Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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RELATO DE EXPERIÊNCIA: OFICINAS REALIZADAS COM AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE PARA MELHORIA DA ASSISTÊNCIA À GESTANTE
Ana Paula Assunção Moreira, Thiala Maria Carneiro de Almeida, Claudia Costa da Cruz, Dulceli Botelho, Laís Teixeira da Silva Almeida, Lauro Antônio Porto, Leyla Karoline Miranda Moreira, Marcela Luz Sacramento, Mariana Prates de Andrade Rodrigues, Raiane Moreira dos Santos, Thiago Laranjeiras Alves

Resumo


Introdução: “Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são profissionais essenciais para a consolidação do Sistema Único de Saúde, a organização das comunidades e a prática regionalizada e hierarquizada de assistência, na estruturação dos distritos sanitários” (SILVA, 2002). Por essa razão, nasce a necessidade de mostrar e habilitar esses profissionais sobre os elementos significativos para a realização precoce do atendimento pré-natal e melhoria do SISPRENATAL cujos conteúdos relacionam-se direta ou indiretamente com a assistência à mulher, sobretudo, no ciclo gravídico-puerperal. Os indicadores de saúde explorados até o momento apontam diversos problemas na assistência à mulher tanto no município de Salvador quanto no Distrito Sanitário do Subúrbio Ferroviário, resultando em altas taxas de Mortalidade Materna e, também, em grandes problemas relacionados com a alimentação dos Sistemas de Informação em Saúde. Gomes (2006) afirma que “a utilização de sistemas de informação em saúde tornou-se uma importante área de estudo, pois identifica as limitações e as alternativas que os sistemas possuem seja isoladamente ou integrados, implicando em resultados que contribuem para o monitoramento dos agravos à saúde”. Esta referência torna evidente a importância da alimentação correta desses sistemas e de suas possíveis repercussões. O Programa de Humanização de Pré-Natal e Nascimento (PHPN), do Ministério da Saúde, preconiza que devem ser realizadas um mínimo de seis consultas de pré-natal e uma de puerpério, intercaladas entre médicos e enfermeiros visando uma assistência humanizada à mulher nessa importante etapa da vida. No entanto, os dados analisados apontam um número muito abaixo do que o considerado ideal, trazendo, portanto, diversos agravos à saúde da gestante e do recém-nascido. Desta forma, surge a necessidade de realizar capacitação dos ACS, bem como de médicos, enfermeiros, odontólogos, gerentes das unidades de saúde e demais categorias profissionais que estejam relacionadas direta ou indiretamente com a assistência materna. Objetivos: Relatar a experiência das oficinas realizadas com ACS para melhoria da assistência à mulher no ciclo gravídico-puerperal, promovendo ações que visem à busca ativa dessas gestantes para a realização do pré-natal, o mais precocemente possível, bem como para as consultas puerperais. Métodos: Utilizando-se da pesquisa-ação como método para a condução do trabalho do PETVS, o diagnóstico da situação de saúde no DSSF foi desenvolvido a partir da coleta de dados referentes às condições de ocorrência do óbito materno, relacionando-as com as variáveis sócio-demográficas, de mortalidade e morbidade em Salvador e no DSSF, considerando os anos de 2000 a 2009. Os dados foram obtidos a partir do IBGE e nos Sistemas de Informação em Saúde – SIM, SINASC, SIAB, SISPRENATAL - além de levantamento bibliográfico sobre características da morte materna. Com a análise desses indicadores, foi elaborado um relatório sobre a situação de saúde do DSSF, com ênfase na mortalidade materna, o qual levou a realização de um seminário com o tema “Mortalidade Materna no Subúrbio Ferroviário: Análise e perspectivas de monitoramento”, objetivando apresentar e discutir os resultados encontrados. A partir deste evento, surgiram três linhas básicas de intervenção, entre elas a melhoria da informação no DSSF, com ênfase no SISPRENATAL. E, nessa linha de ação, dentre as atividades realizadas, surge a necessidade de realizar oficinas com os ACS para melhoria da captação precoce das gestantes. Para a viabilização das oficinas ocorreram reuniões entre preceptoras, tutor e estudantes do PET/VS, nas quais foi decidido que seriam realizadas 5 oficinas, no intuito de abranger todos os profissionais agentes comunitários do Subúrbio Ferroviário, de forma fragmentada a fim de otimizar o espaço físico disponível e a discussão, permitindo assim uma construção participativa e não vertical. No decorrer das oficinas foi apresentado um referencial teórico, com os indicadores de saúde materna do DSSF, as repercussões positivas que a implementação do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento podem trazer para a assistência a gestante durante o pré-natal, parto e puerpério e para a Unidade de Saúde que alimenta o SISPRENATAL e o papel do agente comunitário para a assistência e captação das gestantes. Em um segundo momento da oficina, os ACS foram divididos em grupos onde foram propostas duas questões norteadoras para discussão: 1- Quais as dificuldades para a captação das gestantes no 1º trimestre de gravidez para início da assistência pré-natal e 2- Enquanto ACS dê sugestões para melhorar a captação das gestantes no primeiro trimestre da gravidez para início do PRÉ-NATAL. Posteriormente foi aberta a discussão para todo o grupo. Ao final, como forma de avaliação das oficinas e já pensando em melhorias para as futuras atividades, solicitamos que