coletiva. Sendo assim, contrapõe o modelo biomédico vigente e anuncia a medicina comunitária, horizontal, produzida por todos e com poucos recursos, compondo o inédito viável para promoção da cultura, ciência e saúde. OBJETIVO Relatar e refletir sobre a experiência do Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo, realizado no Rio de Janeiro, baseado na coleta de depoimentos e relatos de experiências sistematizados em torno das opções teóricas assumidas e dos resultados conseguidos. A base de dados foi o endereço eletrônico www.nccsrio.blogspot.com. RESULTADOS As ações são desenvolvidas em 14 comunidades populares cariocas – favelas - por meio de Escolas Populares de Saúde, orientadas por um grupo de 40 Agentes Culturais de Saúde (ACUS). Tais Agentes eram Auxiliares de Controle de Endemias orientados a se preocuparem apenas com a prevenção à dengue. Entretanto, inconformados com a manutenção da abordagem didático-prescritiva-repressiva, ao saberem da existência do Núcleo, passaram a promover saúde. Segundo relato de uma ACUS: “o trabalho mecânico de entrar e sair das casas procurando depósitos de água deu lugar à procura de vidas latentes, ora felizes ora agoniadas, vidas com dificuldades, mas prazerosas”. Durante Rodas de Conversas, tais Agentes dialogam com lideranças comunitárias e moradores. Dentre algumas ações promovidas, destacam-se as oficinas itinerantes: Mulheres Incríveis, Cultura e Saúde da População Negra, Canto Popular como Terapia; oficinas de teatro, contação de histórias, reaproveitamento de inservíveis, plantio de hortas medicinais, produção de sabão a partir de óleo reutilizado, relacionamento com Escolas Municipais, busca pela ancestralidade e valorização do patrimônio cultural. As ações expressivas são oferecidas para livre e espontânea participação. Citando as Escolas, tem-se: Morro Azul, Complexo do Alemão, Vigário Geral, Vila Cruzeiro, Nova Brasília, Morro do Adeus, Morro do Urubu, Yemanjá de Água Santa, Manguariba, Palmares, Cora Coralina, Guaratiba, Sepetiba e Pedra do Sal. Compõe o quadro, a Clínica da Família Cantagalo Pavão Pavãozinho, a Unidade Cultural de Saúde, na qual desenvolvem-se colegiado de gestão participativa e Palha-SUS. Nesse ambiente, os Agentes Comunitários de Saúde trabalham com liberdade, desenvolvem projetos de melhoria das relações entre si e com os clientes e promovem saúde utilizando diversas metodologias, como festas para idosos. Há como Territórios de Cidadania: o Instituto Nise da Silveira, o Museu de Imagens do Inconsciente, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Espaço de Cidadania Fazenda Modelo. São promovidas visitas guiadas a esses locais e realizados estudos sobre os temas com moradores de diversas comunidades, sem limitação de idade. Mensalmente, há três anos, são realizadas Celebrações da Saúde e da Cidadania em diversas localidades do município. Esse espetáculo público agrega entre 2 a 5 mil pessoas em torno do conceito de promoção de saúde. É instalada, por 5 horas, uma Feira Medieval de Arte e Ciência, na qual ratifica-se que todo ser humano é artista e cientista, curioso e criativo e que é possível promover saúde pública integral de qualidade. No centro, na tenda principal, atores comunitários se apresentam no espaço público, a fim de valorizar e legitimar o saber e o protagonismo populares. No desenrolar da Celebração, apresentam-se peças de teatro, manifestadas por atores do Laboratório Tupinagô do Teatro de Revista Científica, os quais incentivam os espectadores a se utilizarem dos figurinos disponibilizados e se colocarem em movimento. O Conjunto Experimental Retreta do Apocalipse, composto por 12 músicos além do maestro, produz música de qualidade ao vivo. Ao redor do evento principal, há tendas de parcerias que orientam sobre alimentação saudável, hanseníase, tuberculose, tabagismo, doenças sexualmente transmissíveis, amamentação, controle de dengue, aferição de pressão, massagem, doação de mudas. Anualmente, realiza-se a Oficina de Imunologia para o Cidadão com o intuito de democratizar os saberes, indo à montante da tradição, uma vez que a ciência normal concentra o conhecimento nas Universidades e difunde as novidades principalmente nos meios científicos, excluindo a população em geral do processo de descoberta de novos paradigmas. Durante esse espaço de negação à educação bancária, são utilizados os teóricos do projeto como temas geradores de discussão. As bases teóricas que fundamentam a prática cotidiana são: a biologia do amar e do conhecer de Humberto Maturana, a imunologia fisiológica de Nelson Vaz, a pedagogia da autonomia de Paulo Freire, a emoção de lidar de Nise da Silveira, a ética de Baruch de Spinoza, os poemas críticos de Drummond de Andrade, a dramaturgia de Bertolt Brecht, o teatro de rua horizontal de Amir Haddad, a educação libertadora de José Pacheco e a saúde cultural de Heloísa Helena Costa. No ano de 2012 foram abertos horizontes em Santo André, São Paulo e em João Pessoa, Paraíba. Foi trabalhado o conceito ampliado de saúde e criado um Núcleo sob a direção de atores locais a fim de continuar o processo de transformação da realidade. O Núcleo, junto com outros movimentos de saúde e educação, compõem a Universidade Popular de Arte e Ciência (UPAC), a qual tem sido construída por trocas de experiências. Entre 7 e 8 de julho de 2011 ocorreu o I Congresso Aberto da UPAC, no Rio de Janeiro, o qual contou com a participação de 654 integrantes. O II Congresso ocorrerá no mesmo município em julho de 2012. CONCLUSÃO Um novo paradigma biológico-psicológico-científico-político-cultural tem sido desenvolvido, baseado no Amor (H. Maturana), sendo esse entendido como aceitar o outro como legítimo outro na convivência. Entendendo o conversar como sendo composto pelo linguajar e pelo emocionar. E a emoção, por sua vez, como a base de todas as ações humanas, inclusive da racionalidade. Critica-se a postura cartesiana/darwiniana e propõe-se uma articulação da biologia com a sociedade humana, naturalmente baseada na cooperação e não na competição, uma vez que esta nega a potência de si mesmo e do outro. A fim de construir o espaço das verdadeiras cidadania e democracia, o Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde promove Ação Cultural para a Liberdade (P. Freire), que denuncia a mediocridade e anuncia sua cura, desenvolve o pensar crítico, utilizando do afeto catalisador da Emoção do Lidar (N. Silveira), atua estimulando e não obrigando, perguntando e não respondendo, cuidando e não julgando, trabalhando com e não sobre, pedindo licença e não invadindo, acolhendo.