Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PELO TRABALHO EM SAÚDE DA FAMILIA – PET - SAÚDE: a experiência de Aracaju
Maria Cecilia Tavares Leite, Liliádia da Silva Oliveira Barreto, Salvyana Carla Palmeira Sarmento Silva

Resumo


O PET-Saúde da Família em AracajuEm Aracaju, o Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde da Família, criado em 2007, é fruto de articulação existente entre a UFS e a Secretaria Municipal de Saúde e surgiu como uma estratégia para qualificar a formação dos profissionais da área, através da inserção de docentes e discentes na realidade do SUS e da articulação mais estreita entre ensino, serviço e comunidade. Anteriormente, essa articulação ocorria de forma praticamente exclusiva através dos estágios curriculares dos cursos e possibilitavam uma formação em serviço, quer seja nas atividades de gestão, na gestão do cuidado ou no cuidado direto objetivando apenas o atendimento das necessidades imediatas de saúde da população. Atualmente, através do PET, os discentes e docentes vinculam-se ao PSF, vivenciam essa realidade e reafirmam a indissociabilidade entre teoria e prática trabalhando a realidade na qual se inserem, com exercícios contínuos de análise da realidade e uma atuação que analisa e dialoga com a população e os demais profissionais das equipes. As atividades desenvolvidas no PET-SAÙDE da Família em Aracaju partem dos princípios e eixos que orientam o programa em todo o país e estão assim estruturadas: ü Inserção dos discentes, de forma interdisciplinar, na equipes das USF , sob orientação técnica de profissionais dos serviços (preceptores) do seu núcleo profissional e de um docente (tutor), como principio que o processo de construção do conhecimento deve ocorrer de forma coletiva e a partir da problematização dos aspectos do território e da forma como, no local, os serviços se estruturam. A designação do tutor para os grupos de discentes ocorre sem a referência ao núcleo profissional como forma de possibilitar que as reflexões assim ocorram e não sejam estruturadas a partir das “necessidades do profissional”, especialmente se essa ocorre na perspectiva individualizante que produz somente ações ambulatoriais, de consultório. As vivencias ocorridas fomentam processos coletivos de construção de saberes e reflexões das práticas profissionais desenvolvidas articuladas à leitura da realidade de inserção de cada USF. Ter o território como referencia das ações proporciona, ainda, experiências de aprendizagem com os sujeitos que nele se movimentam, com suas características geográficas, econômicas, sociais e culturais, o que propicia a observação e vinculação contínua com o usuário, a visão de clínica ampliada e de novos paradigmas para a formação dos profissionais e de referência para aqueles que já estão na rede de serviços de saúde;ü Para a organização das atividades, os temas geradores são organizados em módulos, iniciados com uma atividade coletiva na qual tutores, preceptores e discentes problematizam o conhecimento já produzido, realizam a análise da realidade, identificam os problemas e proposições de intervenções, considerando os limites e as possibilidades da implementação destas e planejam as atividades a serem desenvolvidas nas USF’s, onde as experiências e saberes são (re) construídos, avaliados e compartilhados com os sujeitos locais;ü Construção de projetos de pesquisa a partir das necessidades detectadas, na perspectiva de, também, romper com o distanciamento entre execução\serviço e produção do conhecimento\academia;ü Reunião semanal entre tutores, preceptores e discentes nas USF’s para avaliação e construção das atividades e reunião, também semanal, dos tutores com a coordenação do programa, constituindo-se em momentos de construção teórico metodológica, de articulação e produção coletiva do PET em todos os níveis;ü Desenvolvimento de ações no Núcleo de Excelência que se caracteriza pela articulação e participação dos Departamentos envolvidos (medicina, enfermagem, odontologia e serviço social) através de seus tutores e, eventualmente, de professores convidados. A proposta é que as ações do Núcleo sejam ampliadas, com a intenção de efetivar as ações interdisciplinares com os demais cursos da saúde que atualmente não participam do PET Saúde em Aracaju, iniciando com as coordenações dos estágios curriculares e das Residências Multiprofissionais da UFS que tem inserção na área de atenção primária. Esta é uma proposta que ainda está em fase em construção, objetiva ampliar a produção do conhecimento e envolver outros sujeitos que se movimentam na atenção primária e contribuir com a construção e produção do conhecimento em saúde da família. Conclusões parciais: O PET Saúde da Família, em Aracaju, atraiu os olhares e debates sobre as possibilidades de inversão do modelo de assistência à saúde, que, segundo o formato historicamente construído e consolidado, tem a rede de atenção estruturada na forma “tradicional” de assistência à saúde, atende basicamente à demanda espontânea, com atividades realizadas individualmente, e tem como objeto a doença, referenciada no olhar biológico e clínico, em um processo médico-centrado.No entanto, as requisições para tal desafio implicam também na construção de novos perfis profissionais, para o que foi criado o PET- Saúde, através do qual os discentes são inseridos em atividades desenvolvidas com as equipes de Saúde da Família, experimentam o aprendizado em um território, conhece suas características e sujeitos, com eles vinculam-se e responsabilizam-se por suas necessidades de saúde. O PET tem também contribuído para a reorientação da Atenção Primária e seus impactos podem ser observados nos questionamentos e interesses não só dos que fazem parte do programa, como também dos demais profissionais da rede de serviço, dos docentes e discentes que, de alguma forma, se inserem nesse nível de atenção. Constata-se continuamente a procura de informações sobre as atividades desenvolvidas para produção de trabalhos de pesquisa e de conclusão de cursos, além do acompanhamento de estágio curricular no Programa como é o caso dos docentes de Serviço Social.Ademais, a ação em equipe tem permitido também a visão da clínica ampliada, novo paradigma reconhecidamente importante para a formação profissional. A introdução do conceito de “clínica ampliada” marca e redireciona os processos de trabalho, ao propor o rompimento com o saber clínico como uso exclusivo de um profissional e do estabelecimento de seu poder sobre os demais e contribui, assim, para o estabelecimento de relações mais “horizontais” entre os diversos profissionais e com a população, fundamental nesse processo.No entanto, esses novos paradigmas ainda não são efetivamente abordados na graduação, o que poder ser constatado durante os debates coletivos no qual os discentes demonstram desconhecimento sobre eles. Também o grande distanciamento entre os Centros da UFS, o pouco “dialogo” entre os projetos pedagógicos dos diversos cursos e os conhecimentos nele produzidos tem contribuído também para o distanciamento entre a formação profissional e o cotidiano dos serviços.Para a superação dessas lacunas, durante o PET, docentes, discentes e profissionais da Rede SUS – Aracaju tem experimentado a troca de conhecimentos, experiências e saberes, com a retirada do foco do núcleo profissional para as atividades de “campo” que são aquelas que envolvem todos os profissionais, ou seja, aquelas que podem ser desenvolvidas por qualquer profissional independente do núcleo. Dessa forma, a idéia é criar uma via dupla e continua de crescimento profissional nesse espaço vivo de ensino – aprendizagem, que é revertido em qualificação do ensino e do serviço.Apesar de todas as lacunas constadas, é possível afirmar que o PET-Saúde tem contribuído qualitativamente com os serviços e com as condições para que a educação em serviço constitua-se numa diretriz que possibilite a reformulação dos projetos pedagógicos dos cursos, altere a forma de produção do conhecimento distanciado da dinâmica dos serviços e impacte efetivamente no perfil dos profissionais.