Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
VIVÊNCIA DOS ALUNOS NO MÓDULO PRÁTICAS DE INTERAÇÃO ENSINO, SERVIÇOS E COMUNIDADE NO ACOMPANHAMENTO DE FAMÍLIAS
Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Renan da Silva Isnoldo, Lorraine de Sales Silva, Evelyn Braun Braun, Maria Clara Silveira Marques, Rafael Gomes Garcia, Guilherme dos Santos, Evanilde dos Santos Carneiro, Daniela Sapata Salvadego, Carlos Eduardo Diniz de Souza, Marlow Xavier Rodrigues, Jaqueline Isis Caun, Gabriel Felipe Sivieri Piccirillo, Simone Fagundes da Silva, Lucilene Silva Souza, Lucinei Manfre Manfre, Edna Marta C. da Silva, Mirna Corrêa Valverde, Suely Maria de Jesus, Maria A. Stuqui Mastini

Resumo


O conhecimento dos indivíduos em seu domicílio é de suma importância, pois, possibilita ao profissional de saúde compreender a família em seu contexto ampliando e entender os problemas vivenciados por esses indivíduos indo para além da queixa apresentada. Tem-se constatado, ao longo do tempo, que o perfil de atuação dos profissionais da área da saúde não tem sido suficientemente adequado para um trabalho na perspectiva da saúde como produto social e, tampouco, para um cuidado integral e equânime. Entre os fatores que contribuem para uma formação descompassada as necessidades da população se encontram; formação centrada na doença com ênfase na abordagem hospitalar e dissociada aos princípios do SUS e um enfoque enfaticamente técnico, especializado e fragmentado. Compreendemos que a formação dos futuros profissionais de saúde precisa ir além das práticas atuais e avançar no delineamento dos possíveis cenários sociais nos quais estarão inseridos os atuais estudantes, identificando as diferentes necessidades de saúde da população e ampliando o foco da formação profissional. Vivenciar contextos que possibilite o estudante, ainda na graduação, compreender os diversos cenários e influenciadores da saúde da população potencializa a sensibilização desses futuros profissionais para uma atuação mais humanizada e que responda melhor as necessidades da população. O presente relato de experiência objetiva apresentar os acontecimentos, os conhecimentos adquiridos e os sentimentos vivenciados por alunos de medicina e enfermagem do primeiro ano durante as visitas realizadas a algumas famílias juntamente com as equipes do Programa Saúde da Família. Esta vivencia aconteceu com os estudantes de enfermagem e medicina no modulo Prática de Integração Ensino, Serviço e Comunidade (PIN1/PIM1) no primeiro semestre de 2011 na Unidade Básica de Saúde do Jardim Santo Amaro, em Cambé. Essa prática ocorria com as famílias duas vezes ao mês nas quartas-feiras, inicialmente os alunos realizaram as visitas em conjunto com os agentes comunitários e posteriormente a criação de vinculo os estudantes iam sozinho as famílias. No início da experiência junto á família o sentimento mais explicito pelos estudantes foi o de medo, principalmente, por não saberem criar vínculo, medo de não atingir os objetivos, medo de não representar uma figura importante para a família assim como eles representaram para eles. Com o passar do tempo eles se deram conta de que de certa forma eles começaram a fazer parte daquela família, afinal, no começo, todos eram tímidos e no fim conseguiram estabelecer uma excelente relação com as famílias. Concomitante as visitas e as intercalando eram realizadas sessões tutoriais, no qual era debatido um relato de prática escrito pelos alunos e escolhido a cega por eles, e que tinha como objetivo discutir os eixos teóricos do módulo que foram; o cuidado às necessidades de saúde do individuo e família, o cuidado às necessidades coletivas de saúde e a organização da rede de cuidados e de necessidades de saúde. Nos tutoriais era dado escuta aos sentimentos vivenciados pelos estudantes nas visitas, assim como nas reuniões realizadas no final de cada visita com o tutor. Cada estudante construiu uma narrativa sobre a família acompanhada, a cada visita o aluno registrava em um caderno pontos relevantes e alguns pontos demandados dos encontros tutoriais que posteriormente eram sistematizados pelos estudantes em um texto narrativo, no qual, ele poderia se expressar livremente. Nessa narrativa a história da família, os conceitos apreendidos e a história do estudante poderiam se misturar, mas com clareza o suficiente para que ao final do ano essa fosse lida para a família e compreendida pela mesma. Alguns relatos: (Relato1)“Além disso, aprendi que muitas vezes a doença do paciente não está no corpo físico, mas sim no profundo do seu sentimento, por isso, o que parece ser uma simples visita para nós, para as famílias pode representar, muitas vezes, uma esperança para seguir em frente, a conquista de uma atenção que fora tão desejada ou até mesmo a cura de uma possível “doença”.” (Relato 2)“É verdade que não fui lá representando uma médica, até porque não sou capacitada para tal ofício, mas dentro de mim tenho a certeza de que adquiri uma valiosa experiência para a minha futura profissão junto com essa família. Aprendi como é importante olhar nos olhos durante uma conversa, aprendi como uma simples atenção pode fazer toda a diferença, aprendi a me comunicar melhor e o mais importante, aprendi que independente de ser médico, enfermeiro ou paciente somos todos iguais e merecemos o respeito de todos a nossa volta”. (Relato 3)“Afirmo sem medo de errar que o meu primeiro olhar para a família foi um, e hoje é outro totalmente diferente. Essa família foi uma grande professora para mim, só espero que as nossas visitas tenham contribuído de alguma forma para a vida dessa família também. É muito curioso o que sinto neste momento: ao longo desse ano, eu fui visitar a família, mas a sensação que tenho é a de que eu que fui visitada todo esse tempo.” Com as visitas, os estudantes perceberam que quem estava mais aprendendo eram eles mesmos. As famílias acabaram se revelando grandes professores, contribuindo tanto para a vida acadêmica dos alunos quanto nas suas vidas pessoais. Nesse sentido segue um relato que expressa o sentimento de aprendizado: (Relato 4) “Nos livros podemos aprender sobre doenças e seus tratamentos, mas são nas experiências com os pacientes que realmente compreendemos que a medicina e enfermagem não se baseiam, apenas, em técnicas de curar, mas sim na arte de cuidar. O contato direto com as famílias nos fez crescer enquanto futuros profissionais da saúde”. Diante de tal experiência, fica claro o quanto é impactante, para os estudantes, a vivencia na comunidade para conhecer as realidades das famílias ampliando assim a visão, a percepção e os sentimentos no que refere lidar com as famílias e os indivíduos que as compõem. As repercussões, em curto prazo, dessa vivência pôde ser vista, ouvida e sentida nesse ano, no entanto, as em longo prazo essas são “esperanças”, esperanças de que essa vivencia possa contribuir na formação de futuros profissionais de saúde conscientes das potencialidades de suas ações. O desejo por experiências como essa foi algo explicitado por esse grupo e que deveria de alguma forma ser incluída nas praticas e módulos dos anos consecutivos na formação desses e outros profissionais de saúde.