Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Observando o Cuidado em Saúde Mental
Clarissa Silva, Monique Gonzalez de Souza, Margareth Caetano da Silva Freitas, Ândrea Cardoso de Souza

Resumo


Caracterização do problema: A formação de profissionais enfermeiros requer um ensino de qualidade, que lhe confira competência na realização de atividades assistenciais, gerenciais, de ensino e pesquisa. A partir desta ideia, este relato foi elaborado, após a observação de pacientes psiquiátricos em processo de desinstitucionalização. Nas últimas três décadas, a assistência psiquiátrica sofreu uma série de transformações advinhas de mudanças ocorridas na própria sociedade e nas políticas de saúde mental. Entretanto, essas transformações vem ocorrendo lentamente 1. Até pouco tempo, o cuidado do doente mental apresentava-se centrada nos hospitais psiquiátricos, locais da prática e do saber médico, cujo modelo de atenção restringia-se a internação e medicalização dos sintomas demonstrados pelo doente mental, excluindo-o dos vínculos, das interações, de tudo o que se configura como elemento e produto de seu conhecimento 1 2. A ideia de desinstitucionalização e de inúmeras outras transformações da instituição psiquiátrica, surgiram no Brasil, a partir da década de 80, buscando a reversão do modelo asilar, segregador e dissocializante, através da luta dos profissionais de saúde mental 1. A escolha deste público se deu devido ao fato de que os doentes mentais que passaram a maior parte de sua vida presos em instituições asilares, mesmo depois de mais de 20 anos de Reforma Psiquiátrica, ainda se encontram dependentes da instituição que agora tenta reinseri-los na sociedade. Vale ressaltar que o processo de desinstitucionalização pressupõe transformações culturais na sociedade, como um todo, a fim de que aceite o “louco” como um cidadão e não como um membro incapaz que deve ser privado do convívio com os “não loucos” e essa mudança depende da pactuação entre as três esferas de governo e dos profissionais de saúde mental. Descrição da experiência: Este estudo têm por objetivo subsidiar os discentes quanto ao cuidado de enfermagem em saúde mental para com clientes crônicos, através de uma postura crítica a respeito do que é oferecido a está clientela, descrevendo a experiência dos discentes ao tentar compreender a vida do doente mental crônico. Este estudo consiste de um relato de experiência das discentes do Curso de Graduação em Enfermagem e Licenciatura da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, durante a disciplina de Concepções, Saberes e Práticas em Saúde Mental na execução do Ensino Teórico Prático no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba na Enfermaria de Longa Permanência, onde estavam internados 11 pacientes, no período entre agosto e setembro de 2011, com o intuito de observar o tipo de terapia que a equipe multidisciplinar aplica a estes pacientes, entender como ocorre a reinserção deles na sociedade e como os pacientes reagem a nova vida que lhes é apresentada. A luta contra a instituição asilar, vem traduzindo os anseios dos profissionais de saúde mental, em reinserir o paciente na sociedade e devolver-lhe o direito a cidadania que lhe foi retirado. Ainda assim, permanecem alguns hospitais psiquiátricos, onde o modelo asilar predomina 1. Nossa postura foi de observar a vivência da equipe, composta de enfermeiro, psicólogos, auxiliares terapêuticos e técnicos de enfermagem, com os pacientes e de conversar com equipe e pacientes para entender como o processo de desinstitucionalização é feito e que resultados fabrica. Todas as atividades foram pautadas em conhecimentos previamente previamente discutidos e socializados, com a participação da docente da disciplina e do enfermeiro do setor. Efeitos alcançados: Na teoria ressaltando o pensamento de Franco Basaglia, que diz que é preciso pôr a doença, e não o homem, entre parênteses. Essa inversão estabelece uma ruptura realizada pela Luta Antimanicomial e pela Reforma Psiquiátrica Brasileira. Por romper com a dicotomia de objetivação da loucura e o louco e o processo entre normal/patológico do