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Intercâmbio entre alunos de Medicina e jovens da Rede de Adolescentes Promotores de Saúde: uma contribuição para a formação cidadã dos futuros médicos
Resumo
A Escola de Medicina Souza Marques é uma instituição privada, que tem como objetivo formar profissionais éticos e comprometidos com a promoção da saúde e a qualidade de vida da população. Nas suas atividades curriculares, busca desenvolver nos alunos habilidades que contribuam com a concretização deste objetivo, motivo pelo qual a Medicina Social ocupa uma parte significativa do currículo nos primeiros anos. As aulas de Medicina Social Prática utilizam dinâmicas de grupo e outras técnicas que favorecem a reflexão crítica, a criatividade, a expressão de sentimentos e a troca de experiências. São debatidos temas como direitos, relações de poder, educação e saúde, acolhimento, diversidade e preconceito. Após visita aos campos de prática e reflexão em sala de aula, os alunos elaboram atividades para serem realizadas nestes espaços. Toda a metodologia de trabalho com os alunos tem como objetivo ampliar seus horizontes, sua capacidade de escuta, de comunicação e sua capacidade de rever preconceitos e identificar as potencialidades dos diferentes grupos sociais e comunidades. A proposta deste trabalho é apresentar a experiência de intercâmbio entre os alunos do 1º ano de Medicina da Souza Marques e os jovens da Rede de Adolescentes Promotores da Saúde, o RAP da Saúde, projeto de protagonismo juvenil da Secretaria Municipal de Saúde do RJ desenvolvido por meio de convênio com a ONG CEDAPS, Centro de Promoção da Saúde, que recebeu em 2011 o Prêmio Pró Equidade em Saúde, uma iniciativa CONASEMS, Fiocruz e Ministério da Saúde. O Rio de Janeiro é uma cidade que oferece muitas oportunidades e, ao mesmo tempo, revela grandes disparidades. As comunidades populares são territórios onde convergem fatores negativos que concorrem para maior vulnerabilidade dos seus residentes frente a diferentes agravos a saúde. Essas iniquidades se expressam de forma mais contundente nas taxas de homicídio de adolescentes e jovens, sobretudo entre os rapazes negros. Violência, preconceitos, machismo, imediatismo e falta de perspectivas são fatores que contribuem para a manutenção deste quadro, demandando respostas das políticas públicas. O protagonismo juvenil tem sido apontado como estratégia privilegiada para promover a saúde e o desenvolvimento do adolescente e da comunidade na qual está inserido (Brasil, 1999). O envolvimento direto do adolescente no planejamento, implementação e avaliação das ações aumenta sua autoestima, favorece sua autonomia, amplia suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, melhora sua qualidade de vida e contribui para dar legitimidade e relevância ao trabalho do setor saúde junto a outros jovens. O Rap da Saúde se fundamenta no referencial teórico do protagonismo juvenil (Costa, 1999) e aposta nas potencialidades, criatividade e dinamismo de adolescentes e jovens das comunidades populares, capacitando-os como promotores de saúde. Recebem treinamento em temas de saúde e cidadania, metodologias participativas, desenvolvimento emocional, mapeamento comunitário e técnicas de comunicação. Os adolescentes são acompanhados por jovens mais experientes, os dinamizadores. Uma equipe de profissionais, estagiários e parceiros apoia os jovens. O RAP atua de diferentes formas, vinculado a grupos comunitários, como os Grupos Articuladores Locais da Plataforma dos Centros Urbanos do UNICEF, os GAL, ou ligado a unidades de saúde, como o Adolescentro Paulo Freire, Adolescentro Augusto Boal/CMS Américo Veloso, CAPs AD Raul Seixas, CMS Masao Goto, CMS Décio Amaral e Clínica da Família do Alemão. Em função da complexidade do projeto e do tamanho da cidade, as atividades desenvolvidas pelos jovens do RAP da Saúde são as mais variadas possíveis: oficinas, contação de histórias e apresentação de esquetes teatrais em escolas, unidades de saúde, igrejas, feiras de saúde, praças, etc; panfletagem em ônibus, eventos, ciclovias; produção e apresentação de programas de rádio; apoio