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Oficinas de Saúde Coletiva: O Adolescente e sua Sexualidade
Resumo
Este trabalho propõe uma alternativa ao trabalho realizado pelos profissionais de saúde, que ministram palestras sobre sexualidade, para adolescentes, em escolas e unidades básicas de saúde. As questões surgem a partir do número crescente de uso de drogas e de pessoas diagnosticadas com HIV; e às gravidezes juvenis. A crença na falta de informação é o que motiva os profissionais de saúde a ministrar palestras. Porém a informação em si não basta. Os temas abordados têm que fazer parte de um processo de elaboração cognitivo e emocional, o que não se consegue no espaço de um encontro no qual, por meio de palestras, os profissionais que têm informações as transmitem, supostamente, para os que não têm. Encontros mais frequentes com os jovens, em grupos menores, são importantes para que eles possam ser ouvidos em suas dúvidas, anseios, medos e crenças. É importante ouvi-los e entendê-los a partir dos seus modos de compreender e sentir os temas, e não a partir daquilo que os saberes vigentes da área da saúde supõem que deve ser passado para eles, sob o título de orientações ou informações. Dessa maneira, o trabalho articula saúde e educação, através de ações clínicas e educativas, numa experiência de intervenção coletiva. O trabalho faz parte de um projeto de estágio supervisionado do curso de psicologia de uma universidade de Belo Horizonte (M.G.) e é realizado junto a jovens de baixa renda em escolas municipais e estaduais da mesma cidade, em parceria com o Programa Pró-Saúde. Os adolescentes que participam das oficinas têm entre 11 e 17 anos e vivem em uma realidade social permeada pela violência física, moral, psicológica ou sexual. Consequentemente, esses adolescentes apresentam baixa auto-estima, comprometendo a valorização e o cuidado de si e reforçando as práticas sexuais irresponsáveis e as relações abusivas. O desconhecimento acerca da utilização correta do preservativo somado às questões socioculturais e familiares são os principais fatores que levam a uma gravidez indesejada e a uma DST. Além disso, adolescer é um processo que implica o reconhecimento de um novo corpo e das identidades que se organizam em torno dele, sendo uma época de conflitos, principalmente ligados à identidade e à sexualidade. Tais conflitos são exacerbados pela condição social dos adolescentes, tornando o adolescer um processo ainda mais complexo e turbulento, que implica responsabilidades familiares, sociais e sexuais além daquelas que eles normalmente conseguiriam elaborar e superar, além dos riscos inerentes às sociedades permeadas pelo tráfico e pela criminalidade. Logo, o objetivo das oficinas é desenvolver ações de promoção de saúde através de ações educativas e proporcionar condições para que o jovem se conscientize da sua responsabilidade para com a sua saúde e sexualidade. As oficinas são coordenadas por alunos que trabalham em duplas, permitindo uma cooperação entre eles e facilitando o desenvolvimento da oficina permitindo que as responsabilidades sejam divididas, que o grupo seja melhor observado, além de facilitar a possibilidade de um atendimento individualizado, caso seja necessário. A experiência de trabalho extrapola o caráter puramente informativo. Busca uma metodologia que compreenda os adolescentes integralmente, em suas dimensões biológica, psíquica e social. Para tal, utiliza a metodologia das Oficinas em Dinâmica de Grupo, um método participativo de análise psicossocial, convergindo a teoria de Lewin - a psicodinâmica do grupo - com a de Freud, Bion, Foulkes, Pichon-Rivière e Paulo Freire. Sua fundamentação teórica está articulada em três dimensões: psicossocial, clínica e educativa, articulando essas dimensões na compreensão da realidade da saúde e do ser humano como ser biopsicossocial. Trabalha a sexualidade levando em consideração a realidade e as vivências dos adolescentes, uma vez que a sexualidade se expressa no sujeito como um todo e sua compreensão é diretamente dependente da compreensão do sujeito em seu âmbito mais íntimo e privado, conjuntamente com a cultura na qual se insere e as relações sociais que mantém. É função dos coordenadores, além de informar, mediar a realização das tarefas no grupo e dinamizar os processos de aprendizagem e relacionamento. Para tanto é necessário estar atento aos conflitos existentes no grupo. Contudo, o papel ativo do coordenador não deve se confundido com o papel do professor, por exemplo. É fundamental que o coordenador seja capaz de propor sem impor, e de considerar as questões afetivas e relacionais do grupo. Todo grupo tem sua potencialidade terapêutica e pedagógica entrelaçadas, e cabe aos coordenadores o manejo dessas potencialidades em direção à realização dos objetivos da oficina. Para o desenvolvimento das oficinas são utilizadas diferentes estratégias e recursos, tais como dinâmicas de grupo, dramatizações, teatro, jogos e vídeos educativos, numa lógica de compreensão interna das vivências através do aprender brincando. Os temas trabalhados, bem como as técnicas escolhidas, devem ser tomados de forma contextualizada. A técnica não deve ser mais importante que as experiências do grupo e dos indivíduos que o compõem, é importante que a metodologia usada se relacione com a realidade dos adolescentes, com os seus interesses e com as suas experiências, possibilitando a apropriação do conhecimento – técnico, relacional e emocional – transmitido nas oficinas. Dessa maneira, as oficinas possibilitam que o adolescente reflita e elabore seus sentimentos, comportamentos e conhecimentos compartilhados face à sexualidade. Trata-se de um trabalho dialógico, onde o auto-conhecimento se dá através da reflexão entre o pensar, o sentir e o agir. A possibilidade da reflexão individual e coletiva vivenciada nas oficinas permite o intercâmbio de idéias, crenças e práticas sobre a saúde, que podem ser articuladas numa síntese grupal enriquecedora para cada um dos participantes. Os conceitos perdem o seu caráter abstrato e tornam-se ricos em conteúdos reais. As oficinas alicerçam a proposta de aprender a pensar, integrando estruturas afetivas, conceituais e de ação, isto é, o sentir, o pensar e o fazer. As experiências e os conceitos são ressignificados demonstrando que o contexto do grupo é um campo apropriado para sensibilizar, repensar e propor idéias e práticas promotoras de saúde e bem-estar. As oficinas, então, permitem que o adolescente conheça seu próprio corpo e as identidades que se organizam em torno dele, seus desejos, seu funcionamento, seus mitos, suas expectativas, os riscos de determinados comportamentos, para que possa ser agente da sua própria saúde e, enfim, elaborar para a sua vida projetos que visem lidar com a sexualidade de modo ético e saudável. Possibilita trabalhar, efetivamente, a estratégia da promoção de saúde que visa informar, conscientizar e assistir aos indivíduos para que assumam responsabilidades e que sejam ativos em relação a sua saúde e bem-estar. Enfim, que sejam autônomos e responsáveis pelos seus atos.