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A INSERÇÃO DA FARMÁCIA CLÍNICA EM ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: UMA ESTRATÉGIA PARA QUALIFICAR A ASSISTÊNCIA
Resumo
MENDES (2011), em sua obra “Redes de atenção à Saúde”, traz que na construção de Redes de Atenção à Saúde (RAS), a organização do sistema de assistência farmacêutica deve englobar tanto a logística dos medicamentos quanto a farmácia clínica . Isto significa dizer que, tão importante quanto garantir o acesso a estes medicamentos à população é assegurar o seu Uso Racional. Em geral, no Brasil, prevalecem os esforços relativos à organização dos ciclos logísticos e coloca-se, ainda, pouco esforço no componente assistencial e de vigilância da farmácia clínica (MENDES, 2011). Mas a razão fundamental para a sobrevalorização dos ciclos logísticos farmacêuticos está numa visão equivocada que institui como objeto da assistência farmacêutica, o medicamento; contrariamente, uma proposta consequente de assistência farmacêutica desloca o seu objeto do medicamento, colocando, como seu sujeito, as pessoas usuárias do sistema de atenção à saúde. Por outro lado, a introdução da farmácia clínica muda o papel do farmacêutico que de um profissional que lida com medicamentos, passa a ser membro de uma equipe multiprofissional de saúde, interagindo com os demais profissionais e relacionando-se com as pessoas usuárias, suas famílias e a comunidade, de forma que gere vínculos permanentes, com base no acolhimento e na humanização das práticas clínicas (MENDES, 2011). Já a Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição (RIS/GHC) é uma modalidade de pós-graduação lato sensu de caráter multiprofissional. Constitui-se de uma formação teórico-prática em serviço, tendo como orientadores os princípios do SUS para atenção a saúde. É composta por diferentes ênfases - constituídas como diferentes campos de saberes e práticas, sendo uma delas a ênfase em Saúde da Família e Comunidade. Nesta, os residentes são distribuídos pelas 12 Unidades de Saúde do Serviço de Saúde de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar (SSC/GHC), onde desenvolvem suas atividades no campo de formação e vivenciam os princípios da Atenção Primária em Saúde (APS), como territorialização, longitudinalidade e coordenação do cuidado. Neste sentido, a Unidade de Saúde Divina Providência, localizada no distrito leste-nordeste da cidade Porto Alegre, situa-se tanto como campo de formação aos residentes farmacêuticos, como promotora de novas tecnologias em saúde. Através dos residentes farmacêuticos, que já há 6 anos se inserem na equipe, foram desenvolvidas ações e intervenções que, interligadas, constituem um serviço de farmácia clínica aliado às diretrizes do SUS e à qualidade da assistência. As atividades desenvolvidas pelos residentes farmacêuticos, enquanto farmacêuticos clínicos, desenvolvem-se principalmente em três frentes: a) logística clínica dos medicamentos; b) Educação Permanente com a equipe; c) interação direta com o usuário. Os farmacêuticos residentes, conjuntamente aos farmacêuticos preceptores e orientadores que constituem o Apoio Matricial em Farmácia do SSC/GHC, são responsáveis pela logística clínica do medicamento, evitando perdas por excesso de estoque, por vencimento deste ou má gestão do medicamento. As solicitações dos medicamentos são baseadas em critérios epidemiológicos das populações adstritas, além de estarem atentas aos períodos sazonais de dispensação de certos medicamentos, levantamento de dados este realizado pelos farmacêuticos. Já a educação permanente da própria equipe busca o Uso Racional dos Medicamentos (URM) e toma uma dimensão singular quando se assume os dados da OMS que 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente. Seminários são desenvolvidos e há troca de vivências entre os profissionais de distintos campos de saber, seja agentes comunitários de saúde ou médicos de família. Já a terceira abordagem, a da interação direta com o usuário (também chamada “atenção farmacêutica”) assume ainda mais destaque quando o campo de atuação é a APS. Seja através da dispensação, da orientação farmacêutica ou do ambulatório de seguimento farmacêutico, os usuários possuem um espaço garantido de escuta para seus anseios em relação à terapia medicamentosa. E o campo de troca de saberes é coordenado pelo farmacêutico, que além de possuir vínculo direto com usuário e sua família, pode interagir com estes buscando uma melhor qualidade de vida, e entre outros aspectos, potencializar a adesão ao tratamento medicamentoso. As experiências acumuladas ao longo dos anos permitem à equipe da Unidade Divina Providência inferir sobre a importância do profissional farmacêutico inserido nesta equipe, assegurando através das atividades de farmácia clínica o acesso aos medicamentos com segurança, eficácia e resolubilidade da atenção, por meio da atividade farmacêutica comprometida com os princípios da Atenção Primária. Referências: MENDES, Eugênio Vilaça - As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health. WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64