Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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PROREFORMA: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR NA FORMAÇÃO EM SAÚDE.
Lumena Aleluia

Resumo


RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar o processo de construção e consolidação do grupo denominad PROREFORMA. Além de prestar o devido reconhecimento ao processo que a experiência tem proporcionado para formação acadêmica dos integrantes, bem como crescimento pessoal e qualificação profissional. Uma relação que é construída cotidianamente, assim como o SUS. Um grupo são pessoas em coletivo agindo. Em se tratando de direitos e deveres que envolvem a saúde, somos um coletivo agindo para a garantia da saúde de todos. Esses “todos “ são condensados nos “substantivos” jovens, adultos, idosos, ricos, pobres , pessoas que tem nome, raça, identidade social e que também, contam com nossa luta. INTRODUÇÃO O PROREFORMA nasceu no ano de 2011, a partir de um encontro entre estudantes das mais diversas áreas de saúde da Universidade Salvador, entre eles, graduandas(os) dos cursos de Psicologia, Fisioterapia e Enfermagem, dispostas(os) a dedicar um espaço em suas vidas para colaborar com a construção de um outro formato de educação em saúde, para além do modelo rígido da acadêmica e dos respectivos cursos de formação. A interdisciplinaridade é fundamentalmente um processo e uma filosofia de trabalho que entra em ação na hora de enfrentar os problemas e questões que preocupam a sociedade. (TORRES, SANTOMÉ, 1998). Para tal, iniciamos as reuniões com o objetivo de obter um espaço, cuja reflexão fosse fruto de discussões interdisciplinares, fruto do encontro entre saberes, superando a lógica da hierarquia e disputa de conhecimentos. Esse era o princípio que nos uniu a todo o momento - independentemente das respectivas ferramentas de estudo e trabalho dos membros. Apresentando-se, portanto, como um espaço diferenciado para a construção de reflexões acerca do processo da reforma sanitária e das implicações das políticas sobre a saúde. O Brasil foi contemplado, no findar dos anos 80 com uma das principais referências de saúde no mundo, o (SUS )Sistema Único de Saúde , um grande marco na história de luta pela democratização do País, tendo como referência os movimento da Reforma Sanitária e a Conferência Nacional de Saúde, momentos imprescindíveis no processo de consolidação do SUS. A identificação com as discussões acerca da história da saúde pública/coletiva no Brasil foi essencial para efetivarmos o PROREFORMA, preocupando-se e contribuindo com uma outra concepção de aprendizagem, pensada também em territórios “extra muros”, para além da Universidade, das nossas áreas específicas, enraizando assim, o compromisso interdisciplinar da atuação dos profissionais nos mais diversos contextos de saúde. O interesse surge também, diante do diálogo ainda incipiente em sala de aula sobre os aspectos da atuação em equipes na saúde. A equipe interdisciplinar nos serviços de saúde trata-se de uma estratégia de inclusão de práticas dos mais diversos profissionais, com ações de recuperação e proteção à saúde, visando uma atenção articulada, cujo objetivo é promover a melhoria e qualidade de vida do usuário do serviço. ( Brasil, 2000) Desta forma, se evidencia a importância de pensar a saúde sob a perspectiva interdisciplinar desde acadêmica, principalmente no que se refere às produções acadêmicas em relação à temática, pois ainda pouco é discutido acerca das dificuldades de atuação interdisciplinar nos serviços de saúde, influenciando diretamente no funcionamento da equipe e na qualidade dos serviços prestados a comunidade. Para Minayo (1994) se faz necessário que os setores de saúde garantam a interdisciplinaridade coletiva, posto que a saúde e a doença no seu âmbito social reflete diretamente nas relações sociais, biológicas, emocionais e afetivas. Após a VIII Conferência Nacional de Saúde o conceito ampliado de saúde pôde ser finalmente legitimado, resultado de muitas manifestações ao longo da reforma sanitária em toda América Latina. A saúde passa a ser entendida em sentindo amplo, como resultante de alimentação, habitação, lazer, transporte, meio