os profissionais respondessem a um questionário com cinco perguntas com críticas e sugestões. Resultados: As oficinas tiveram como resultados a participação e contribuição dos agentes comunitários, na medida em que se utilizou o recurso dialógico, não se restringindo a uma mera apresentação dos temas. O espaço promoveu a construção de um entendimento comum sobre a necessidade da captação precoce das gestantes e o acompanhamento pré-natal e puerperal como medida para reduzir a morbi-mortalidade materna e sobre a importância do cadastramento das gestantes no SISPRENATAL para o planejamento em saúde e melhoria da assistência, sendo isso evidenciado através das avaliações realizadas após as oficinas. As principais dificuldades apontadas pelos ACS para a captação precoce das gestantes foram: gravidez indesejada pela mulher ou pelo parceiro; a omissão da gestação (por intenção de realizar um aborto, receio da reação familiar/ comunidade e da repercussão que haverá na vida da gestante); falta de interesse da gestante na realização do pré-natal; dificuldade para realização dos exames por falta de sala de coleta em algumas unidades; falta de acolhimento da gestante na unidade; uso de drogas de forma abusiva pela gestante ou casal. Um ponto importante e muito abordado foi a dificuldade na captação das gestantes devido a intenção da prática do aborto, sobretudo nas gestações de adolescentes, algo que nos remete à necessidade de intensificar o trabalho de educação permanente através dos grupos de mulheres, gestantes e adolescentes para abordar essa problemática, além do planejamento familiar e métodos contraceptivos, sendo essas estratégias citadas na fase de discussão das possíveis soluções. Foram apontados também como medidas para a captação precoce da gestante: Aprimorar o olhar investigativo e a comunicação para estabelecer uma relação de confiança e possibilitando à gestante revelar a gravidez mais cedo ao ACS; promover ações educativas na comunidade quanto a importância do pré-natal; esclarecer na comunidade o papel do ACS frente a gestação; garantir o funcionamento das salas de coletas nas unidades, principalmente para mulheres com suspeita de gravidez. Além disso, os ACS puderam compartilhar experiências da sua atuação profissional, trazendo as limitações que enfrentam na prática em relação à infra-estrutura (computadores, laboratório para os exames), atentaram para a necessidade do trabalho em equipe e da comunicação adequada entre os profissionais visando a melhoria do serviço de saúde na perspectiva multidisciplinar. Durante a realização das atividades tivemos como facilidades a infra-estrutura, para realização das 5 oficinas, oferecida pelo Centro de Orientação Familiar (COF) e a grande participação dos ACS presentes. As dificuldades encontradas foram a limitação financeira para organização do evento, pouca representatividade dos ACS convidados e a necessidade de reagendamento da primeira oficina por conta de cancelamento do espaço anteriormente agendado. Considerações finais: Dessa forma, partindo do valor do trabalho integrado e multiprofissional em saúde, é importante que os ACS também conheçam a problemática referida, pois, como já foi citado acima, eles representam um grande elo entre a comunidade e o serviço de saúde. Sendo assim, cabe aos profissionais realizarem a assistência adequada à gestante, viabilizando ações de promoção e educação em saúde que atendam à mulher de forma mais integral possível. Além disso, não se pode esquecer a alimentação correta dos sistemas de informação, bem como o preenchimento adequado das fichas de acompanhamento da gestante, pois a partir daí será possível analisar dados mais fidedignos que estejam condizentes com as reais condições de saúde da população e permitir a elaboração e direcionamento correto das políticas públicas de saúde. Contribuições: Este trabalho implica em contribuições diretas para o Distrito, além das que já foram citadas anteriormente referentes às políticas de saúde, trazendo interferências benéficas na assistência à gestante e à puérpera, bem como ao recém-nascido e, possivelmente, implicando em redução das taxas de mortalidade materna e infantil no DSSF. Para os graduandos envolvidos, a atividade possibilitou o contato com os serviços e profissionais de saúde, permitindo conhecer a realidade das problemáticas que envolvem o município de Salvador e, principalmente, o Subúrbio Ferroviário, além de desenvolver uma consciência crítica e reflexiva a respeito dos problemas de saúde enfrentados pela população. Além disso, foi interessante a percepção de que a mesma informação passada para diferentes grupos gerava também distintas reações, o que mostra a necessidade de se conhecer o perfil do grupo em atividade. Nas avaliações dos ACS, de uma maneira geral todos responderam que a oficina atingiu o objetivo proposto, elucidando mais a importância da captação precoce da gestante para a assistência pré-natal. Também, eles viram aquele momento como uma oportunidade para o esclarecimento de dúvidas. - BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento. Brasília, 2000. - GOMES, F. A et. al. Morte Materna Mascarada: um caminho para sua identificação. Acta Paulista De Enferm. Vol. 19, n. 4, pág. 387-93, 2006.- SILVA, Joana Azevedo da; DALMASO, Ana Sílvia Whitaker. O agente comunitário de saúde e suas atribuições: os desafios para os processos de formação de recursos humanos em saúde. Interface (Botucatu). 2002, vol.6, n.10, pp. 75-83.