Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Violência escolar na zona rural de Manaus: realidade da Escola Municipal Abilio Alencar
Esteban Castro Heufemann, Aline Guinarães Grana, Alexandre Carlos Gama Nunes, Andreia Caren Cardoso Macedo, Célio Rodrigues Wanderley Junior

Resumo


Introdução: a Organização Mundial da Saúde define a violência como o uso da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (KRUG et al, 2002). A violência assumiu um premente problema de saúde pública no Brasil, em razão de sua magnitude, gravidade, impacto social e capacidade de vulnerabilizar a saúde individual e coletiva (MALTA et al, 2011). O conceito de violência escolar tem sido caracterizado, por diferentes autores, como um fenômeno multifacetado, abrangendo uma variedade de manifestações, desde comportamentos anti-sociais, delinqüência, vandalismo, entre outros (VALE; COSTA,1998 apud SEIXAS, 2005). No âmbito da pesquisa sobre a violência nas escolas das zonas rurais, sobretudo na Amazônia, não existem trabalhos que possam contribuir para o melhor entendimento da realidade dessas regiões. Por conseguinte, este trabalho se apresenta como pioneiro do estudo do perfil da violência em escolares da zona rural de Manaus e assim direcionar ações específicas voltadas a essa população. Objetivo: traçar o perfil da violência escolar em alunos do 6º ano da escola Municipal Abílio Alencar na zona rural de Manaus. Método: estudo descritivo, exploratório e de cunho prospectivo, utilizando método quali-quantitativo. Foi aplicado instrumento adaptado (FREIRE, SIMÃO, FERREIRA, 2006), com perguntas de múltipla escolha e discursivas abordando o tema violência na escola, o ponto de vista de cada indivíduo, levando em consideração suas respectivas funções no contexto escolar. Há três tipos de questionários, para alunos, para professores, e um para o diretor, todos anônimos e confidenciais, totalizando 93 entrevistas. Os resultados foram dispostos em tabelas e gráficos através do software Microsoft Excell 2007. Resultados: No que tange o perfil socioeconômico dos alunos, o estudo demonstrou que 51.23% dos estudantes se consideram pardos. A faixa etária varia dos nove aos quinze anos, sendo 11 anos a idade mais prevalente com 41,46%, e o sexo feminino se mostra preponderante com 56,1%. Ao correlacionar as profissões dos pais com a escolaridade, 35% têm como ocupação os serviços rurais (roça, granja etc..), o que é esperado para a realidade rural de Manaus; e dentre os 35%, cerca de 42%, são somente alfabetizados. Outra importante observação é que a maioria dos desempregados é analfabeta. Isso reflete a importância de se ter algum grau de instrução mesmo nos serviços mais simples. Esses dados demonstram um baixo nível socioeconômico dos pais ou responsáveis. Em relação ao estado civil e número de irmãos, nota-se que a maioria dos alunos tem entre 5 e 6 irmãos, sendo casados o estado civil dos pais que mais prevalece. Ainda no que tange ao perfil socioeconômico, na relação pessoas e cômodos do domicílio, observa-se que a maioria dos alunos divide a moradia com 5 a 6 pessoas por 4 a 5 cômodos demonstrando um espaço físico adequado para a moradia. Os alunos consideram bom (66%) o ambiente escolar, 24% consideram regular, 5% ruim e 5% se abstiveram; consideram ainda as relações interpessoais dentro da escola como boa (68%), demonstrando um ambiente e relacionamentos adequados para a vivência escolar; comparativamente foi achado que 70% dos professores consideram satisfatória a relação com os alunos. Dos alunos que sofreram agressões, 21% foram ofensas com palavras torpes, 20% calúnias, 13% humilhações e 11% abusos sexuais de alguma natureza. A agressão verbal ocasionalmente nem é reconhecida como agressão pelo próprio aluno. A quadra e a sala de aula foram os locais mais freqüentes de agressões sendo a maioria praticada por uma única pessoa. Entre os motivos que deflagraram as agressões, a vingança (24%) e defender ou vingar algum colega (22%) foram as que se sobressaíram. Ao avaliar a reação do aluno ao ser agredido fica claro que há duas atitudes bem divergentes, mas que são comuns. A maioria (17 alunos) assinalou que se vinga no mesmo momento, já o segundo maior numero de alunos (15) afirmou apenas ficar triste e não fazer nada a respeito. Isso levanta uma idéia nova acerca do perfil do agressor, e valida o perfil de vítima-agressor (que oscila entre vítima e agressor), apontado por Souter e McKenzie, apud Cheffer & Gallo,2009. Ao testemunhar uma agressão, aproximadamente 40% dos alunos relataram ter defendido a vítima e aproximadamente 12% procurou um adulto, sendo o perfil do aluno agredido como de baixa estatura e de pele mais escura. Quanto ao nível de confiança nos professores no tocante a falar sobre suas experiências com a violência a grande maioria dos alunos (70%) respondeu “não” a essa questão, apenas 29% confiam e 1% se abstiveram. Isso demonstra a deficiência na confiança dos alunos em relação aos professores, embora a relação interpessoal com os mesmos seja boa chegando a 75,61%. Observou-se uma dificuldade em identificar tanto o perfil do agressor quanto o do agredido, de modo que 50% dos docentes não souberam descrever e traçar o perfil do agressor. Essa pequena diferença revela ainda que é mais fácil reconhecer o aluno agredido do que o agressor. Já no perfil do aluno agredido temos uma informação interessante que reflete uma das causas de bullying, que é a diferença na composição física dos alunos, uma vez que ele é assinalado como “aluno de baixa estatura e de pele mais escura”. E isto fala a favor de discriminação étnica. Por outro lado foi identificado que o aluno “isolado” também é reconhecido como vitima de violência. As medidas tomadas pelos professores diante da situação de agressão entre alunos foram investigadas através de perguntas abertas, convergindo para respostas que sinalizam uma abordagem individual, tanto do aluno agressor como vitima, utilizando dialogo e reflexões. Conclusão: A violência nas escolas é um problema que tem um impacto significativo sobre a qualidade de vida dos envolvidos nesse ambiente, o que torna imprescindível as ações efetivas sobre a questão, a fim de promover o bem-estar dos estudantes, já que a escola tem considerável participação na formação do caráter das crianças e adolescentes. Ao traçar o perfil dos estudantes do 6º ano da Escola Municipal Abílio Alencar é possível discutir acerca das características que os colocam sobre risco da exposição à violência, e assim melhor direcionar as estratégias de promoção da saúde da comunidade escolar. As ações no combate a violência nesta escola são pontuais, e com finalidade resolutiva, e não preventiva. Vale ressaltar a importância de fortalecer estratégias de promoção da saúde, com vistas a proporcionar o bem-estar à comunidade acadêmica.