Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Educação em Saúde: construindo comportamentos saudáveis
Ana Marcia Oliveira

Resumo


INTRODUÇÃO: O presente trabalho surge de uma experiência muito rica na implantação do Projeto de Extensão “Educação em Saúde: construindo comportamentos saudáveis” no Município de Rio das Ostras. Fruto de uma parceria entre a Universidade Federal Fluminense / Polo Universitário de Rio das Ostras e a Secretaria Municipal de Educação, ele se sustenta no paradigma de que indivíduos suficientemente informados e com espaço para agregar valores e reflexões têm maiores chances de se construírem como cidadãos portadores de autonomia e responsabilidade. Desta forma, tornam-se sujeitos de sua própria história, capacitados para o desenvolvimento de atitudes de proteção à saúde, conscientes para gerir escolhas no âmbito das práticas sexuais. Nesta linha de raciocínio, “a conscientização ocorre à medida que o próprio indivíduo consegue olhar para sua realidade de forma não mais cotidiana, mas, crítico-reflexiva”¹. A busca deste estágio de consciência passa, nesta experiência, por encontros de sensibilização, discussão e apropriação de informações. OBJETIVO: descrever a experiência vivida na implantação do projeto de extensão “Educação em Saúde: construindo comportamentos saudáveis” destacando as contribuições do mesmo, através dos processos de discussão e reflexão, no tocante à saúde sexual dos adolescentes inseridos no ensino fundamental da rede pública do Município, capacitando estes adolescentes para gerirem sua vida sexual de forma saudável. Justifica-se a estratégia considerando a prioridade deste segmento populacional no que diz respeito às Políticas Públicas e Estratégias de Ação com impacto sobre a reversão dos quadros de maior prevalência das morbidades. Sua implementação está vinculada ao Programa de Saúde do Escolar na vertente do SPE (Saúde e Prevenção nas Escolas). O referido Programa “tem como eixo estruturante de suas ações a integração dos setores saúde-educação”². Focado nos elevados índices de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Gestações não Planejadas entre adolescentes, suas estratégias buscam intervir em padrões de comportamento com impacto significativo na sociedade. A importância da temática, assim como a abrangência das atividades, dá a esta experiência espaço para o pensar Educação em Saúde. Inicialmente realizamos sua apresentação para os diretores das escolas, a pedido da Secretaria de Educação. Por solicitação dos diretores, fomos a cada uma das escolas para apresentá-lo aos pais/responsáveis. A receptividade destes foi excelente, sendo que em algumas escolas, os responsáveis solicitaram que abríssemos um espaço para que eles também pudessem falar sobre suas dúvidas. Referiam-se a pouca informação e preparo para lidarem com sua própria saúde sexual, assim como para lidar com essa demanda dos adolescentes. Em função disto conseguimos realizar um encontro com os pais de uma das Escolas. Neste encontro a freqüência foi de 17 mulheres e um homem. A metodologia de trabalho com os alunos consistiu em três encontros com cada grupo, com duração média de uma hora. No primeiro encontro buscamos sensibilizá-los para a importância e emergência da temática, identificando suas demandas. Neste encontro já iniciávamos o espaço para conversar sobre as dúvidas que emergiam. Após este primeiro momento deixávamos uma caixa para que os alunos depositassem, anonimamente, suas dúvidas. No 2º encontro respondíamos às questões demandadas pelos alunos, estabelecendo um espaço de reflexão sobre a temática. E, por fim, no 3º encontro, promovemos atividades reflexivas sobre autonomia e cuidado, assim como realizamos a avaliação da atividade. Os encontros atenderam a 12 das 14 escolas municipais de Rio das Ostras (81% das escolas de segundo segmento/anos finais). Foram atendidos alunos de uma faixa etária entre 12 e 18 anos e, alguns adultos até 70 anos integrantes do EJA (Educação de Jovens e Adultos). O critério para inclusão do EJA e do 8º ano, em algumas escolas, foi risco para prostituição e violência sexual pela inserção em áreas de maior vulnerabilidade. Em média, considerando a oscilação da freqüência em cada um dos encontros, atendemos cerca de seiscentos e sessenta e quatro meninas e seiscentos e dezesseis meninos. Seguem algumas