Tamanho da fonte: 

A Equipe de Saúde da Família – ESF da Vila Vintém e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha – CICV têm desenvolvido há cerca de doze meses um projeto de caráter multidisciplinar, voltado ao atendimento de saúde mental às pessoas afetadas pela violência. Esse projeto objetiva prestar assistência terapêutica aos usuários acompanhados pela Estratégia de Saúde da Família de Vila Vintém, do CMS Padre Miguel, tendo em vista o perfil epidemiológico observado no território de abrangência. Há identificação de pessoas em condição de sofrimento psíquico, apresentando sintomas de ansiedade e depressão, nos diversos graus de gravidade, em decorrência do impacto da violência urbana. A primeira etapa do projeto consiste na seleção dos casos através de escuta realizada pelos profissionais das equipes de referência – médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde, já sensibilizados para a questão da violência. Após a identificação dos casos, os profissionais de nível superior realizam a aplicação de três escalas: HAD, AGF e IES, que avaliam, respectivamente, o grau de ansiedade e depressão, a funcionalidade e o impacto do evento traumático da violência. Em paralelo, ocorre a discussão multidisciplinar dos casos, em reunião de matriciamento contínua com enfermeiro, médico e psicólogo, associada à supervisão mensal no CICV. Identificada a elegibilidade do usuário para o grupo, são realizados oito encontros consecutivos, com um atendimento individual ocorrido durante a etapa intermediária do grupo. A atividade acontece semanalmente em uma sala na Vila Olímpica de Padre Miguel, um espaço tranquilo e sigiloso. Ao término do grupo, as mesmas escalas são reaplicadas para avaliação dos resultados. Até o momento, três grupos já ocorreram em Vila Vintém, sendo o último realizado através da cooperação ESF-NASF. Todos os usuários que participaram apresentaram melhora significativa a partir do terceiro encontro, com retorno gradual da funcionalidade e diminuição dos sintomas de ansiedade e depressão. Espera-se com este trabalho o aumento da resiliência; o fortalecimento do vínculo por meio da escuta; a ampliação da rede de solidariedade; a redução dos agravos na saúde mental em decorrência da violência urbana. Dentre as recomendações, é necessário criar espaços multidisciplinares e intersetoriais que levem em conta a complexidade da violência, e os impactos desta nas populações mais vulneráveis.