Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Reflexão sobre a práxis da integração Ensino-Serviço-Comunidade na Atenção Primária
Diego Agusto Barbosa, Elisa Maria Dias, Maria Lucia Mazzariol Cyrino, Lindomar Resende, Camila Caligari, Andrea Barbosa, Isabella Gomes, Elen de Sena Nunes, Sérgio Resende Carvalho, Thais Machado Dias, Sarah Barbosa Segalla, Henrique Sater, Cesar Augusto Paro, Fabricio Costa

Resumo


A integração Ensino-Serviço-Comunidade na formação de profissionais de saúde deve ser pactuado entre os atores envolvidos com o objetivo de atender as necessidades de saúde da população. Para isso, faz-se necessário a ciência sobre o que as Instituições de Ensino em Saúde investigam e ensinam, o que os serviços de saúde demandam e o que a comunidade espera/necessita. É inevitável o entrelaçamento rizomático destes três componentes quando se pensa em saúde humanizada e com qualidade. Aliado a isto, um conjunto de leis e medidas governamentais foi criado nos últimos anos para reorientar a formação dos profissionais de saúde com o objetivo de garantir uma assistência a saúde integral. Mas estas mudanças são insuficientes se ocorridas isoladamente, sendo fundamental a incorporação do serviço e comunidade nesta discussão, possibilitando a troca dos diferentes olhares para a concretização da saúde integral. Diante disso, o presente estudo compõe a linha de pesquisa do PET-Saúde/Ministério da Saúde, referente ao grupo “Pesquisa avaliativa sobre a gestão do trabalho e a formação de graduandos e trabalhadores de saúde: explorando fronteiras”, composto por trabalhadores de saúde da Prefeitura Municipal de Campinas e graduandos, pós-graduandos e docentes da Universidade Estadual de Campinas. Tem como primeiro objetivo a compreensão da integração Ensino-Serviço-Comunidade, a partir dos referenciais e percepções dos usuários dos Centros de Saúde DIC III, Aeroporto e São Cristovão, localizados na região sudoeste do município de Campinas-SP os quais são utilizados como campo de estágio por instituições de ensino. O segundo objetivo é a apresentação do material coletado para os profissionais dos três serviços em estudo, com o intuito de conjuntamente refletir, discutir e buscar estratégias transformadoras na práxis da atenção primária. A metodologia foi construída pelos integrantes do grupo de pesquisa concomitante ao desenvolvimento da investigação. Dessa forma, inicialmente, foram realizadas pelos pesquisadores um total de 15 entrevistas semi-estruturada com usuários escolhidos aleatoriamente durante o cotidiano do serviço dos três Centros de Saúde. Vale ressaltar que a aproximação dos usuários e a disponibilidade de sala na unidade para a realização das entrevistas, só foi possível devido ao apoio e atuação dos profissionais das unidades que também participam do projeto. As entrevistas foram compostas por questões que abordavam a percepção do usuário em relação a diversos temas: presença de estudantes nos serviços de saúde, a assistência em saúde realizada por estudantes, o serviço de saúde como um local de aprendizagem para futuros profissionais de saúde, os responsáveis pela formação destes profissionais e a importância da integração ensino-serviço. Após transcrição das entrevistas, estas foram organizadas em quatro categorias, mais especificamente entre as quatro perguntas que se mostraram mais pertinentes e que provocaram maiores apontamentos e questionamentos por parte dos usuários. Posteriormente, os dados coletados nas entrevistas foram apresentados ao grupo de pesquisa, onde foi realizada uma discussão e reflexão, que permitiu a elaboração de uma metodologia/dinâmica para apresentação dos resultados das entrevistas aos profissionais dos Centros de Saúde. Assim, foi realizada uma oficina durante a reunião geral de cada unidade de saúde. As oficinas foram aplicadas pelos estudantes em conjunto com os trabalhadores. Houve uma média de 21 participantes em cada oficina, entre eles, coordenadores, médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e estagiários. As oficinas foram compostas por três momentos: no primeiro momento os participantes foram divididos em pequenos grupos e convidados a responder as mesmas perguntas realizadas aos usuários. No segundo momento foi entregue aos grupos as respostas dos usuários para então discutirem e refletirem sobre o material apresentado e posterior apresentação das reflexões a todos os integrantes da oficina. No terceiro momento, logo após as apresentações de cada grupo, foi iniciado um debate a partir de duas perguntas norteadoras: 1ª) A partir das respostas, como vocês avaliam a atuação conjuntada entre os profissionais, estudantes e usuários? 2ª) Neste caso, como melhorar ou integrar mais o ensino, serviço e usuários?. Os principais apontamentos do debate foram registrados em relatórios realizados pelos pesquisadores. Observou-se que ainda existem fragilidades e abismos entre os nós que podem proporcionar a efetiva integração Ensino-Serviço-Comunidade e garantir uma assistência em saúde de qualidade. Os usuários e os trabalhadores reconhecem os Centros de Saúde como um espaço importante de aprendizado, conhecimento e reflexão sobre os determinantes do processo saúde-doença, além de permitir aproximação com a população e sua realidade através da inserção do estudante no cotidiano de sua assistência e a aprender a trabalhar em equipe. Entretanto, relatam que as unidades não possuem estrutura para atender a demanda da população, menos ainda para receber estudantes. Também foi levantada a crítica de que as instituições de ensino possuem objetivos incongruentes com o serviço em determinados momentos, pois utilizam as unidades apenas como um laboratório de estudos, mas raramente estabelecem alguma parceria ou desenvolvem um trabalho em conjunto e prolongado. As Instituições de Ensino geralmente realizam atividades pontuais na unidade, tangenciam o cotidiano do serviço, não garantem sequência destas e dificilmente dão uma devolutiva para a equipe sobre os resultados da atividade desenvolvida no local. Quanto aos usuários, apresentam falta de confiança e certa insegurança ao serem atendidos por estudantes, além de se sentirem muitas vezes cobaias. Relatam entender a necessidade deste processo de aprendizagem através dos estágios em serviço, mas com a condição dos estudantes serem supervisionados adequadamente. Ao mesmo tempo, relatam ser importante a presença de estudantes nas unidades para garantir uma assistência mais rápida. Apesar dos incentivos governamentais nas transformações curriculares das profissões de saúde, ao buscar atender as reais demandas da população, inserir cada vez mais o estudante nos campos de atividade prática e diminuir o distanciamento entre as instituições de ensino e os serviços de saúde, nota-se que há conflitos entre os modelos e políticas de assistência a saúde encontrados na teoria e na realidade cotidiana da saúde. No decorrer do caminho desta pesquisa-intervenção, foram diversos os momentos de reflexão que afetaram os movimentos da vida dos pesquisadores e dos atores que sofreram intervenção deste processo, garantindo que o estudo apresentasse como centralidade o caminho em relação as metas. Melhor do que conseguir resultados, este estudo proporcionou reflexões com potencialidade de criar estratégias transformadoras da integração ensino-serviço-comunidade.