Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O COTIDIANO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E SUAS INTERFACES COM A GESTÃO DOS PROCESSOS DE TRABALHO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA
José Guilherme Guilherme Santos, Maria Alberto

Resumo


O Movimento da Reforma Sanitária Brasileira teve importante participação nas lutas pela democratização da saúde. No entanto, a organização do sistema de saúde foi minada pela racionalidade econômica dos discursos reformistas do Estado, principalmente a partir da Reforma Gerencial de 1995. Isso resultou na flexibilização da gestão de recursos humanos, com consequente promoção da precarização do trabalho na área. A partir desses aspectos, este estudo, que é parte do projeto de pesquisa de doutorado desenvolvida pelo primeiro autor, discute como o trabalho de profissionais de saúde de um hospital universitário da região metropolitana de Belém-PA é afetado pelo modo como é gerenciado, e como os profissionais têm lidado com os arranjos institucionais de gestão lá situados. Foi utilizado um questionário com questões relativas ao trabalho dos profissionais e das práticas de gestão da coordenação de recursos humanos, da coordenação clínica e da gerência de enfermagem de uma das clínicas pesquisadas. Também foram realizadas observações não sistemáticas, cujos registros foram feitos em um diário de campo. Os resultados parciais mostram que metade da amostra tem vínculo trabalhista “celetista”, e parcela significativa possui um segundo vínculo. Mostraram a segmentação dos trabalhadores e a fragmentação dos coletivos, com marcada ausência de espaços onde suas dificuldades possam ser expressas e as possibilidades de resolução discutidas. Os relatos acerca da gestão denotam forte controle sobre os processos de trabalho, dada a centralização do poder nas chefias e quase ausência de comunicação horizontal e vertical entre elas. Também foi relatado o forte impacto que as condições (físicas e emocionais) de precarização do trabalho têm sobre o cotidiano do serviço. Imersos em um ambiente de degradação estrutural e intersubjetiva, as dificuldades daí provenientes se refletem nas relações sócio-afetivas estabelecidas entre eles, entre eles e os usuários e naquelas além do contexto do trabalho, particularmente a família, levando-os à desafetação/desvinculação do outro. Com base nos dados obtidos, questionamos, dentre outras coisas, o tipo de produção de cuidado realizado na clínica pesquisada, uma vez que as práticas de gestão lá situadas se distanciam do que foi considerado como práticas possíveis em organizações de saúde, isto é, que garantam a maior vinculação possível entre profissionais e usuários, em um processo de tornar-se um dispositivo desalienante.