que é loucura, criando o princípio de colocar a doença mental entre parênteses como forma de inverter a tradição psiquiátrica, que é a de colocar o homem entre parênteses para se ocupar da doença 4 5. Já na prática percebemos que o processo de desinstitucionalização é algo demorado e de difícil execução, pois alguns dos pacientes tornaram-se realmente “refugos humanos” 6, tendo de reaprender as coisas mais cotidianas da vida, como comer ou usar o banheiro sozinho, não há como simplesmente fechar as portas dos hospitais psiquiátricos, pois mesmo depois de mais de 20 anos de Reforma, existem pessoas que foram tão castigadas pelo modelo manicomial que não conseguiriam sobreviver em sociedade. Muitos dos pacientes da Longa Permanência, enxergam o hospital como suas casas, pois realmente é estruturada como uma casa e não como um hospital, e talvez a vida fora dali para eles fosse insuportável, entretanto, os profissionais que ali trabalham tentam diariamente reeducá-los e reinseri-los, respeitando sua doença psíquica. A estratégia utilizada para o processo de ensino aprendizagem de ouvir a clientela, tentando compreender o que os pacientes psiquiátricos sentem e desejam, permitiu uma maior reflexão sobre o cuidado em saúde mental, principalmente com os pacientes crônicos. Os discentes afirmam que está metodologia de observação e conversa facilita o entendimento do que é a desinstitucionalização, que para nós faz parte de um processo terapêutico que enxerga o doente mental como um cidadão, um ser biopsicossocial, que merece respeito e que deve ser inserido na sociedade, tentando promover uma real mudança de vida dessas pessoas. Recomendações: Para a enfermagem, este trabalho vem trazer a ideia, que esta intrínseca ao processo de desinstitucionalização, de que é necessário uma capacitação dos profissionais de enfermagem para saber/aprender a lidar com os doentes mentais crônicos, conscientizando-se o melhor tratamento para o “louco” não é o confinamento dentro dos hospitais psiquiátricos e o consequente isolamento da sociedade. A demanda de cuidado em saúde mental não se restringe apenas a minimizar riscos de internação ou controlar sintomas. Atualmente, o cuidado envolve também questões pessoais, sociais, emocionais e financeiras, relacionadas à convivência com o adoecimento mental. Tal cuidado é cotidiano e envolve uma demanda de atenção nem sempre prontamente assistida devido a inúmeras dificuldades vivenciadas tanto pelos pacientes e seus familiares, quanto pelos profissionais e a sociedade em geral, tais como: escassez de recursos, inadequação da assistência profissional, estigmatização, violação de direitos dos doentes, dificuldade de acesso a programas profissionalizantes, entre outras coisas que envolvem o adoecimento em saúde mental 3.1. Sadigursky, D, Tavares, JL. Algumas considerações sobre o processo de desinstitucionalização. Rev. Latino-Am. Enfermagem. vol. 6, n. 2, p 23-27. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1998. Disponível em: < http: //www.scielo.br/pdf/rlae/v6n2/13904.pdf >. 2. Colvero, LA, Ide, CAC, Rolim, MA. Família e doença mental: a difícil convivência com a diferença. Rev. Esc. Enfermagem USP. v. 38, n. 2, jun. São Paulo: USP, 2004. Disponível em: < http: //www.scielo.br/pdf/reeusp/v38n2/11.pdf >. 3. Cardoso, L, Galera, SAF. O cuidado em saúde mental na atualidade. Rev. Esc. Enfermagem USP. v. 45, n. 3, jun. São Paulo: USP, 2011. Disponível em: < http: //www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n3/v45n3a20.pdf >. 4. Guimarães, J, Medeiros, SM, Saeki, T, Almeida, MCP. Desinstitucionalização em saúde mental: considerações sobre o paradigma emergente. Saúde em Debate. v. 25, n.58, p. 5-11, maio/ago. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Estudos em Saúde, 2011. Disponível em: < http: //bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS〈=p&nextAction=lnk&exprSearch=333755&indexSearch=ID >. 5. Basaglia, F. A instituição negada: relato de um hospital psiquiátrico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001. 6. Bauman, Z. Modernidade líquida. 1 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.