Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Inserção discente em Unidades de Saúde da Família: vivência no trabalho em saúde e suas representações.
Iramara Lima Ribeiro, Antonio Medeiros Júnior, Cláudia Christianne Barros de Melo Medeiros

Resumo


INTRODUÇÃO: Os cursos de graduação na área de saúde no Brasil têm inserido seus alunos nos serviços de saúde, de modo a formarem profissionais críticos e preparados ao mercado de trabalho. Nesta perspectiva, as instituições de ensino superior carecem direcionar a educação para preparar profissionais que interajam, de forma critica, no processo de constantes transformações da sociedade e mudanças no quadro epidemiológico brasileiro1. Para tal, a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais tem como objetivo formar profissionais aptos a transformar a realidade prática da área da saúde brasileira em benefício da sociedade2. Muitos recursos didático-metodológicos se dirigem para efetivar a formação com a participação ativa dos sujeitos imbricados neste processo. A Atividade de Educação Saúde e Cidadania – SACI, conduzida multidisciplinarmente nos cursos de graduação em saúde da UFRN, integra ações de ensino, pesquisa e extensão, desenvolvidas em Unidades de Saúde da Família (USF). Baseada na problematização, valoriza diversos saberes aproximando a Universidade aos Serviços de Saúde e a Comunidade. Utiliza portfólios de aprendizagem como recurso avaliativo próximo do contexto das pedagogias ativas. Estes proporcionam aos alunos elaborações cognitivas de suas vivências e contêm registros de intervenções feitas coletivamente ao início e final da disciplina. Para analisá-los, utilizou-se a teoria das Representações Sociais definida por Franco3, como “elaborações mentais construídas socialmente, a partir da dinâmica que se estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento.” O objetivo deste estudo foi identificar representações na vivência do trabalho em saúde por estudantes que cursaram a disciplina Saci em 2010.1nas USF de Natal-RN. MÉTODO: Trata-se de uma análise documental temática que utilizou dois portfólios de aprendizagem escritos em 2010.1 por alunos de medicina e enfermagem, escritos na SACI, segundo Bardin4, direcionada especialmente a dois momentos proporcionados pelo Arco de Maguerez: a observação e intervenção na realidade, no sentido de aprofundar a análise dos conhecimentos prévios dos alunos e aqueles mobilizados na intervenção. Assim, as categorias foram estabelecidas a posteriori. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFRN sob o protocolo 638/11. RESULTADOS: Na primeira categoria os alunos trazem o conhecimento prévio do “trabalho em equipe” como necessário e complexo e, na intervenção, requerente de planejamento e cooperação. É desgastante, mas recompensador. Destacam ainda a falta de materiais para desenvolver as ações, gerando desestímulo. O trabalho em equipe apreendido refere-se àquele executado pelos membros da SACI. Percebe-se que os discentes já possuíam noção da complexidade de se trabalhar em grupo, porém, na medida em que as atividades ocorriam na comunidade, o conceito se aprimorou. Permaneceu a idéia de que há dificuldades em aceitar opiniões divergentes, somada a possibilidades de bons resultados quando são traçados e consensuados planos na equipe. Para Ferreira, Varga e Silva5 existem problemas de falta de objetivos comuns, disputa de poder e dificuldade de ver o trabalho em equipe para além da USF, contudo a importância da atuação dos estudantes em equipes multiprofissionais, embora conflituosa, permite gerar novos conceitos no âmbito profissional. Na categoria seguinte a “cidadania” é vista como transformadora de realidades, apesar de pouco exercida na comunidade e na sociedade. Porém, voltando o olhar para a terceira categoria, “a relação usuário-serviço”, enxergavam os usuários como meros receptores de informação. Observando a realidade, as equipes de saúde foram entendidas pelos alunos, como hábeis a evitar a maior ocorrência de doenças, a partir da educação dos usuários. Na intervenção, consideram o usuário como co-responsável no cuidado com a saúde e valorizam o reconhecimento da população quanto aos trabalhos realizados pelas equipes. Silva Pinto, Formigli e Rêgo6 também encontraram como aprendizado dos alunos, a importância da população na melhoria das condições de saúde. Em nosso estudo, entendem como limitante do exercício da democracia participativa, os sujeitos desconhecerem seus direitos e priorizarem problemas segundo suas necessidades imediatas. Denominada “métodos de ensino”, na quarta categoria, os alunos avaliam as disciplinas mais tradicionais impositivas e impessoais. Por fim, refletem sobre as contribuições da SACI em suas formações, consideram positiva a sua metodologia e reconhecem que o perfil profissional, estimulado pelo método tradicional de ensino, é inadequado as necessidades sociais. CONCLUSÃO: Nas representações, havia noções acerca do trabalho em equipe, cidadania, relação usuário-serviço e métodos de ensino, cujos conceitos foram reelaborados nas vivências, reforçando a importância de inserir os alunos nos serviços de saúde. Percebe-se que os discentes desenvolveram uma aprendizagem significativa, motivados pela ação-reflexão-ação. O aluno forma elos entre os conhecimentos prévios e os novos em sua estrutura cognitiva, a partir de uma prática pedagógica crítica, reflexiva e comprometida com o que propõe. Assim, observamos a concretude dos modelos mentais em práticas efetivas. Salientamos que ao falarmos em reelaborações as consideramos como processos criativos, tidos por Sancovschi7, como algo compartilhado coletivamente, possibilitando representações de ação no mundo. REFERÊNCIAS: 1. MARIN, Maria José Sanches et. al. O Uso do Portfólio Reflexivo no Curso de Medicina: Percepção dos Estudantes. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 34, n. 2, p. 191-198. 2010. 2. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES, 3 de abril de 2002. Institui diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em odontologia. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 4 de mar. 2002. Seção 1, p. 10. 3. FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Representações Sociais, Ideologia e Desenvolvimento da Consciência. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, p. 169-186, jan./abr. 2004. 4. BARDIN, Laurence (1977). Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. 3ed. Lisboa: Edições 70, 2004. 223p. 5. FERREIRA, Ricardo Corrêa; VARGA, Cássia Regina Rodrigues; SILVA, Roseli Ferreira da. Trabalho em equipe multiprofissional: a perspectiva dos residentes médicos em saúde da família. Ciência & Saúde Coletiva, v.14, supl. 1, p.1421-1428, 2009. Disponível em: < http: //dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000800015>. Acesso em: 04 mar. 2012. 6. SILVA PINTO, Lorene Louise; FORMIGLI, Vera Lúcia Almeida; RÊGO, Rita de Cássia Franco. A dor e a delícia de aprender com o SUS: integração ensino-serviço na percepção dos internos em medicina social. Revista Baiana de Saúde Pública, v.31, n.1, jan./jun. 2007. 7. SANCOVSCHI, Beatriz. Sobre a noção de representação em S.Moscovici e F.Varela. Psicologia e Sociedade, v.19, n.2, p. 7-14. 2007.