Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
PRÁTICA DE INTERAÇÃO ENSINO-SERVIÇO-COMUNIDADE: VIVENDO E APRENDENDO NO COTIDIANO DAS FAMÍLIAS
João José Batista Campos, Rossana Staevie Baduy, Maria Lucia da Silva Lopes, Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Airton José Petris, Sarah Beatriz Meirelles Félix, Dinarte Alexandre Prietto Ballester Alexandre Pr Ballester, Catia Campaner Ferrari Bernardy, Carolina Milena Domingos, Elisabete Fátima Nunes, Wladithe Organ Carvalho

Resumo


Há tempos existem movimentos e iniciativas que buscam a aproximação do ensino, do serviço e da comunidade, mas nem todos conseguem realizar de uma forma eficiente e que tenha seus objetivos alcançados. A Universidade Estadual de Londrina tem se debruçado nesta temática e de fato, muito tem sido planejado, implementado e avaliado. Tratando-se de uma atividade de ensino de graduação e imaginando que diferentes saberes e personagens estão envolvidos, sem contar o contexto político e histórico que também influencia diretamente este processo, coube a nós reestruturar e planejar novamente as práticas de interação envolvendo ensino-serviço-comunidade com dois cursos da área de saúde da Universidade. O espaço na matriz curricular onde existe esta aproximação constitui em Módulos anuais que englobam estudantes de Enfermagem e Medicina e acontecem no primeiro e segundo ano dos cursos. Para viabilizar a tarefa de reestruturação do Módulo, os docentes envolvidos participaram de oficinas de trabalho por 4 horas semanais, com pautas pré-acordadas e com tarefas bem definidas entre os integrantes do grupo. Neste resumo descreveremos apenas o resultado da reorganização do Módulo que acontece no primeiro ano. Partimos da premissa que devíamos promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas, afetivas e psicomotoras que pudessem ser mobilizadas e integradas, para a realização qualificada dos desempenhos das áreas e competência do cuidado às necessidades de saúde do indivíduo/família e das necessidades coletivas de saúde e da organização da rede de cuidados. As necessidades de saúde em cenários reais e simulados da prática profissional foram pensados de acordo com o grau de autonomia e domínio dos participantes recém ingressos na Universidade. Como este Módulo está inserido nos dois primeiros anos de Enfermagem e Medicina, mas com desempenhos diferentes a serem atingidos entre os dois anos, teve que se levar em conta, que a reestruturação deste primeiro ano, implica necessariamente em mudança também no ano seguinte, para tanto, as áreas de competência descritas acima, devem ser apreendidas pelos alunos, de forma crescente da seguinte maneira: identifica, formula e elabora, e por fim, intervêm. Assim, as atividades acadêmicas ocorreram às quartas-feiras à tarde, alternadamente na UBS, no Centro de Ciências da Saúde da UEL e momentos de estudo individual, ciclo este nominado pelos docentes de “Movimento”, totalizando sete Movimentos durante o ano acadêmico. Cada Movimento permitiu o estudo teórico e a vivência prática dos desempenhos e competências já descritos acima. Os professores também acompanhavam o “Movimento” dos estudantes, sempre presentes na discussões teóricas na universidade, nas semanas de atividades na UBS e, na semana disponível para estudos individuais ou em grupo dos alunos, os professores também realizavam “encontros para Educação Permanente em Saúde”. Neles eram relatadas as atividades desenvolvidas, bem como a organização dos movimentos posteriores, estudo em grupo e debates sobre temas específicos. Esta proposta possibilitou a construção de vínculo, de pactos e negociações entre os docentes, além de ampliar a caixa de ferramentas deste coletivo. Os acadêmicos estavam divididos em dez grupos mesclando medicina e enfermagem, alocados em dez Unidades Básicas de Saúde do município de Londrina, cada grupo acompanhado por um docente. Como estimulamos o trabalho multiprofissional e a troca de experiências e saberes, a composição da equipe de docentes também fortaleceu esta prática, com instrutores da medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, de dois Departamentos da Universidade. Os acadêmicos foram divididos em duplas ou trios e, com o apoio dos instrutores, realizaram visitas domiciliares que permitiram a elaboração de 140 histórias de vida, ou seja, cada aluno sistematizou uma narrativa ao final do Módulo, sobre a família sob sua responsabilidade, atividade tão importante para a construção de vínculo, o investimento nas tecnologias leves e a possibilidade de realizar atividades centradas no usuário e não nas ferramentas ou no serviço. As famílias visitadas foram selecionadas pelos trabalhadores da atenção básica a partir da solicitação dos professores: famílias que morassem próximo a UBS, que possivelmente concordassem com as visitas constantes e que possuíssem perfis diferentes para que os estudantes pudessem vivenciar e compartilhar experiências com crianças, idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas. Entretanto, as famílias não poderiam ter necessidades e problemas complexos, uma vez que os alunos participantes ainda tem com pouco acúmulo e experiência na área. Como tínhamos vários desempenhos a serem atingidos em cada Movimento, os instrutores, juntamente com o seu grupo de alunos, selecionavam o relato e prática que despertasse maior interesse para o estudo dos conteúdos propostos. Utilizou-se também uma plataforma virtual para acompanhamento processual individual de cada aluno, local que permitia a entrega dos trabalhos e o docente realizava a avaliação das atividades propostas aos alunos. Ao final do Módulo, cada grupo de alunos apresentou recortes das narrativas às famílias visitadas, marcando o final do ciclo das visitas e como despedida aos usuários. Algumas vistas domiciliares foram gravadas pelo setor responsável na Universidade e selecionamos usuários para darem seu depoimento sobre esta experiência de abrir suas casas para os acadêmicos e dividir com eles sua história de vida. A devolutiva fez com que as famílias percebessem a importância de sua participação na formação profissional de futuros enfermeiros e médicos e os acadêmicos, sensibilizados com a história de vida dos usuários, sentiram-se parte da rede de cuidados, ainda que iniciantes em suas trajetórias como profissionais de saúde. Os grupos também sistematizaram os conteúdos mais marcantes e os resultados disseminados em um evento da Universidade. Os docentes, continuando o processo de reformulação do Módulo, realizaram fórum interno para avaliação do primeiro ano desta nova etapa e perceberam que os resultados positivos devem ser aproveitados no próximo ano, consolidando a proposta. Concluímos que o uso de relatos de prática e a produção das narrativas foram importantes ferramentas para o ensino e para a futura prática clínica dos profissionais de saúde e que os encontros mensais dos docentes instrutores foi um espaço de educação permanente, permitindo a divulgação das experiências de cada grupo e um momento de repensar as práticas. A integração ensino-serviço-comunidade aconteceu como estabelecido respeitando o grau de aprofundamento dos alunos de primeiro ano, os propósitos do Módulo foram alcançados e todos os atores envolvidos puderam experimentar os benefícios de um trabalho em equipe.