Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Saúde Mental sob a perspectiva da Prevenção e Promoção de Saúde: reflexões a partir do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET Saúde/ Saúde Mental
Melissa Tieko Muramoto, Flavia Cézari, Mariana Rivera, Paula Buratini, Bárbara Giusti, Elisabete Mângia, Márcia Oliveira

Resumo


PET-Saúde Mental é um Programa em parceria com os Ministériosda Educação e Saúde e a Universidade de São Paulo e tem como objetivoestimular a formação de grupos de aprendizagem tutorial para atuar na atençãoem saúde mental, crack, álcool e outras drogas, dentro do Sistema Único deSaúde (SUS). Tem como fio condutor a integração ensino-serviço-comunidade.As ações foram realizadas junto a duas Unidades Básicas de Saúde (UBS)com profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), e a umCentro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizados na região oeste deSão Paulo. Participam do Programa estudantes, docentes e profissionais dePsicologia, Terapia Ocupacional e Enfermagem.O objetivo deste relato é refletir sobre o campo da Saúde Mentalno desenvolvimento de ações na Atenção Básica a partir da experiênciadesenvolvida com o PET-Saúde Mental durante o ano de 2011.A partir dos moldes tradicionais em que se costuma realizar o cuidadoem saúde mental (assistência ambulatorial e CAPS - Centros de AtençãoPsicossocial) é difícil pensá-la dentro da atenção básica. Ou seja, entende-se, aqui, a importância da compreensão de saúde mental pra além dosdiagnósticos e patologias. Isso também se revela no fato de serem poucos osespaços específicos para a área dentro das UBS, o que inicialmente mostrou-se como dificuldade para os alunos do PET e foi tema recorrente de discussãonas preceptorias do Programa. No início do projeto, era comum a crença deque a atenção à saúde mental na atenção básica era feita somente na lógicado encaminhamento para serviços especializados (hospitais psiquiátricos,CAPS, CECCO - Centro de Convivência e Cooperativa), no qual a UBS sóserviria de intermediária entre o usuário e outros serviços. Porém, ao longo doandamento do PET-Saúde Mental e do aprofundamento das discussões, osalunos puderam perceber que o cuidado à saúde mental não se dá somentenos espaços específicos, mas principalmente nos espaços de promoçãoe prevenção de saúde oferecidos pela UBS. O olhar diferenciado para asaúde mental oferecido pelo serviço, funciona numa ideologia diferente dalógica estritamente ambulatorial, mas não significa que os usuários que temuma demanda nesse sentido não estejam sendo cuidados. Nos momentode preceptoria os alunos puderam analisar os princípios básicos do SUS e,pensando os conceitos de clínica ampliada, prevenção e promoção de saúde,perceberam que os diversos espaços de atenção promovidos pelas UBS setornam potenciais também para o cuidado e identificação de questões emsaúde mental. Na participação no PET, os alunos observaram de que forma oscasos de saúde mental surgem nos grupos de promoção (como por exemplo,grupos de caminhada e reeducação alimentar) e em atividades realizadas juntoà comunidade e como são detectados pelos profissionais de saúde. Ainda naatenção básica, existem espaços mais específicos para a atenção à saúdemental, como atendimentos, grupos com familiares e grupos psicoterapêuticos.Porém, a existência dessa especificidade não invalida o fato de que grandeparte da demanda aparece para as equipes, inicialmente, em outros espaços.É recente a inserção do cuidado à saúde mental dentro da atençãobásica. Durante muito tempo, a loucura foi marginalizada e saúde mentaltratada como “especialidade da especialidade”, cujos centros de cuidado, oshospitais psiquiátricos tradicionais, eram separados totalmente dos hospitaisconvencionais, inclusive geograficamente. Os hospitais psiquiátricos selocalizavam afastados dos centros urbanos das cidades, o que respalda o fatode que os que lá viviam eram os marginalizados da sociedade. A mudança deolhar acerca dos que padeciam de doenças psiquiátricas auxiliou o movimentoda Reforma Psiquiátrica que levou ao fechamento e à reformulação dosmoldes da maioria desses hospitais segregadores e castradores da liberdadehumana. A saúde mental passou, a partir de então, a ser considerada umproblema de saúde. Neste momento, seu tratamento pôde se aproximar docuidado à saúde em geral - o que permitiu ser possível o pensar em atenção àsaúde mental na atenção básica.Sendo assim, a Estratégia de Saúde da Familia - ESF, funcionariacomo um importante articulador da rede de saúde mental, superando o modelohospitalocêntrico, criticado pela Reforma Psiquiátrica. Para isso, estabelecediretrizes para maior eficácia de seu trabalho, como, centralização do cuidadona familia, e não no individuo doente, desenvolvimento de atividades depromoção e prevenção da saúde, realizar práticas intersetoriais, ampliando arede de cuidados dos sujeitos atendidos por ela.Na perspectiva da construção de estratégias de ações para o SUS, ainteração ESF e saúde mental ainda necessita ser esclarecida e compreendida.As ações já existentes na área de saúde mental tem requerido uma atenção,sensibilização específica de seus profissionais, os quais não se encontramfamiliarizados com o universo da saúde mental. Essa situação dificulta a noçãodos problemas e sofrimento dos pacientes de transtornos mentais.Assim, fazem-se necessárias a sensibilização e reflexão dosprofissionais e graduandos da saúde para uma compreensão ampliadaem saúde mental, especialmente no sentido de que ela pode ser cuidada noâmbito da atenção básica.