ambiente, trabalho, moradia ( Brasil, 1986). Tais processos foram imprescindíveis para os avanços nas discussões referentes aos profissionais em equipe, proporcionando deste então o devido reconhecimento às equipes multidisciplinares que corrobora eminentemente com a necessidade de compreender a saúde do sujeito como fruto das suas multideterminações, levando em consideração seu contexto social, econômico e político. Estes processos contribuíram para a afirmação da importância destes profissionais nas equipes, evidenciando o beneficio humano e social de todas as teorias e práticas articuladas. Entretanto, as produções e discussões interdisciplinares sobre a saúde, ainda se mostram recentes neste âmbito, colocando em questão a necessidade de integração das disciplinas dos cursos e principalmente das formações que dispõe de recursos humanos para operar neste campo, desta forma as Universidades estarão contribuindo com profissionais cada vez mais comprometidos com a realidade da saúde da população. O PROREFORMA tem como objetivo dialogar com essa perspectiva, oferecendo a experiência de uma formação que visa apreender, construir, problematizar, refletir sobre quais os papéis que a formação interdisciplinar na saúde tem assumido neste campo e quais papéis podem vir a assumir. OBJETIVO GERAL Promover o diálogo entre os estudantes dos cursos de Saúde da Universidade acerca do sistema único de saúde. OBJETIVO ESPECÍFICO Estimular a troca de experiências entre os membros;Fomentar a integração entre os cursos de Saúde da Universidade Salvador;Proporcionar a fundamentação teórica e debates acerca da Reforma Sanitária;Qualificar a formação sobre a atuação em contextos de saúde pública/coletiva;Aprofundar as questões sobre a políticas públicas de saúde;Incentivar a participação em palestras, oficinas, estágios obrigatórios e não obrigatórios do SUS;Divulgar eventos, congressos, simpósios que discutam a temática;Estimular a produção de relatos de experiência, artigos, trabalhos, bem como a apresentação dos mesmos;Realização de eventos, mesas redondas na Universidade. METODOLOGIA A proposta do PROREFORMA é estimular a discussão abordando as questões supracitadas, através de revisões de literaturas, sendo essencial que os membros estabeleçam um contato prévio com o conteúdo, e posteriormente este possa ser compartilhado com o grupo, daí iniciamos os momentos de reflexão e debate acerca das temáticas. Os encontros são semanais e para dinamizarmos as discussões, frequentemente utilizamos de documentários, os resultados das participações em palestras e oficinas sob diferentes perspectivas, que abordem a temática central, buscando sempre transversalizar a discussão em relação à Saúde pública/Coletiva, Políticas Públicas de Saúde, Centros de Atenção Básica, Sociedade, e discursos em nome da proteção e promoção do cuidado ao usuário do SUS. Dessa maneira, nosso objetivo é promover um debate, sobretudo, abordando diferentes opiniões e posicionamentos, para que não apenas os participantes possam refletir sobre esses discursos, mas se posicionar de maneira mais crítica em relação a sua prática profissional. DISCUSSÃO E RESULTADOS Iniciar um processo interdisciplinar na acadêmica proporcionou um rápido amadurecimento nas discussões sobre o campo da saúde. Para os/as integrantes a experiência do PROREFORMA tem proporcionado boas conquistas ao longo da formação, a maioria dos integrantes já estiveram ou estão em contato com cotidiano do SUS, seja por atuação em estágios obrigatórios, não obrigatórios, vivências interdisciplinares ou apresentação de trabalhos em congressos nacionais. Esses resultados foram muito satisfatórios para o grupo como um todo, constituído-se como os primeiros passos de trajetórias profissionais em direção ao SUS, servindo de experiência para a construção do respeito ao outro, ao seu conhecimento e no acolhimento das diferenças. Ao longo do tempo, o pensar e o construir vão ganhando novas formas, cada vez mais sólidas na relação com saúde. A experiência do PROREFORMA surge como uma tentativa de fazer aquilo que acreditamos ser importante e isso nos proporciona a possibilidade de voltarmos as nossas casas, após cada encontro