Tamanho da fonte:
POR UMA CULTURA DE PAZ: PERSPECTIVAS SÓCIO – ANTROPOLÓGICAS DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA
Resumo
INTRODUÇÃO Cultura de Paz é o conjunto de valores e ações baseados no respeito à vida, aos Direitos Humanos e liberdades fundamentais, no que pese sua relação dialógica com o individuo (Self) e o coletivo (Nonself) que o abarca. Posto ser a violência parte integrante não só da racionalidade humana, mas da própria consciência, a relação interioridade/exterioridade caracteriza o fenômeno quanto à aglutinação turva de processos sociais e psicológicos nos quais o Self e o Nonself dialogam na construção do Eu e suas ações. As Universidades, então, professam uma cultura dominante que invisibiliza outras culturas, coisificando-as ou ignorando-as do processo formativo, de encontro às propostas pedagógicas mais recentes que visam à edificação de sujeitos sociais auto-reflexivos. OBJETIVOS Abordar a Universidade como campo de inter-subjetividades conflitantes e analisá-la como espaço de interações sociais imprescindível à construção de uma Cultura de Paz. MÉTODOS Pesquisa etnográfica, com abordagem qualitativa. Etnográfica ao implicar na descrição e estudo de um fenômeno ou realidade. Para tanto, os pesquisadores identificaram no Estado do Piauí os representantes comunitários e espirituais, com os quais fizeram visitas regulares, com levantamento de informações e vivências relacionadas à cultura afro-descendente e cultura de paz. Em um segundo momento, as informações colhidas foram confrontadas pelo referencial teórico construído a partir de grupos de discussão, sendo qualitativa ao considerar esses dados observacionais e referencial como substrato às questões e analises fundamentais ao trabalho. RESULTADOS As Universidades reproduzem a racionalidade científica e ignoram saberes do mundo da vida. Assim, outras culturas são invisibilizadas, levando a potencialmente lesivos. As relações entre estudante e comunidade devem, pois, ser orgânicas, com troca intersubjetiva de verdades e confrontos culturais brandos entre estudante e comunidade decorrentes da convivência – ou co-vivências - para que convirjam no esfacelamento da linha divisória entre o self e o nonself, entre a ciência e a sociedade, o instante em que culturas diversas se identifiquem com um todo institucional. É nesse contexto que se faz necessária a construção de uma Cultura de Paz no decurso da formação acad. Segundo Diski et. al. (2004), essa Cultura constitui-se no conjunto de valores, atitudes, tradições e comportamentos baseados no respeito à vida, no fim da violência, promoção e prática da não-violência, com pleno respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais, bem como na solução pacifica de conflitos, direito à liberdade de qualquer tipo, à justiça, democracia, diversidade cultural, informação, opinião, etc. Em seu conjunto, deixa claro que a população brasileira afro-descendente pouco outorga os direitos que, segundo a autora, lhes são irrefutáveis. Seria reducionista, no entanto, entender a paz estritamente como não-violência. Na visão de Minayo (1994), a compreensão do fenômeno só seria possível entendendo-o como processo, segundo a dialética interioridade/exterioridade, na qual a violência é parte integrante não só da racionalidade histórica, mas da origem da própria consciência. Tratar de um tema tão complexo de maneira fatídica, prossegue a autora, é ir de encontro ao diálogo, ao reconhecimento e à edificação das civilizações como mostraram Hegel (1980), Freud (1974), Habermas (1980), dentre outros, devendo ser entendida numa rede de processos sociais e psicológicos. Não há sobre a ótica de Freire (1996) e de Ceccim (2002) modo de transformação social sine qua non se tenha a sociedade como início e fim e a educação como ponte única e edificadora, cujo elo mais íntimo no tocante à prática seja a Universidade. A intersubjetividade aqui abordada trata-se da forma com que os indivíduos de um determinado grupo e contexto sociais interagem mutuamente e envolvem o Outro – o nonself – na construção do próprio, do self, que é entendido por eles como verdade irrefutável e exteriorizado em sua ética e ações. Essas verdades, em um contexto mais amplo, são perpetuadas por instituições diversas, como família, amigos, religiões, escolas e Universidades, esta última assumindo destaque no presente trabalho por representar o elo mais íntimo entre a ciência e o mundo da vida. (Coelho Júnior et. al. 2004) Essa abordagem fenomenológica vai de encontro à edificação das Universidades, que consideram o Eu como uma entidade posta e desconsidera o Outro na construção do Self, denominado de Interacionalismo Simbólico por Herbert Blumer (1986). Dessa forma, como já afirmara Mead (1910), tutor de Blumer, a consciência é produto da construção simbólica, dotada de significados, e dos papeis sociais compartilhados mutuamente, articulados em sistemas ou instituições que regulam as ações em determinada sociedade, criando tipos sociais e tipificando o sujeito. Seria então a partir desse Eu generalizado ou institucional que a identidade self individual poderia se construir e se estabilizar, ao passo que se alinha a um tipo humano socialmente determinado. Como bem aborda Valle et. al. (2002), “esta cultura se fundamenta em aspectos relacionados com a educação e os esforços têm se centrado no apoio ao desenvolvimento de programas especiais de ensino com ênfase na educação para a paz, tolerância e a não-violência”. Existem, todavia, várias formas de paz além da não-violência, mas todas divergem de um ponto comum: o choque entre simbolismos alheios aos olhos no instante em que o convívio com o Outro invisível torna-se inevitável. CONCLUSÃO É imperativa a inserção do estudante para além da academia e do Pragmatismo do ensino: inseri-lo na comunidade como parte constituinte da mesma. A Universidade, formadora de subjetividades, com isso, constituir-se-á espaço rico de interações entre grupos culturais diversos, com edificação de sujeitos que percebam as diversidades e valorizem a integração e vivência comunitárias, formando-se seres conscientes de si, de sua relação com o mundo e com outras verdades na legitimação do Outro.