falas que expressam o pensar dos alunos inseridos no atendimento do projeto. “Ensinou coisas que não sabia”. “Mostrou várias doenças, inclusive as que não conhecia e o modo de se prevenir.” “Deveria dar continuidade a este tipo de trabalho.” “Tudo o que foi falado eram dúvidas freqüentes dos jovens.” “Importante para nos tornarmos adultos responsáveis.” “Foi uma oportunidade de aprendizagem sobre as partes e sensibilidade do corpo.” -“Foi muito bom aprender e evitar as DSTs, as imagens das doenças na vagina e no pênis eram legais, e a demonstração de como colocar a camisinha também.” “Deveria ter pessoas na escola para nos orientar, um professor como nas outras matérias.” “Foi muito bom, pois, eu acabei descobrindo coisas que eu pensava saber mais não era bem assim.” “Acho que o projeto foi muito legal, interessante, e que ele deveria continuar, pois ele está conscientizando muitos jovens e ajudando a eles se preservarem.” “Podemos tirar dúvidas que tínhamos vergonha em tirar com nossos pais.” “Foi legal. Foi um modo diferente de alertar a gente contra doenças” “O importante foi o ensino do uso da camisinha. Gostei, aprendi muitas coisas. Tirou todas as minhas dúvidas sobre as doenças. Podiam voltar para orientar a gente mais vezes.” “O projeto foi muito interessante para abrir nossas mentes para os problemas e precauções que devemos ter num relacionamento e fora dele.” “Hoje em dia, é muito difícil os adolescentes e jovens terem alguém para falar de sexo para eles. Os pais acham isso uma conversa muito difícil para lhe dar com os filhos. Então, eu como aluna, acho muito importante essas palestras e apresentações na escola.” “Foi um assunto que todos os alunos precisam saber e se informar, porque ninguém como nós mesmos para cuidarmos de nossa saúde.” “Acho muito importante vocês continuarem com essa iniciativa de estar se preocupando com nós adolescentes, porque eu fui mãe aos 15 anos.” “Achei muito interessante, pois, na roda de conversa, cada um tinha suas dúvidas esclarecidas. A caixinha de perguntas foi legal para aqueles que são mais tímidos.” “A caixinha que teve de perguntas eu amei. “Coisas que tinha vergonha de falar, eu pude anotar todas as minhas dúvidas.” “Muito informativo, devido a doenças que são graves, mas não despertam interesse dos jovens.” “A palestra foi muito informativa e atenciosa, pois, nós jovens, precisamos dessa atenção nesse mundo de hoje.” “Pra mim o mais interessante foi a explicação de como colocar a camisinha feminina, pois assim a mulher não fica dependendo do homem.” “Aprendi que fazer sexo com segurança é a melhor coisa para se evitar uma gravidez.” “Se todos tivessem a oportunidade de ter palestras como essas. Aposto que iriam se prevenir mais e existiriam menos doenças sexualmente transmissíveis e menos gravidez, que na maioria das vezes são indesejadas pelos adolescentes.” “É muito importante que continue para que essas coisas que nós aprendemos sejam passadas para os outros.” “Podemos ser a geração que vai mudar a realidade pra atos saudáveis na relação sexual.” “As dinâmicas eram interessantes.”. Este trabalho tem se aproximado do Programa de DST/AIDS e do Núcleo de Atendimento à Saúde do Adolescente (NASA) do município, estabelecendo uma parceria que se estende para a composição do Comitê Gestor Municipal do SPE e, pretende monitorar o impacto deste projeto nos números de casos de DST/AIDS e de Gestações não Planejadas entre as adolescentes. Tendo em vista o impacto de sua impantação no municipio de Rio das Ostras esta ação foi desdobrada, também, em pesquisa com o objetivo de mapear o perfil de comportamento sexual dos adolescentes do Município e discutir a rede de atendimento a estas demandas. A vivência neste trabalho tem possibilitado discussões com adolescentes sobre sua sexualidade, contribuindo para a formação de multiplicadores. Vale ressaltar as contribuições para o fortalecimento de parcerias entre secretaria de educação e a Universidade Federal Fluminente/Polo Universitario de Rio das Ostras, intermediado por um projeto de uma enfermeira que com suas bolsistas e demais equipe tem somado notoriamente com a região, divulgando o papel da enfermagem na prevenção e saúde sexual de adolescentes, outrossim, divulgação do curso de enfermagem do PURO/UFF enquanto instituição transformadora da realidade no processo saúde e doença.