Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Estratégias de acesso e acolhimento em Oncologia: Um olhar sob o prisma do Serviço Social.
Fabiana Felix Ribeiro, Simone Monteiro Dias, Ana Celina Muniz de Oliveira, Marcele Gulão Pimentel

Resumo


O Serviço Social através de seus projetos de intervenção desenvolvidos nos diferentes processos assistenciais de um hospital oncológico de referência localizado no Rio de Janeiro - RJ, vem procurando sistematizar uma prática que vise atender as necessidades dos usuários, pacientes e familiares, e os da instituição, coadunando-os ao projeto profissional da categoria, entendendo que todos são sujeitos na operacionalização e efetivação da atual política de atenção oncológica brasileira.A partir do ano de 2008 buscou-se a redefinição de ações que tivessem maior alcance ao contingente de usuários matriculados na instituição, oferecendo os recursos cabíveis ás suas necessidades, instrumentalizando-os para o acesso a políticas sociais públicas, de acordo com o código de ética profissional, entendendo ser este um compromisso com a equidade e qualidade na prestação da assistência em saúde.Desta forma, priorizou-se atuar diretamente com o trabalho coletivo junto aos pacientes que aguardam os atendimentos ambulatoriais. O outro enfoque está na priorização dos pacientes que estão sendo matriculados no dia para a realização de entrevista social. Esta proposta foi possível a partir do movimento de busca ativa realizado pelas assistentes sociais que atuam no ambulatório geral de Serviço Social e focou algumas clínicas específicas por razões que posteriormente abordaremos.Essa busca ativa insere-se em um processo de trabalho mais amplo, que engloba a atuação do Serviço Social no ambulatório geral composto também pelos agendamentos subseqüentes e atendimento de demanda espontânea, bem como a atuação em enfermaria, que compreende a assistência durante o processo de hospitalização.Nesse sentido, passamos a focar a reorganização do fluxo de atendimento ambulatorial, ampliando esse trabalho para a atuação no ambulatório das clínicas através da estratégia da busca ativa. Entendemos que durante todo o processo de tratamento, os usuários já instrumentalizados para acesso aos direitos sociais, apresentam melhores condições para efetivá-los.O presente trabalho visa através da atuação do Serviço Social no ambulatório das clínicas de Urologia, Abdômen e Cabeça e Pescoço, na realização do acolhimento e entrevista social com os pacientes recém matriculados, fundamentar a importância do atendimento o mais cedo possível aos pacientes matriculados nessas clínicas.Essa abordagem consiste em conhecer os pacientes sob os aspectos familiares, habitacionais, profissionais e econômicos, com o intuito de orientá-los a respeito de seus direitos sociais, identificando possíveis problemas que possam interferir na continuidade do tratamento.A ação utilizada para antecipar o acesso dos pacientes aos direitos sociais é a busca ativa. O conceito de busca ativa é derivado da área da vigilância epidemiológica e aponta para "a busca de casos suspeitos, que se dá de forma permanente ou não, visitas periódicas do serviço de saúde em áreas silenciosas e na ocorrência de casos em municípios vizinhos", de acordo com o dicionário digital de termos médicos.Esse conceito foi adaptado para o contexto de trabalho desenvolvido pelo Serviço Social, de modo que o profissional vá ao encontro do paciente na clínica de origem, visto que não estamos inseridos no fluxo oficial das mesmas e também no sentido de resgate daqueles pacientes que não conseguimos abordar no momento da matrícula. A proposta é realizar a orientação sobre os direitos sociais o mais cedo possível, de modo a garantir a continuidade do tratamento. De acordo com o objetivo profissional na saúde que "passa pela compreensão dos aspectos sociais, econômicos e culturais que interferem no processo saúde / doença e a busca de estratégias para o enfrentamento destas questões". (CFESS, 2009)O trabalho do assistente social em um hospital oncológico do Rio de Janeiro se caracteriza pelo desenvolvimento de uma atitude pró-ativa na busca pela identificação das demandas explícitas e implícitas trazidas pelos usuários, bem como as