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PERCEPÇÃO DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO BÁSICA ACERCA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE
Resumo
INTRODUÇÃO: A educação consiste no processo pelo qual a sociedade se forma, se organiza, produz a capacidade de pensar e agir de modo crítico-reflexivo diante de determinadas situações. Um verdadeiro processo de educação não pode ser estabelecido se não através da análise das necessidades reais de determinada população, ou seja, deve ser condizente com o cotidiano e com os problemas de um grupo que visa a construção dos sujeitos e a transformação da realidade. Segundo Paulo Freire (1996), há que se respeitar os saberes, o conhecimento que os educandos/usuários carregam consigo, visto que são saberes socialmente construídos na prática comunitária de onde vieram. A prática educativa em Enfermagem é potencializadora da assistência e fomenta a solidariedade, bem como a responsabilidade individual e coletiva. Dessa forma, as mudanças que tais práticas permitem podem construir, desconstruir ou reconstruir o Sistema Único de Saúde (SUS) de acordo com os interesses individuais e coletivos. Essas ações de mudança implicam a necessidade de profissionais comprometidos com a atenção à saúde; profissionais capazes de compreender os determinantes da saúde, de efetivar práticas em relação à atenção à saúde da população, de articular conhecimentos profissionais, científicos com os saberes populares, haja visto que são crenças que nem sempre acordam com o ideal, mas, que são tidas como verdades pela comunidade. OBJETIVO: compreender a percepção do enfermeiro de saúde pública, em relação a educação em saúde e, conhecer as atividades por ele desenvolvidas nas Unidades Básicas de Saúde para a efetivação dessa prática. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa, realizado por meio de questionário semi-estruturado. De 22 Unidades Básicas de Saúde (UBS), de uma cidade da região Oeste do Paraná, exceto Unidades Saúde da Família, algumas apresentava mais de um enfermeiro, assim, na unidade em que havia mais de um enfermeiro, optou-se por realizar a coleta de dados com aquele que exercia a função mais assistencial e realizava, de alguma forma, educação em saúde. Das 22 UBS, 19 enfermeiros (de 19 UBs) se dispuseram a participar da pesquisa. Posteriormente, realizou-se revisão bibliográfica mediante busca em base de dados online, em que para obtenção de artigos e trabalhos relacionados ao tema utilizou-se as palavras-chave: educação em saúde; enfermagem em saúde publica; educação em enfermagem. A seleção dos artigos obedeceu aos seguintes critérios de inclusão: artigos publicados em periódicos nacionais; artigos que abordem a temática e que correspondesse aos descritores acima referido; artigos publicados no período entre 2000 e 2011. O referencial metodológico utilizado foi a análise de conteúdo e o referencial de Paulo Freire. RESULTADOS ENCONTRADOS: Os resultados evidenciaram 12 categorias quais sejam: Considerações acerca da educação em saúde; Educação em saúde com grupos; Educação em saúde enquanto promoção da saúde; Educação bancária; Educação em saúde enquanto atualização profissional e educação em saúde como prática diária; Apontando as práticas educativas; Educação e saúde nas suas diversas modalidades; Tempo destinado a educação em saúde; Educação em saúde e a formação dos profissionais; Dificuldades em desenvolver educação em saúde e resultados alcançados; O Empoderamento enquanto ferramenta da prática educativa em saúde; Educação em saúde e a visita domiciliar. O conceito de educação em saúde está presente nas falas dos enfermeiros, demonstrando que a prática condiz com a teoria, tendo em vista que, poucos foram os enfermeiros que deram um enfoque bancário às práticas educativas, evidenciando a prevalência da dimensão libertadora e crítica dos processos educativos proposta por Paulo Freire, em detrimento da concepção higienista e bancária da educação. Para que a ação educativa ocorra de forma efetiva, há que se realizar um bom trabalho em equipe desde o processo de formação profissional. Dessa forma, a formação profissional, a educação em saúde por eles e com eles trabalhada, deve estimular o trabalho em equipe favorecendo o diálogo e a definição coletiva de assistência ao usuário que é o foco das ações em saúde. As percepções dos enfermeiros frente às práticas educativas parecem expressar o entendimento de que educar para a saúde é dispender tempo para tal, é proporcionar maior qualidade de vida a população, cujo objetivo maior é a promoção e prevenção de doenças no sentido de evitar que esta se instale. Tal percepção, se mostra positiva visto que, o enfermeiro além de desenvolver atividades assistenciais é também um educador e que tal prerrogativa não ocorre de forma isolada, mas sim concomitantemente. A dimensão educativa das práticas em saúde constitui-se importante instrumento social para efetivação da promoção da saúde, entende-se educação sem saúde como parte de um processo mais amplo de educação que age tanto como um espaço de veiculação de conhecimentos e práticas relacionadas com o viver de forma mais saudável, quanto como espaço de produção de sujeitos e identidades sociais. Dos enfermeiros participantes, ao serem questionados sobre qual atividade consideravam ser uma prática de educação em saúde, todos relacionaram educação em saúde com as práticas do cotidiano do trabalho, demonstrando o entendimento de que educação em saúde pode estar presente em todas atividades que realiza, ou seja, que educar para a saúde é contínuo e inerente ao seu trabalho. CONSIDERAÇÕES: É necessário que os educadores estejam cientes de que a ideologia dominante não se preocupa com a construção do conhecimento, do contrário, insinua uma neutralidade que não existe na educação. Do ponto de vista reacionário e, não progressista, a escola é um ambiente onde os alunos são treinados para práticas apolíticas. Como se o fato de existir pudesse ser neutro. Assim, o enfermeiro de saúde coletiva deve ter a ciência de que além de assistencial é também um educador e, como tal, deve buscar o desenvolvimento de um pensar crítico na comunidade cujo objetivo deve ser a melhoria da qualidade de vida da mesma. REFERÊNCIAS FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17 Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREIRE, P. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 11 Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, P; FREIRE, A.M.A (org). Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: UNESP, 2001. LINO, M.M et al. Análise da produção científica dos grupos de pesquisa em educação em enfermagem da região sul do Brasil. Texto Contexto – Enfermagem. Florianópolis, v. 19, n. 2, p. 265-73, jun 2010.