cotidiano carregando a sensação de “estar fazendo alguma coisa” em meio as barreiras que constantemente nos são apresentadas. Um espaço onde nos unimos pela distância crítica perante as notícias, situações e vulnerabilidades que enfrentamos em relação ao cotidiano do SUS. A identificação surge a partir da possibilidade de se relacionar de forma diferente com a ciência na qual estamos nos instrumentalizando. Conhecemos novas Psicologias, Fisioterapias e um novo modelo de Enfermagem, pois a maneira histórica, individualista, temporal de como tais práticas foram consolidadas enquanto ciência já foram ressignificadas. Hoje, somos produtores de novas ciências, com compromisso e responsabilidade social, rompendo com os vínculos e alienação elitista, pelos quais, o setor de saúde, dentro do devido processo sócio histórico foi desenvolvida e alienada enquanto prática profissional. Hoje crescemos muito enquanto ciência, mas o modelo de se relacionar com a saúde, ensinado nas Universidades, imposto pelo projeto do neoliberalismo, sistema capitalista, mídia, representações sociais e tecnologia, ainda nos convocam cotidianamente a recriarmos maneiras de produzirmos novas possibilidades de trabalhar na saúde, de repensarmos como nos aproximarmos das pessoas, rompendo com as certezas que a própria ciência nos impõe, para assim acompanharmos o processo sócio histórico que vivemos hoje. Rompemos juntos com a dita lógica dos modelos reprodutivos impostos pelo ensino acadêmico tradicional, que já não nos bastam mais, pois não condizem com a realidade social brasileira e começamos a entender que cultura não é casulo, educação é consciência e direitos humanos é micro política. CONCLUSÃO Debater sobre o sistema único de saúde de forma interdisciplinar é um dispositivo capaz de gerar grandes mudanças na formação de qualquer estudante do campo da saúde. Nesse sentindo, buscamos proporcionar uma articulação maior para o pensar coletivo, tendo em vista que é um encontro de saberes e dos mais diversos tipos de atuação. Desse modo, o PROREFORMA funciona como uma oportunidade de refletirmos sobre o panorama histórico, as atuais Políticas Públicas de Saúde, ações, organizações e serviços do SUS através da perspectiva interdisciplinar. É, portanto, um espaço que reforça alguns dos movimentos presentes na historicidade dos manifestos produzidos em nosso país, inclusive o que teve o SUS como resultado. Além disso, compartilhamos nossas inquietações fruto das nossas experiências nos estágios, percepções acerca dos desafios, aspectos da gestão, as necessidades, os trabalhadores, a organização das ações, ou seja, os aspectos que conjuntamente marcam o processo de fortalecimento do Sistema de Saúde no Brasil. Seguindo a idéia da micropolítica, ou seja, a política feita nas pequenas relações é que podemos evidenciar a relevância desse grupo, ou seja, através da transformação das pequenas relações, podemos chegar a grandes ações. São a partir de tais articulações que idealizamos projetos que estimulam aos estudantes uma noção mais crítica da sua formação e da importância da dimensão social que é ser um profissional do SUS, no sentindo comprometido com as mudanças em meio às realidades que não oferecem qualidade em seus serviços. Para tal, se aproximar da realidade da saúde no nosso país priorizando o sistema público, bem como refletir sobre alguns discursos, gestão, leis, poder, interesses, políticas, redemocratização é algo “ desafia-dor “. Por isso, constantemente nos debruçamos sobre o nosso real papel enquanto representantes deste movimento, pois não nos reconhecemos apenas como estudantes buscando uma formação acadêmica complementar, mas principalmente cidadãos exercitando a oportunidade de contribuir coletivamente com a garantia do direito as pessoas . Dessa maneira, caminhamos de maneira coletiva, crítica buscando agregar cotidianamente implicações no processo da nossa formação, enquanto colaboradores da redemocratização da saúde. Seja por dedicação a algo ou a alguém, mesmo que por pequenos passos, mas equivalentes a grandes crescimentos. Crescimentos estes, enquanto grupo, enquanto ritmo, coletivo, pessoas, estudantes e futuros profissionais da saúde pública do Brasil.