demandas institucionais. As clínicas indicadas pelo grupo para a experiência piloto foram as clínicas de Urologia, Abdômen e Cabeça e Pescoço, considerando-se o grande número de pacientes matriculados e a dimensão das questões sociais apresentadas.A realidade da população brasileira é marcada por profundas desigualdades sociais agravadas pelo avanço das políticas neoliberais a partir da década de 90, e que se caracterizam pela redução do papel regulador do Estado e pelo avanço de um projeto societário privatista, conforme Bravo. Neste aspecto, as expressões da questão social , como o aumento do desemprego, baixa escolaridade, condições precárias de habitação e saneamento básico, fragilidade do emprego formal, ausência de vínculo previdenciário, se intensificam e revelam a precarização das políticas sociais públicas, em especial da política de seguridade social, sendo portanto a saúde, pelo seu caráter universalizado, a porta de entrada destas questões. Esses aspectos associados a hábitos característicos da vida urbana moderna, como o maior consumo de produtos industrializados, alimentação inadequada, bem como hábitos como o tabagismo e o alcoolismo e outras dependências químicas, representam em grande parte as questões presentes nestas clínicas.Diante desta realidade, verificamos a fragilidade de vínculos familiares e sociais, acarretando a situação de vulnerabilidade do paciente para prosseguir na realização do tratamento.Após um ano desta nova rotina de atendimento foram observados avanços significativos, com rebatimentos sobre a imagem / visibilidade do Serviço Social na instituição e para os usuários. Verificamos que entre os usuários houve uma maior percepção sobre a natureza do trabalho desenvolvido pelo Serviço Social na saúde, bem como uma melhor compreensão sobre a sua inserção nas equipes.No que se refere às equipes observamos maior compreensão sobre o papel do assistente social na realização das entrevistas de primeira vez e os impactos que a sua intervenção profissional imprime na continuidade do tratamento dos pacientes e dos processos / rotinas institucionais, como por exemplo, a ocupação consciente dos leitos a partir de uma maior participação dos pacientes e familiares nas rotinas institucionais. No trabalho de ambulatório tem sido possível ampliar a participação do Serviço Social nas equipes.Nos processos de ambulatório e enfermaria verificamos pacientes e familiares com maior autonomia e conhecimento sobre seus direitos e sua participação no SUS, interagindo sobre as questões que foram encaminhadas desde a sua chegada no instituto. Porém, observamos uma série de situações que interferem na busca ativa. Dentre elas podemos citar a ausência de espaço físico nas clínicas para agilidade do atendimento; procedimentos de urgência; pacientes sem condições clínicas de abordagem e outras dificuldades decorrentes de fluxo não oficializado, como prontuários presos e liberação de pacientes sem passarem pelo Serviço Social.Entretanto, cabe ainda a inserção efetiva deste fluxo na rotina institucional especificamente no atendimento ambulatorial das clínicas citadas para a realização da busca ativa. Uma das propostas desse trabalho é fundamentar a oficialização deste fluxo na instituição. "(...) cabe aos assistentes sociais, a partir dos princípios e do objeto da ação profissional - a questão social - planejar e realizar ações assistenciais que contribuam para a promoção da saúde, a prevenção de doenças, danos agravos e riscos e o tratamento, priorizando o sofrimento social, para o fortalecimento da consciência sanitária e do controle social". (VASCONCELOS, 2006) O objetivo geral é garantir a orientação de maior número de usuários, pacientes e familiares sobre os direitos sociais, sua inserção nas políticas públicas, bem como sobre o contexto institucional, considerando o compromisso com os princípios e diretrizes do SUS, na otimização da assistência em saúde e identificando problemas que venham a interferir na continuidade do tratamento.Os objetivos específicos são: realizar o acolhimento e entrevista social com os pacientes e familiares; orientar e encaminhar para acesso aos direitos sociais; orientar sobre a rotina e programas institucionais; informar sobre as atividades