às gerências da SMSDC na elaboração de materiais educativos; apoio ao lançamento da caderneta do adolescente; grafittis para a prevenção da dengue; participação em grupos de trabalho como os Núcleos Regionais de saúde na escola e na creche; participação em treinamentos de profissionais, estudantes e residentes; organização do Fórum Carioca de Juventude e Saúde; participação em espaços de participação política, como as conferências de juventude. Entre os temas trabalhados destacam-se os direitos sexuais e reprodutivos, prevenção das DST/Aids e hepatites, saúde da população negra, tabagismo, prevenção das violências, dengue, nutrição. Um dos grandes desafios do projeto é o de encontrar metodologias que contribuam para ampliar a reflexão sobre temas de saúde e para qualificar o diálogo com outros jovens e as comunidades em geral. Considerando a potencialidade da linguagem audiovisual para a promoção da saúde, os jovens do RAP vêm desenvolvendo vídeos a partir do trabalho com a metodologia Cineduc – Cinema e Educação. Todo o processo é feito por eles: roteiro, direção, interpretação e edição. Já foram produzidos vídeos sobre temas variados como sexualidade, gravidez, uso de álcool, violência, preconceito, violência no namoro, mobilidade urbana, protagonismo juvenil. Os vídeos são distribuídos às unidades de saúde, escolas e parceiros e estão disponíveis no Youtube. São usados por alunos, professores, lideranças comunitárias e profissionais de diferentes áreas. Na Escola de Medicina Souza Marques, o tema do protagonismo juvenil também merece destaque e se procura valorizar a participação cidadã dos próprios alunos . O tema é trabalhado em aula e, posteriormente, os alunos recebem a visita de jovens do RAP da Saúde para que possam trocar experiências sobre as ações educativas nas comunidades, escolas e unidades de saúde. Além disso, alguns dos vídeos elaborados pelo RAP são usados para trabalhar questões como sexualidade e preconceito. Dentre as atividades da Medicina Social Prática, está uma visita ao Adolescentro Paulo Freire, um dos polos do RAP da Saúde., O Adolescentro é um centro formador de profissionais de saúde, adolescentes e jovens. Conta com uma equipe de profissionais capacitados e voluntários e mantem uma importante articulação com os equipamentos sociais da Prefeitura situados no mesmo prédio, assim como com diferentes instituições da comunidade. Oferece diferentes atividades promotoras de saúde sendo que muitas, como teatro e a dança são coordenadas pelos próprios adolescentes e jovens. Atende principalmente a comunidade da Rocinha. Quando os alunos da Souza Marques visitam o Adolescentro e o Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, onde está situado, toda a visita é coordenada pelos jovens promotores do RAP da Saúde, que têm oportunidade de mostrar para os alunos da Medicina algumas dinâmicas usadas no seu cotidiano de trabalho. É uma vista muito produtiva, que promove grande integração entre os jovens do projeto e os universitários. A troca de experiências entre os jovens da faculdade e os do RAP é sempre apontada pelos alunos como uma das atividades mais produtivas. Muitas das ideias e dinâmicas propostas pelos jovens do RAP são aproveitadas pelos alunos da Souza Marques nas atividades práticas que realizam nas escolas de ensino fundamental. Este intercâmbio de jovens de realidades tão distintas contribui para promover a revisão de preconceitos, aproximar a cidade partida e valorizar, no espaço acadêmico, o saber e a experiência de jovens das comunidades populares. Além disso, ajuda os alunos da Souza Marques a valorizarem sua própria participação cidadã e se perceberem também como jovens protagonistas que contribuem para a melhoria das condições de vida da comunidade em torno da faculdade. Referências: COSTA,A.C.G. O Adolescente como Protagonista. In SCHOR,N; MOTA, M.S.T; BRANCO,V.C (org). Cadernos de Juventude, Saúde e Desenvolvimento, Brasília: Ministério da Saúde, 1999 Rio de Janeiro. RAP da Saúde recebe prêmio pró equidade em saúde. http: //elosdasaude.wordpress.com/2011/07/11/rap-da-saude-recebe-premio-pro-equidade-em-saude