Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Implantação de Apoio Institucional na Gestão Compartilhada FESF-SUS/Municipios
Francy Webster de Andrade Pereira, Daiana Cristina Machado Alves, Igor de Carvalho Gomes, Caroline Castanho Duarte, João André Santos Oliveira, Vania Priamo

Resumo


O estado da Bahia tem conquistado avanços na gestão da saúde, porém, percebe-se, nos municípios de pequeno e médio porte, certa fragilidade das Equipes de Gestão da Atenção Básica (AB). Em geral estas equipes de gestores são bastante reduzidas, tem alta rotatividade, por vezes é compostas por trabalhadores sem experiência no ambiente da gestão, são sobrecarregadas com tarefas puramente administrativas, muitas vezes distantes do território, do dia a dia das equipes de saúde, e com pouco espaço para refletir, questionar e transformar a maneira como o trabalho está sendo desenvolvido. Além desses aspectos, percebe-se um desinvestimento em torno do que deveria ser o verdadeiro foco do objeto de seu trabalho: a forma como as Equipes de Saúde da Família - EqSF estão organizando o seu processo de trabalho para dar conta das demandas de cuidado à saúde dos usuários. Este somente pode ser compreendido a partir do acompanhamento e da interação permanente com estas equipes no exercício de sua prática cotidiana. Assim, as Equipes de Gestão da AB pouco exercem a função de “apoio” às EqSF, preponderando a lógica gerencial tradicional no sentido da supervisão punitiva, com pouco espaço de expressão da subjetividade, instituindo uma hierarquia de poder verticalizada, que acaba aumentando a distância entre a gestão, os trabalhadores e usuários, dificultando o desenvolvimento de novas possibilidades na gestão do cuidado na Atenção Básica. A Fundação Estatal Saúde da Família - FESF-SUS, tendo como um de seus objetivos precípuos o desenvolvimento das equipes de gestão municipal, oferta aos municípios contratualizados ferramentas que possibilitem qualificar o trabalho da gestão, aproximando-o do processo de trabalho das EqSF. Uma dessas ferramentas é a implantação da lógica do Apoio Institucional na gestão da atenção básica no município, através de pactuação do Plano Desenvolvimento da Gestão e do Cuidado - PDGC. A estratégia do Apoio Institucional - AI às Equipes de Saúde da Família, tem como eixo a organização do processo de trabalho da Equipe de Gestão da Atenção Básica. Ela é capaz de produzir o encontro entre equipes/trabalhadores de saúde e a gestão de forma a alcançar um cenário de apoio à reflexão, análise, negociação, pactuação e transformação do processo de trabalho das Equipes de Saúde da Família. É importante que antes do início das atividades para implantação do modelo do Apoio Institucional a gestão reflita sobre as motivações que levaram a buscar a implantação este modelo de Apoio na atenção a saúde e tenha claro qual a imagem-objetivo que se quer alcançar. Esta etapa é importante para que gere sentido na proposta de implantação o Apoio para a equipe de gestão e para não cair no fetiche da "implantação pela implantação", evitando desgastes e frustrações. No espaço de pactuação do PDGC, a proposta inicial ofertada à equipe de gestão é a realização da Cartografia do Processo de Trabalho. Esta atividade que consiste em debater as principais nós críticos que atrapalham o acompanhamento do processo de trabalho das EqSF, tentando mapear os pontos fortes e fracos da equipe para que seja traçado um plano de apoio da FESF-SUS ao município. priorizando a atenção básica, mas sem esquecer todo o aporte de rede que deve ficar na retaguarda, levanta-se a necessidade de transformar o trabalho, na perspectiva de uma organização na lógica do Apoio Institucional, na busca de práticas participativas produtoras de autonomia e de mais qualidade para a gestão e cuidado da atenção básica aproximando equipes gestoras das equipes saúde da família. A FESF-SUS tem ofertado oficinas com equipes de Gestão da Atenção Básica dos municípios contratualizados e as demandas tem sido bastante positivas. A proposta para a implantação do Apoio Institucional às Equipes de Saúde da Família em alguns municípios tem como ponto de partida o desejo dos Secretários de Saúde e Coordenações de Atenção Básica expresso nas oficinas do Plano de Desenvolvimento da Gestão e do Cuidado – PDGC, realizada juntamente ao Apoio Institucional da FESF-SUS. Estas demandas geralmente são pactuadas como agenda prioritária para ser desenvolvida na perspectiva da Gestão Compartilhada entre o município e a FESF-SUS. Poucos municípios contam com equipes de gestão estruturadas com o objetivo de estarem mais próximas das Equipes de Saúde da Família e apoiá-las no desenvolvimento de suas atividades. Portanto, tem sido predominante na realidade das equipes de gestão na Bahia a grande dificuldade na realização do acompanhamento das atividades desenvolvidas pelas EqSF, tendo em vista a maneira como são organizados o processo de trabalho das Coordenações de Atenção Básica, com um forte enfoque na atuação por demanda (“apagar fogo”), terminando pela ocupação da maior parte da agenda com demandas administrativas (fluxo de abastecimento de materiais de consumo e medicamentos), de gestão do trabalho, de infra-estrutura predial e de manutenção de equipamentos. Com a realização das oficinas de implantação do AI no municípios demandantes, as equipes de gestão municipal tem conseguido se re-organizar no sentido de mudar o foco de seu processo de trabalho para estar mais próximo das EqSF. Além dos encontros com as equipes da gestão municipal, a FESF-SUS estimula a utilização de suas ferramentas institucionais de acompanhamento do desempenho (MAPS - Sistema de Monitoramento da Atenção Primária a Saúde) e da qualidade (produtos do período de implantação do Sistema FESF-SUS) dos serviços de atenção a saúde como dispositivos de mudança nas práticas dos gestores. Implantar o Apoio Institucional requer uma mudança profunda no processo de trabalho da equipe de gestão da atenção básica, e que só entendendo como se dá seu processo de trabalho, este poderia ser transformado. Dessa forma, é importante que haja um “apoio externo” para ajudar neste desafio que é o de transformar práticas que estão bastante instituídas no cotidiano da gestão da saúde nos municípios, a partir da implantação desta “forma de fazer”, que é o Apoio Institucional na realidade municipal.