Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O TERRITORIO DO ACAMPAMENTO FARROUPILHA ENQUANTO DISPOSITIVO PEDAGOGICO PARA A TRANSFORMAÇÃO DA FORMAÇÃO EM SAUDE, PORTO ALEGRE, RS, BRASIL, 2011
Estela Maris Gruske Junges, Mayna Yaçana Borges Ávila, Alessandra Xavier Bueno, Raissa Barbieri Ballejo Canto, Cristianne Maria Famer Rocha

Resumo


Caracterização do problema: A partir de uma tarefa em grupo demandada em sala de aula no Bacharelado em Saúde Coletiva da UFRGS, cuja unidade de análise foi o território do Acampamento Farroupilha, evento tradicionalista gaúcho que ocupa o espaço físico de um dos parques da cidade de Porto Alegre (RS), deveria ser proposto um programa de educação e promoção em saúde para este. O evento possui um público de acampados cujo número de evoluiu com o tempo. Até 1995 eram em torno de 100 grupos. De 1996 a 2000, subiu para 170, de 2001 a 2003 foi para 240. Em 2004, passou para 317, mais praça de alimentação e pontos comerciais. Em 2005 foi instituída a obrigatoriedade de apresentação de projetos culturais por parte das entidades acampadas. O número de participantes cresceu até 2008, quando atingiu 400 entidades culturais, mais patrocinadores e entidades organizadoras. Para 2009 o limite foi diminuído, em razão de obras no local que restringiram a área útil do evento. Em 2010 foram pouco mais de 370 entidades acampadas. Número que se repete nesta edição de 2011. Além desse publico que permanece acampado durante a duração do evento, circulam pelo território anualmente cerca de 1.000.000 de pessoas. O serviço de saúde do local não desenvolve atividades de promoção e prevenção, ficando estas a cargo de piquetes de instituições que desenvolvam tais atividades ou de grupos externos ao acampamento.Descrição da experiência: O território escolhido pela turma de estudantes foi visitado e explorado através de dados retirados da internet, observação visual no momento da visita, registro através de fotos e entrevistas realizadas com as populações escolhidas por cada grupo. Durante esta exploração do território destacou-se a presença de uma população potencialmente negligenciada: os catadores de materiais recicláveis no parque. Porto Alegre é uma cidade que possui coleta seletiva, porém a coleta de lixo executada pela Prefeitura de no Parque não é seletiva. No Acampamento Farroupilha há o estabelecimento temporário de um enorme número de pessoas e visitas de um público ainda maior que aumentam o volume de lixo produzido, sendo que o parque não possui um gerenciamento adequado do lixo (sendo este composto, em grande número, por latas, copos e garrafas), que, atualmente, acaba sendo realizado pelos catadores de lixo. Não foi possível detectar se estes eram moradores permanentes do parque ou se transitavam devido ao aumento do volume do lixo, mas observamos que o processo atual de armazenamento de lixo (latões muito grandes e longos) não facilita a atividade da catação de latas, em especial, pois aquelas que ficam no fundo induzem os catadores a se submeterem a determinadas posições arriscadas (introduzindo boa parte corpo no latão e entrando em contato com o metal da lata enferrujado, chorume produzido pelo lixo, quedas e etc). Esta população oculta tem uma importância para o território por prestar este serviço de coleta dos resíduos, porém deveria ter acesso a condições adequadas de coleta e destinação deste material. Diante da realidade destes sujeitos o grupo de estudantes desenvolveu um programa de educação ambiental e gerenciamento de resíduos baseado na participação dos catadores presentes no território em questão. Percebemos que este era um problema viável para intervenção, pois seria de relativo fácil desenvolvimento, visto que existem diversos apoiadores no financiamento do evento que poderiam ser acionados para a execução do programa. Além disso, ao ter como alvo toda a população acampada e aquela visitante o impacto dessas ações extravasaria o território de intervenção ao produzir mudanças significativas no conhecimento de diversos atores sobre a produção e o gerenciamento de resíduos. A separação de resíduos recicláveis promove uma forma de educar e fortalecer nas pessoas um vínculo afetivo com o ambiente, tornando-as mais responsáveis pelas suas práticas de consumo e de vida cotidianas. Além disso, a separação de lixo torna possível introduzir estes sujeitos (os catadores) no sistema produtivo e criar mecanismos de sustento para eles. Dentro dessas perspectivas, o programa previa: A construção de um espaço em formato de piquete para o seu desenvolvimento. Realização de um ciclo de oficinas temáticas para catadores, piqueteiros, escolas e visitantes do acampamento farroupilha denominado ‘Dando vida ao lixo’ envolvendo oficineiros que trabalhassem diferentes temáticas, tais como: artesanato, decoração e construções com materiais recicláveis; rodas de contação de histórias; dinâmicas para trabalhar questões ambientais e sobre a forma de consumo na sociedade. Todas as oficinas teriam avaliação própria. Elaboração e execução de um projeto de comunicação e divulgação do uso adequado dos recipientes de coleta e gerenciamento de resíduos, incluindo material gráfico, brindes, ‘flash mob’ para incentivo a sensibilização do público para a separação de lixo, baile temático. Reorganização dos recipientes para coleta de resíduos existentes no território e doação de recipientes para separação de resíduos com classificação ampliada. Todas essas atividades envolviam o público acampado, o público visitante e a população de catadores identificada visando aumentar a autonomia e capacidade de organização coletiva destes. O programa seria uma espécie de piloto para demonstrar a importância da existência de um espaço que trabalhe esses aspectos de educação ambiental na cidade prevendo a possibilidade de o espaço do piquete ser permanente dentro do parque.Efeitos alcançados: A atividade desenvolvida fora da sala de aula propiciou o contato entre estudantes de graduação e a realidade das comunidades de sua cidade, sendo, assim, capaz de gerar afetação nos componentes do grupo em direção a uma proposição criativa e inovadora para intervir na realidade observada. Esta proposta foi capaz de ampliar o envolvimento de diferentes atores ligados direta ou indiretamente ao sistema de saúde, gerando uma importante interlocução entre os serviços e a formação em saúde.Recomendações: As experiências com estas características próximas à concepção da educação permanente em saúde, enquanto dispositivo para desencadear movimentos de mudança no próprio processo formativo e nas formas de produzir saúde, precisam ser ampliadas na formação em saúde.