Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
PROJETO PILOTO DE CONSULTA COLETIVA A PACIENTES HIPERTENSOS E/OU DIABÉTICOS EM UMA UNIDADE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE.
Lídia Einsfeld, Elisa Jaime Menezes, Rosmére Lasta, Leni Padilha, Silvana Sordi, Ricardo Melnick, Karen Battisti Vignolo, Rosemarie Gafforelli, Nathaniel Pires Raymundo

Resumo


O atendimento em grupo tem sido adotado como uma maneira de superar os problemas dos sistemas de atenção à saúde estruturados no atendimento uniprofissional, com forte centralidade na consulta médica de curta duração e de dar consequência a práticas multiprofissionais efetivas (MASLEY et al., 2000). Como o próprio nome indica, o atendimento em grupo não se destina a uma pessoa individualmente, nem é provido, em geral, por um único profissional, mas se foca em grupos de pessoas com condições de saúde semelhantes, contando com a participação de vários profissionais de uma equipe de saúde (MENDES, 2011). Um dos grandes desafios encontrados pela equipe da Unidade de Saúde Divina Providência, uma das 12 Unidades que compõe o Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição é o de cadastrar os usuários hipertensos e/ou diabéticos na Ação Programática do “Hiperdia”. Uma vez cadastrado, este usuário possui acesso facilitado à marcação de consultas na Unidade e demais serviços assistenciais da mesma, além de ter seu boletim de atendimento preenchido com dados da evolução de ambos as enfermidades. Estes dados de evolução, sendo retroalimentados no Sistema de Informações em Saúde (SIS/GHC), fornecem informações que contribuem tanto para acompanhamento deste usuário tanto para a vigilância do território pela equipe de saúde. Sendo assim, a equipe propôs-se lançar mão desta nova tecnologia em saúde, a consulta coletiva, para abordagem dos pacientes hipertensos e/ou diabéticos do território. Foi proposto um projeto piloto para esta nova abordagem onde o recorte da população escolhido foi o de usuários que, apesar de diagnosticados como hipertensos e/ou diabéticos não estavam cadastrados na Ação Programática. Como proposto por Mendes (2011) as primeiras etapas da intervenção constituíram-se na revisão dos prontuários dos pacientes seguido de convite aos usuários para a atividade em grupo, ambas as etapas realizadas através de uma equipe multiprofissional. A equipe constituiu-se de médicos, enfermeiro, farmacêutico, odontólogo, assistente social, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde. No dia da intervenção, os usuários foram recepcionados pela equipe de saúde na sede da Associação de Moradores, ao lado da Unidade. Após a apresentação de todos os integrantes da equipe, do grupo de usuários, bem como dos objetivos da atividade, iniciou-se uma atividade de educação em saúde que permeou todo o atendimento em grupo. Placas contendo os dizeres “mito” e “verdade”,e fichas com frases a respeito do cuidado em hipertensão e diabetes, foram distribuídas aos participantes. À leitura de cada ficha, seguia-se a opinião de cada um a respeito dos dizeres da frase: se se tratava de um mito, ou de uma verdade. Esta se tratava da metologia disparadora para a discussão e troca de saberes entre usuários e profissionais. Não havia pontuação os “acertos” e os “erros” e sim uma problematização das questões que envolvem o hipertenso e o diabético: o estilo de vida, a alimentação, a atividade física, entre outras. Durante a atividade, os usuários eram chamados individualmente para outros dois momentos que também compunham o atendimento: primeiramente, a pesagem e aferição de pressão arterial e glicemia capilar, na sala de enfermagem, onde recebiam estes dados anotados em sua “Carteirinha do Coração”, além de um momento de atendimento individual com o médico da Unidade. Assim que terminavam estes dois momentos, retornavam à atividade central, de educação em saúde, continuando assim a discussão/troca e o encerramento em grupo da atividade. Ao final do projeto piloto, três intervenções foram realizadas. A cada uma das duas primeiras intervenções, 25 usuários receberam o convite para o atendimento, e a porcentagem de usuários presentes foi de 50%. Para o terceiro encontro, os usuários convidados foram aqueles que se ausentaram nas duas primeiras intervenções. A porcentagem de usuários presentes foi de 52%, dados estes reforçados pela literatura (MENDES, 2011). A consulta coletiva, enquanto nova tecnologia em saúde, aliada a outras estratégias da equipe, conseguiu aumentar a porcentagem de usuários cadastrados na ação programática de 63 para 72%. E, além disso, possibilitou que muitos usuários voltassem a acessar os serviços da Unidade, após anos sem vínculo com a equipe. Outros ainda retornaram ao tratamento, após muito tempo vindo à Unidade apenas por demandas pontuais. E outros ainda eram pacientes com diagnóstico de hipertensão ou diabetes, possibilitando a problematização da equipe em relação ao seu processo de trabalho, principalmente no que toca ao registro. Evidenciada a qualidade dos resultados do projeto piloto, a equipe de saúde da Unidade Divina Providência avalia como positiva a consulta coletiva enquanto tecnologia em saúde, se propondo a realizar novas intervenções, com diferentes abordagens e um acompanhamento regular destes pacientes, através deste atendimento em grupo.