Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Relato de Experiência: Projeto Terapêutico Singular (PTS) vivenciado pelos acadêmicos de fisioterapia no bairro São Conrado, Campo Grande-MS
Sheila Insfran da Silva, Juliana Llano, Suzi Rosa Miziara, Laís Alves de Souza Bonilha

Resumo


Introdução: O PTS é um conjunto de propostas terapêuticas articuladas para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão de uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário (POLÍTICAS NACIONAIS DE HUMANIZAÇÃO, 2007). Um dos objetivos pretendidos por esta ação visa à autonomia e participação ativa do usuário, assim como desenvolver vínculo e co-responsabilização entre profissional-paciente. As ações do PTS são divididas em quatro etapas: diagnóstico do problema, definição das metas, divisão de responsabilidade e reavaliação. O fisioterapeuta dentro de suas competências torna-se um profissional indispensável na atenção primária, capaz de desenvolver ações de promoção, prevenção, planejamento de ações, fazer levantamento epidemiológico, de executar as políticas públicas de saúde e demais atividades. Sua participação no PTS é, na maioria das vezes indispensável, considerando-se que essa prática contempla especialmente os pacientes que apresentam condições clínicas mais complexas. Descrição da experiência: No período do 2º semestre do ano de 2011 os acadêmicos do quarto ano do curso fisioterapia da UFMS integraram, junto a outros profissionais da área da saúde, o grupo que desenvolveu projetos terapêuticos singulares em duas unidades básicas de saúde da família. As ações de um dos grupos foram desenvolvidas no bairro São Conrado na cidade de Campo Grande-MS. Os alunos foram subdivididos em equipes sendo acompanhados por docentes e profissionais da UBSF, ficando cada grupo responsável pela visita semanal a uma família que necessitasse do PTS, identificada pela equipe da UBSF. Nas sextas-feiras ocorriam reuniões na unidade onde os casos eram expostos e discutidos afim de se construir propostas de ações e soluções para cada família. Escolha das famílias: no total três famílias receberam as equipes para o desenvolvimento do PTS, sendo que o critério de escolha de cada família se deu pela presença de um paciente que necessitasse de assistência fisioterapêutica. Esse critério de escolha resultou da proposta inicial, que partiu da Universidade para a Rede Municipal de Saúde com o objetivo de proporcionar ao acadêmico de fisioterapia a vivência do desenvolvimento de um PTS e do trabalho em equipe. Por isso, foi critério de escolha a necessidade prioritária da fisioterapia, destacando o acadêmico como ator principal, como coordenador do cuidado, o que aumenta o interesse e responsabilidade no cuidado. Conhecimento dos casos: A primeira família foi caracterizada pelo histórico de diabetes não controlada, diagnosticada em três dos quatro membros da família, com subsequente amputação de membros em dois dos familiares, destacando-se também um caso de dependência química e alcoólica e a presença de uma idosa cadeirante. Dentro deste conjunto familiar o principal obstáculo era a resistência dos familiares em receber a equipe de saúde. A apatia e descaso dos próprios membros com os cuidados de saúde foi um dos fatores agravantes nesta situação. A segunda família destacou o caso de idosa, com histórico de AVE, acamada há um ano e totalmente dependente de sua filha. A cuidadora apresentava alto nível de estresse, cansaço físico e psicológico. A terceira família era formada por um casal de idosos, em que o marido apresentava histórico recente de acidente vascular encefálico necessitando de atendimento fisioterápico. O paciente em questão era dependente de sua esposa para determinadas atividades da vida diária. Ações: A primeira ação desenvolvida por todos os grupos, objetivou desenvolver a aproximação com os membros da família, apresentar a equipe e estabelecer as metas a serem atingidas, além da coleta dos dados e informações para identificação da situação de vulnerabilidade de cada integrante da família. Após este primeiro contato houve uma reunião entre as equipes (acadêmicos, professores, profissionais de referência da UBSF) para discussão do caso e construção de estratégias terapêuticas. As ações foram elaboradas a partir das necessidades identificadas, sendo previamente programadas e executadas seguindo cronograma semanal a ser atingido ao final de quatro visitas. Em cada visita foram solicitadas as opiniões dos pacientes quanto as ações realizadas e pactuadas, sobre o que poderia ser melhorado e quais as suas prioridades para o momento. Intervenções: Cada abordagem estabelecida considerou o perfil e peculiaridade de cada família. Dentre as estratégias propostas a 1ª família: foram realizadas orientações quanto ao uso de órteses e próteses, orientações de cuidados com o coto, posicionamento e uso adequado da cadeira de rodas, incentivo ao acompanhamento regular médico, roda de conversa sobre a importância do controle da diabetes, retorno da família ao convívio social através da inclusão no esporte adaptado à deficientes físicos. 2ª família: orientações sobre posicionamento e mudanças de decúbito, cuidados quanto à higienização do ambiente, orientações posturais para cuidadora, apoio psicológico à cuidadora, elaboração de uma rotina para a idosa visando seu retorno ao convívio familiar, incentivo a prática de esportes para cuidadora. 3ª família: roda de conversa sobre as consequências do AVE, orientações sobre mudanças de hábitos de vida, exercícios práticos e simples para serem feitos em casa, foi elaborado manual ilustrativo e didático sobre exercícios e manuseios que pudessem auxiliar a cuidadora e pacientes nas AVDs. Impactos: tal experiência permitiu um maior conhecimento dos acadêmicos sobre a necessidade da atuação do profissional fisioterapeuta como integrante de uma equipe na atenção básica de saúde, promovendo o cuidado integral dos pacientes e a inclusão dos familiares e redes de apoio social. As ações desenvolvidas destacaram a importância do fisioterapeuta na promoção e prevenção no cuidado, quebrando o paradigma da atuação exclusiva na reabilitação. Essa experiência evidenciou a necessidade de um número maior de fisioterapeutas na atenção básica, visando suprir a alta demanda pelas ações que envolvem esse profissional; a importância da abordagem durante a graduação das habilidades profissionais não técnicas, da escuta qualificada, do acolhimento e a ação de lidar com as famílias em diferentes circunstâncias; a compreensão do processo de trabalho em equipe multiprofissional. Conclusão: O curso de fisioterapia demonstrou através desta experiência a importância da inclusão do profissional fisioterapeuta na atenção primária e a necessidade da formação de profissionais para a atuarem no SUS, caracterizando o desenvolvimento de conhecimento, habilidades e atitudes coerentes com as políticas públicas. O fortalecimento da atuação profissional quando realizada em equipes multiprofissionais foi apontado como um dos fatores que promovem a resolutividade na atenção primária.