Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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INTERDISCIPLINARIDADE NA FORMAÇÃO EM SAÚDE DE UMA UNIVERSIDADE DO SUL DO BRASIL: HISTÓRIA CONTADA POR DOCENTES
Daiana Kloh, Rode Dilda Machado Silva, Dóris Gomes, Maria Itayra Padilha, Mirian Susskind Borenstein

Resumo


Introdução: As mudanças sociais tem demandado que se transcenda o olhar disciplinar e se paute a formação em saúde numa perspectiva mais ampla e integradora. Deste modo, as escolas vem passando por uma série de transformações conceituais, ideológicas e práticas que dentre outros canais, manifestam-se no discurso e no projeto político pedagógico dos cursos. A dinâmica deste movimento adquire potencial importância considerando-se as iniciativas e políticas de reorientação da formação profissional em saúde pautadas na última década, sendo, o entendimento e as práticas interdisciplinares uma das expressões deste novo olhar. Objetivo: identificar como a interdisciplinaridade se apresenta nos documentos oficiais em vigência e nos discursos dos docentes coordenadores dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia de uma universidade do sul do Brasil no período de 2001 a 2011. Método: Pesquisa qualitativa sócio histórica realizada junto a coordenadores dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia que atuaram no período de 2001-2011 em uma universidade do sul do Brasil, totalizando seis participantes. Escolheu-se o período destacado em virtude do desejo das pesquisadoras em perceber o impacto da publicação das diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação, datadas a partir do ano 2001 até dias atuais. Os docentes coordenadores foram eleitos por conta de seu exercício de liderança política e pedagógica, sendo, em boa parte das situações responsáveis pela direção de processos de mudança, entre estas as mudanças curriculares demandas com a publicação das diretrizes. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista semi estruturada realizada individualmente com auxílio de gravador de voz e análise documental dos currículos e projetos políticos pedagógicos vigentes. Para análise dos dados utilizou-se a proposta operativa de Minayo (2010). O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de Santa Catarina sob o parecer n. 2297. Resultados: As discussões conceituais acerca da interdisciplinaridade parecem ter permeado ao mesmo tempo os três cursos, contudo, a intensidade com a que foram incorporadas ao discurso e as práticas apresentam-se de maneiras diversas. Algumas categorias profissionais e associações de classe parecem ter dado maior destaque ao debate em seus fóruns, o que denotava relevância ao tema, fazendo com que fosse mais permeável. Elementos destacados como promotores deste debate pelos coordenadores do curso de enfermagem foram o crescimento da pós graduação e a formação de pesquisadores que na visão dos docentes dos três cursos permitiu que estes ampliassem horizontes e viessem a ter contato com referenciais e temas antes não pensados e a discussão sobre mudanças curriculares e a expressão da idéia de currículo impulsionado a busca por novos olhares. Reconhece-se a importância dos referenciais provenientes da área de educação neste processo. O que se apresenta como elemento comum a introdução do debate acerca da interdisciplinaridade nos cursos é o movimento de reorientação da formação que adquiriu maior força com a vigência do Sistema Único de Saúde e publicação das diretrizes curriculares nacionais que com maior ou menor grau de impacto fez com que os cursos realizassem reformas em seus currículos e projetos pedagógicos. Nesta direção de assunção da interdisciplinaridade na formação, percebe-se apenas no projeto político pedagógico do curso de enfermagem a expressão de um conceito claro de interdisciplinaridade, bem como este é o curso que apresenta menor resistência à mesma, entretanto, todos os participantes destacam a percepção de algum entendimento e trabalho com a interdisciplinaridade, relatando dificuldades de implantação , fazendo com que ecoe na voz dos coordenadores uma percepção de utopia e divergência conceitual passando da prática ao princípio da interdisciplinaridade. A lógica disciplinar, a departamentalização e as relações de poder entre as categorias profissionais também aparecem como entrave percebido para o sucesso de ações interdisciplinares. As ações relacionadas a introdução da interdisciplinaridade relatadas pelos participantes se dão em sentidos diversos. Os docentes de enfermagem, apesar de reconhecerem maior permeabilidade, relatam que o que se faz é proporcionar interfaces pontuais, pequenas 'ventilações' para dentro, ou seja, entre as disciplinas do currículo e com algumas outras áreas do saber. Já o curso de odontologia entende que suas práticas interdisciplinares se dão em âmbito interno, entre as disciplinas de seu próprio currículo, não conseguindo expandir para uma aproximação com outras áreas não diretamente relacionadas à formação profissional. Entendem que este é um grande avanço e consideram esta prática como vanguarda se comparada a outros cursos. No curso de medicina, os docentes não percebem ações homogêneas, relatando que algumas áreas como a pediatria e a saúde pública procuram trabalhar nesta perspectiva, mas, nas demais disciplinas do curso este convencimento e adesão é ainda uma tentativa. Relata-se que há uma dificuldade de trabalhar de modo interdisciplinar no curso de medicina em virtude do entendimento do profissional médico acerca de sua autonomia. Conclusão: O distanciamento da interdisciplinaridade reside no grau aceitação e no número de experiências nesta direção, apesar todos os cursos denominaram seus currículos como integrados. A interdisciplinaridade na prática ainda se trata de um processo nos cursos pesquisados. As políticas indutoras de reorientação da formação foram às grandes responsáveis pela assunção da interdisciplinaridade no discurso e na prática e de que estas, apesar de inovadoras e já com indícios positivos, não se constituíram de consenso entre os docentes. Possivelmente, esta diversidade de entendimentos seja manifestada em virtude de como as mudanças curriculares e políticas se processaram nos cursos em relação ao envolvimento dos docentes nas discussões e tomadas de decisão. Referência MINAYO, M. C. S. O desafio do Conhecimento. 10 ed. São Paulo: HUCITEC, 2010.