Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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REALIDADE VERSUS POSSIBILIDADE: UM RELATO DE ESPERIÊNCIA NA PERSPECTIVA DO PAPEL DA GERENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE - SALVADOR-BA
Mariana Nossa Aragão

Resumo


Com o advento do SUS e o decorrente processo de municipalização da saúde, conduz-se a uma lógica baseada no aumento do poder de decisão em âmbito local, em que a atenção primária deve contar com uma gerência capaz de atender uma perspectiva democrática, participativa e instruída tecnicamente de suas atribuições. Dessa forma, o sistema vigente requer um profissional que lide com as adversidades, não devendo ser visto como resolutor de todos os problemas, mas deve trabalhar com as possibilidades, partindo das microesferas para as maiores, delegando poderes e encaminhando o que não mais lhe competir. O gerente não deve ser encarado como mágico, deve trabalhar com as potencialidades de mudança, não deixando cair na ‘administração apenas de papeis’. Objetiva-se com esse estudo socializar a vivência no contexto da Estratégia de Saúde da Família com vistas ao perfil gerencial desempenhado no cotidiano do trabalho em saúde, estabelecendo um paralelo em relação à literatura. Propõe-se também, ao final do estudo, apontar as fragilidades e inconsistências encontradas na realidade, propondo algumas estratégicas de intervenção. Este estudo se configurou no decurso da disciplina Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em uma Unidade de Saúde da Família, no distrito do Subúrbio Ferroviário na cidade do Salvador-Ba. Refletindo na perspectiva da dialética da realidade versus possibilidade, diferente do que se observa na teoria, na prática nota-se um perfil gerencial baseado em uma lógica fragmentada, na ausência de comunicação entre profissionais, o que se contrapõe à lógica da Estratégia de Saúde da Família, que busca a descentralização de poder. A realidade encontrada se assemelha com a teoria Taylorista, são vistos postos de trabalhos separados e poder detido nas mãos do gerente, dando pouca (ou quase nenhuma) autonomia aos funcionários. Com esse modelo, vê-se um forte controle gerencial do processo e uma hierarquia rígida, se configurando como um nó crítico para o sistema de saúde público. Toma-se como estratégia de enfrentamento do problema a necessidade de políticas de educação permanente, visando suprir uma lacuna do conhecimento. Por fim, infere-se que a função gerencial adequada e condizente à realidade é o ponto chave para um bom funcionamento das rotinas trabalhistas, uma vez que gerenciar serviços de saúde é atuar numa "dobra" entre a ação e o autogoverno dos sujeitos, gerenciar é menos capturar sujeitos para um trabalho e mais "construir" sujeitos.