Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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POR UMA CULTURA DE PAZ: PERSPECTIVAS SÓCIO – ANTROPOLÓGICAS DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA
Manoel Guedes Almeida, José Ivo dos Santos Pedrosa, André Fonseca Nunes, Tayná Maria Gonçalves Varão Silva, Valéria Raquel Alcântara Barbosa, Amanda Furtado Mascarenhas Lustosa

Resumo


INTRODUÇÃO Cultura de Paz é o conjunto de valores e ações baseados no respeito à vida, aos Direitos Humanos e liberdades fundamentais, no que pese sua relação dialógica com o individuo (Self) e o coletivo (Nonself) que o abarca. Posto ser a violência parte integrante não só da racionalidade humana, mas da própria consciência, a relação interioridade/exterioridade caracteriza o fenômeno quanto à aglutinação turva de processos sociais e psicológicos nos quais o Self e o Nonself dialogam na construção do Eu e suas ações. As Universidades, então, professam uma cultura dominante que invisibiliza outras culturas, coisificando-as ou ignorando-as do processo formativo, de encontro às propostas pedagógicas mais recentes que visam à edificação de sujeitos sociais auto-reflexivos. OBJETIVOS Abordar a Universidade como campo de inter-subjetividades conflitantes e analisá-la como espaço de interações sociais imprescindível à construção de uma Cultura de Paz. MÉTODOS Pesquisa etnográfica, com abordagem qualitativa. Etnográfica ao implicar na descrição e estudo de um fenômeno ou realidade. Para tanto, os pesquisadores identificaram no Estado do Piauí os representantes comunitários e espirituais, com os quais fizeram visitas regulares, com levantamento de informações e vivências relacionadas à cultura afro-descendente e cultura de paz. Em um segundo momento, as informações colhidas foram confrontadas pelo referencial teórico construído a partir de grupos de discussão, sendo qualitativa ao considerar esses dados observacionais e referencial como substrato às questões e analises fundamentais ao trabalho. RESULTADOS As Universidades reproduzem a racionalidade científica e ignoram saberes do mundo da vida. Assim, outras culturas são invisibilizadas, levando a potencialmente lesivos. As relações entre estudante e comunidade devem, pois, ser orgânicas, com troca intersubjetiva de verdades e confrontos culturais brandos entre estudante e comunidade decorrentes da convivência – ou co-vivências - para que convirjam no esfacelamento da linha divisória entre o self e o nonself, entre a ciência e a sociedade, o instante em que culturas diversas se identifiquem com um todo institucional. É nesse contexto que se faz necessária a construção de uma Cultura de Paz no decurso da formação acad. Segundo Diski et. al. (2004), essa Cultura constitui-se no conjunto de valores, atitudes, tradições e comportamentos baseados no respeito à vida, no fim da violência, promoção e prática da não-violência, com pleno respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais, bem como na solução pacifica de conflitos, direito à liberdade de qualquer tipo, à justiça, democracia, diversidade cultural, informação, opinião, etc. Em seu conjunto, deixa claro que a população brasileira afro-descendente pouco outorga os direitos que, segundo a autora, lhes são irrefutáveis. Seria reducionista, no entanto, entender a paz estritamente como não-violência. Na visão de Minayo (1994), a compreensão do fenômeno só seria possível entendendo-o como processo, segundo a dialética interioridade/exterioridade, na qual a violência é parte integrante não só da racionalidade histórica, mas da origem da própria consciência. Tratar de um tema tão complexo de maneira fatídica, prossegue a autora, é ir de encontro ao diálogo, ao reconhecimento e à edificação das civilizações como mostraram Hegel (1980), Freud (1974), Habermas (1980), dentre outros, devendo ser entendida numa rede de processos sociais e psicológicos. Não há sobre a ótica de Freire (1996) e de Ceccim (2002) modo de transformação social sine qua non se tenha a sociedade como início e fim e a educação como ponte única e edificadora, cujo elo mais íntimo no tocante à prática seja a Universidade. A intersubjetividade aqui abordada trata-se da forma com que os indivíduos de um determinado grupo e contexto sociais interagem mutuamente e envolvem o Outro – o nonself – na construção do próprio, do self, que é entendido por eles como verdade irrefutável e exteriorizado em sua ética e ações. Essas verdades, em um contexto mais amplo, são perpetuadas por instituições diversas, como família, amigos, religiões, escolas e Universidades, esta última assumindo destaque no presente trabalho por representar o elo mais íntimo entre a ciência e o mundo da vida. (Coelho Júnior et. al. 2004) Essa abordagem fenomenológica vai de encontro à edificação das Universidades, que consideram o Eu como uma entidade posta e desconsidera o Outro na construção do Self, denominado de Interacionalismo Simbólico por Herbert Blumer (1986). Dessa forma, como já afirmara Mead (1910), tutor de Blumer, a consciência é produto da construção simbólica, dotada de significados, e dos papeis sociais compartilhados mutuamente, articulados em sistemas ou instituições que regulam as ações em determinada sociedade, criando tipos sociais e tipificando o sujeito. Seria então a partir desse Eu generalizado ou institucional que a identidade self individual poderia se construir e se estabilizar, ao passo que se alinha a um tipo humano socialmente determinado. Como bem aborda Valle et. al. (2002), “esta cultura se fundamenta em aspectos relacionados com a educação e os esforços têm se centrado no apoio ao desenvolvimento de programas especiais de ensino com ênfase na educação para a paz, tolerância e a não-violência”. Existem, todavia, várias formas de paz além da não-violência, mas todas divergem de um ponto comum: o choque entre simbolismos alheios aos olhos no instante em que o convívio com o Outro invisível torna-se inevitável. CONCLUSÃO É imperativa a inserção do estudante para além da academia e do Pragmatismo do ensino: inseri-lo na comunidade como parte constituinte da mesma. A Universidade, formadora de subjetividades, com isso, constituir-se-á espaço rico de interações entre grupos culturais diversos, com edificação de sujeitos que percebam as diversidades e valorizem a integração e vivência comunitárias, formando-se seres conscientes de si, de sua relação com o mundo e com outras verdades na legitimação do Outro.