de educação em saúde existentes na unidade, promover o envolvimento das equipes das clínicas nesse processo e fomentar ações institucionais no âmbito das políticas.A metodologia utilizada está baseada na presença constante do Serviço Social nas clínicas de cabeça e pescoço, abdome e urologia, participando ativamente após a abertura de matrícula, estabelecendo o contato inicial com os pacientes e familiares, bem como com as equipes que integram essas clínicas. A busca ativa é a ação utilizada pelo Serviço Social para a concretização desse projeto. Nessa busca, o Serviço Social vai ao encontro do paciente, realiza o acolhimento e a entrevista social, orientando e situando-os em relação a sua chegada na instituição, os serviços existentes e a rotina institucional, bem como seus direitos, deveres e a importância da sua participação na instituição.No mesmo dia da abertura de matrícula o profissional se dirige á clínica de origem do paciente (urologia, abdômen ou cabeça e pescoço), traça o entendimento prévio com a equipe para a realização do atendimento de primeira vez, efetua os atendimentos, garantindo com isso orientações fundamentais aos usuários, pacientes e familiares na fase inicial do tratamento. Nesse processo, identificamos situações que implicam em um acompanhamento mais sistemático do assistente social e de outros profissionais envolvidos na clínica.Este movimento de busca ativa viabiliza os entendimentos e a troca de informações in loco com toda a equipe de saúde, socializando dessa forma, as necessidades específicas dos usuários.A meta do Serviço Social ao agregar à sua rotina essa nova sistematização no seu processo de trabalho, em nível ambulatorial, é atender a um maior número de pacientes matriculados nesses serviços. Aqueles que por questões específicas não são atendidos no mesmo dia de sua matrícula são identificados e agendados para atendimento o mais breve possível.A equipe de assistentes sociais formada por quatro profissionais que atuam diretamente na busca ativa, construiu um roteiro para registro da produção diária dos atendimentos ambulatoriais de primeira vez nas clínicas, que traça um perfil do paciente matriculado. Este roteiro é composto pelos itens: escolaridade, situação conjugal, local de moradia, etilismo / tabagismo, rede de apoio, situação previdenciária e encaminhamentos.A avaliação deverá ser anual, englobando a avaliação quantitativa e qualitativa referentes aos itens do formulário de produção diária.Desta forma acreditamos que através do conhecimento do perfil e demandas dos usuários, poderemos sistematizar melhor nossas ações, subsidiando inclusive ações institucionais no âmbito das políticas públicas. Referências Bibliográficas: BRASIL, Dicionário digital de termos médicos. Disponível em www.pdamed.com.br/diciomed. Acessado em dezembro de 2009. BRAVO, M.I. Política de Saúde no Brasil. In: MOTA, A.E. et al (orgs). Serviço Social e Saúde. São Paulo: OPAS/OMS/Ministério da Saúde, 2006, p.88-110. CASTEL, Robert. As armadilhas da exclusão. In: CASTEL, Robert et al. (orgs.). Desigualdade e a questão social. São Paulo: Educ, 1997. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993com as alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS n.º 290/94 e nº 293/94. __________________. Parâmetros para atuação de assistentes sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais (1). Brasília: CFESS, 2009. ________________. Atribuições Privativas do Assistente Social. Brasília: CFESS, 2002. COSTA, Maria Dalva Horácio da "O trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos (as) assistentes sociais". In: Serviço Social e Sociedade (62). São Paulo: Cortez, 2000 VASCONCELOS, Ana Maria de. A prática do Serviço Social: Cotidiano, formação e alternativas na área da saúde. São Paulo: Cortez, 2002 __________________. Serviço Social e práticas democráticas na saúde. In: MOTA, A.E. et al (orgs). Serviço Social e Saúde. São Paulo: OPAS / OMS / Ministério da Saúde, 2006. __________________. O trabalho do assistente social e o projeto hegemônico no debateprofissional ". Programa de capacitação continuada para assistentes sociais. Módulo 04: Trabalho do assistente social e as políticas sociais. CEFESS - ABEPSS - CEAD/NED - UNB, 2000".