Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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INTEGRANDO A INTERDISCIPLINARIDADE NO SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA PERSPECTIVA DO ESTÁGIO DE VIVÊNCIA NO SUS - SENHOR DO BONFIM/BA
Adriana Lima Monteiro, Mariana Nossa Aragão, Nilda Nunes Ivo

Resumo


INTEGRANDO A INTERDISCIPLINARIDADE NO SUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA PERSPECTIVA DO ESTÁGIO DE VIVÊNCIA NO SUS - SENHOR DO BONFIM/BA ARAGÃO, M. N.; MONTEIRO, A. L.; IVO, N. N. O processo de reorientação do setor saúde vem passando por transformações protagonizadas por importantes segmentos sociais e políticos, o que tem conduzido ao estabelecimento de novos desafios na prática educativa em saúde e principalmente na formação dos profissionais de saúde.Este cenário de desafios revela a imprescindibilidade de um olhar plural da equipe de saúde, em que os integrantes desenvolvem trabalhos em conjunto, objetivando compartilhar soluções e adversidades visando um consenso entre as disciplinas, sem negligenciar as suas respectivas especificidades. Um modelo interdisciplinar que permite uma comunicação horizontal entre a equipe e impulsiona questionamentos acerca das certezas profissionais, viabilizando maior diversidade de ações. (Costa Neto, 2001 ; Perinini et al 2001)Nessa perspectiva, evidencia-se a necessidade de englobar a interdisciplinaridade no processo de formação. A grande aposta do Estágio de Vivência no SUS é justamente ser um dispositivo que proporciona para os estudantes de graduação em saúde experienciarem essa interdisciplinaridade, (con) vivendo com outros graduandos de diversos cursos da saúde, conhecendo o cotidiano das ações e serviços das equipes no município.O EVSUS é norteado por quatro eixos temáticos: Políticas Públicas, Modelos de Atenção, Formação em Saúde e Controle Social, ao permitir ao estudante vivenciar in loco a dinâmica dos serviços de saúde e a estruturação da rede, sensibilizando-o para um olhar crítico e reflexivo acerca dos processos pelos quais perpassam a constituição dos serviços, suas práticas e sistemas de saúde, despertando-o para outras formas complementares de abordagem na construção de conhecimentos em espaço favorável para o exercício de uma postura ética, crítica e, sobretudo, transformadora. Ademais, o EVSUS busca aproximar o estudante da realidade do SUS, visando uma transformação na cultura interna das Instituições de Ensino Superior, no intuito de estreitar as relações entre os atores da formação, os campos de prática e os movimentos sociais, vislumbrando mudanças curriculares comprometidas com a realidade do sistema, entendendo que a formação engloba além de conhecimento da realidade do SUS, aspectos de produção de subjetividade, habilidades técnicas e de pensamento. (BRASIL, 2004)Objetiva-se, com este estudo, socializar as reflexões vivenciadas nos espaços de aprendizagem durante o EVSUS e analisar a importância da interdisciplinaridade como ferramenta de interação e ideário de equipe de saúde. Utilizou-se uma metodologia participativa com abordagem problematizadora, a partir de experiências concretas dos participantes, com diferentes ferramentas para fomentar e nortear as discussões, como textos, vídeos, dinâmicas, rodas de conversa e diversas outras práticas pedagógicas.O EVSUS, sensibilizou os estudantes, despertando o interesse e conhecimento em outras áreas de atuação, percebendo possíveis conexões entre os diversos campos da saúde. Os espaços formais e informais de discussões fizeram emergir um olhar crítico e receptivo às particularidades de cada seara do conhecimento, convergindo para uma visão global das práticas de profissionais.Além de vivenciada entre os próprios estudantes, a interdisciplinaridade pode ser observada através das visitas técnicas em alguns serviços, onde os profissionais apresentavam discursos articulados e alinhados, com uma visão consciente da interdepência e das relações entre as respectivas funções exercidas.Em contrapartida, em alguns serviços há um distanciamento da abordagem interdisciplinar nas equipes de saúde, prevalecendo a multiprofissionalidade - em que não há cooperação e diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, apesar de atuarem simutaneamente em uma mesma equipe (ALMEIDA FILHO, 1997). Exemplo disso é falta de sinergia entre os profissionais, atendimentos isolados, sem que haja compartilhamento de informações e discussões acerca dos atendimentos aos usuários, contrapondo-se ao princípio da integralidade do SUS, e consequentemente, ao conceito ampliado de saúde preconizado pela OMS.Os debates proporcionaram um importante espaço de troca de saberes, de forma democrática e equânime, onde o estagiário se configurou como sujeito construtor do processo de aprendizagem, através do desenvolvimento de atividades pactuadas pelo grupo. A diversificação dos cenários de aprendizagem durante a vivência, incluindo local e sujeitos envolvidos, instigou as participante a questionamentos, a partir de problemas encontrados, e a refletirem para a necessidade de novas formas pedagógicas de construção do conhecimento. A prática experimentada despertou nos participantes uma visão comprometida com a transformação político-social, como futuros profissionais de saúde, instigando-os a participarem ativamente na construção e consolidação do SUS.Durante o estágio em Senhor do Bonfim-BA foram encontrados alguns desafios, como o pouco envolvimento da Secretaria de Saúde do município e o desconhecimento de alguns profissionais sobre as visitas. Apesar disso, o estágio alcançou os objetivos do projeto, pois resultou no despertar dos estudantes para o SUS, na vivência do cotidiano do serviço, nas discussões em torno nos entraves e avanços do sistema e na construção de novas práticas pedagógicas e principalmente as mudanças de paradigmas e constante (des) construções de pensamentos.Constatou-se que tal vivência fortificou o vínculo entre estudantes, se configurando como laboratório de aprendizagem, fazendo-se conhecer a realidade do SUS a partir da vivência in loco, resultando em uma formação profissional mais comprometida com o princípio da integralidade. Sendo assim, a participação de estudantes de diferentes cursos do setor saúde, fez com que a produção do conhecimento fosse composta por diversos olhares, o que contribuiu para a construção de um saber transformador. REFERÊNCIASALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e Saúde Coletiva. Ciência e Saúde Coletiva, 11 (1/2), 1997BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Ver – SUS Brasil: cadernos de textos / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde, 2004COSTA NETO, M. M. (Org.) A implantação da Unidade de Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas da Saúde, Departamento de Atenção Básica, 2000.PEREIRA, A. L. de F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, out, 2003.PERINI, E.; PAIXÃO, H.H.; MODENA C. M.; RODRIGHES, R. N. O individuo e o coletivo: alguns desafios da epidemiologia e da medicina social. Interface – Comunic., Saúde, Educ., v.5, n.8, p.101-18, 2001.