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O TEATRO DO INVISÍVEL COMO ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: A EXPERIÊNCIA EM UM HOSPITAL DE NÍVEL SECUNDÁRIO EM SOBRAL (CE).
Resumo
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: O Ministério da Saúde em seu caderno de educação popular e saúde lançado em 2007 afirma a necessidade do desenvolvimento de ações de educação em saúde numa perspectiva dialógica, emancipadora, participativa, criativa e que contribua para a autonomia do usuário, no que diz respeito à sua condição de sujeito de direitos e autor de sua trajetória de saúde e doença e autonomia dos profissionais diante da possibilidade de reinventar modos de cuidado mais humanizados, compartilhados e integrais. No Hospital Dr. Estevam Ponte em Sobral (CE), a equipe de assistentes sociais depara-se diariamente com uma leva de usuários a procura de atendimento nesta unidade de atenção secundária conveniada ao Sistema Único de Saúde. Enquanto aguardam atendimento, os usuários permanecem juntos em uma sala de espera sem que esse tempo seja utilizado de nenhuma forma. Diante de tal realidade, pensou-se em otimizar esse tempo, possibilitando o acesso à informação clara e transparente, por meio de uma metodologia criativa e dinâmica que favoreça o diálogo e a reflexão e torne a ida a unidade de saúde, algo além de uma função curativa, mas, que possa interferir minimamente e positivamente, na vida familiar e comunitária desse usuário. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Na realização das abordagens, optamos por uma das metodologias do Teatro do Oprimido de Augusto Boal. O teatro do oprimido é um método estético que trabalha, segundo Boal, por meio de diversas formas de arte e não apenas do teatro. Reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual de seus praticantes e a democratização do teatro. Na intervenção realizada no hospital, é utilizado o teatro do invisível, uma técnica de representação de cenas cotidianas onde os expectadores são reais participantes do fato ocorrido reagindo e opinando na discussão provocada pela encenação. O expectador (usuário), torna-se protagonista da ação sem que disso tenha consciência. As ações envolvem profissionais assistentes sociais e estagiárias de Serviço Social do Hospital Dr. Estevam Ponte. O objetivo da ação é estimular a participação e a reflexão dos usuários, sobre temas ligados a saúde coletiva e ao seu núcleo familiar e comunitário. As abordagens acontecem semanalmente, na sala de espera. Nesse local, usando as vestimentas próprias daquele grupo, linguajar semelhante e reproduzindo as representações observadas na comunidade, a equipe responsável pelo desenvolvimento da ação se infiltra em meio aos usuários de forma a interagir com eles. Em um dado momento, inicia-se uma conversa entre os personagens de forma natural e espontânea para que os usuários não percebam tratar-se de uma encenação. Nas falas, são trazidos relatos da situação que se deseja problematizar, gerando curiosidade e estimulando o posicionamento dos usuários para que tomem partido. O interessante nesse tipo de abordagem é que a comunidade se insere na discussão sem perceber que ali se trata de uma encenação. Os personagens recebem conselhos, ouvem opiniões contra ou a favor, são questionados, ganham a solidariedade dos usuários e provocam questionamentos. É importante que os usuários não percebam que se trata de uma encenação e para isso é imprescindível que se mantenha o personagem do início ao fim em uma ação que finaliza com a saída espontânea dos personagens que se deslocam entre os demais usuários de forma discreta e sem deixar evidências. Algo que deve ser garantido é que os usuários que participarão da ação não conheçam os profissionais envolvidos para evitar que estes sejam reconhecidos. EFEITOS ALCANÇADOS: Ao partir de uma situação real vivenciada por muitas famílias, a equipe problematiza questões naturalizadas no cotidiano familiar e/ou comunitário, traz o contexto das legislações enfatizando o direito de cidadania, relata a existência das redes sociais de proteção e apoio social que o município oferece ao indivíduo e estabelece o diálogo entre os usuários de forma dinâmica e espontânea. Ao vivenciarem essa abordagem, os usuários analisam o contexto, refletem sobre suas vivências, oportunizando a construção do pensamento e a tomada de decisão. Eles são provocados a elaborar uma compreensão dos fatos, cenas e diálogos propostos estimulando-se dessa maneira, o exercício de refletir e problematizar a própria realidade, apropriando-se dela e conquistando autonomia para interpretá-la, RECOMENDAÇÕES: Legitimar a educação popular como uma estratégia política e metodológica na ação do Ministério da Saúde permite que se trabalhe na perspectiva da integralidade de saberes e de práticas, pois, proporciona o encontro com outros espaços, com outros agentes e com tecnologias que se colocam a favor da vida, da dignidade e do respeito ao outro. Trabalhar com a educação popular em saúde qualifica a relação entre os cidadãos, definidos constitucionalmente como sujeitos do direito à saúde. Nesse sentido, o teatro como um meio de comunicação e de linguagem que tem o objetivo de desenvolver as capacidades expressivas das pessoas, transformá-las em criadoras, oferecendo-lhes simultaneamente, o conhecimento de uma linguagem cotidiana e também uma linguagem artística, surge como importante método para se chegar às comunidades. Dessa forma, é necessário o desenvolvimento de ações participativas que contribuam para a autonomia do usuário, observando sua condição de sujeito de direitos e autor de sua trajetória de saúde e doença e autonomia dos profissionais diante da possibilidade de reinventar modos de cuidado mais humanizados, compartilhados e integrais. Esta experiência mostra que de uma forma simples e criativa, é possível a realização de atividades educativas no ambiente hospitalar. Mostra ainda, que a técnica teatral pode ser empregada como um método de educação popular em saúde que contribui para a compreensão do individuo na relação saúde-doença e contextualização dos fatos sociais, pois, na maioria das vezes, os canais formais de participação social não são suficientes para detectar as demandas da população.