Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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VIVÊNCIAS INTERDISCIPLINARES E MULTIPROFISSIONAIS: Um novo olhar para o SUS
Liane Colliselli, Adriana Cristina Hillesheim, Marcela Fontana, Silvia Leticia Freddo

Resumo


VIVÊNCIAS INTERDISCIPLINARES E MULTIPROFISSIONAIS: Um novo olhar para o SUS Introdução: A Reforma Sanitária – movimento que se processou entre os anos 80 e 90 – promoveu avanços significativos na forma de se compreender o processo saúde doença e de focar a saúde coletiva, possibilitando mudanças no modelo assistencial, do médico assistencial privatista/hospitalocêntrico para o da vigilância em saúde, voltado à saúde pública. Nesse cenário, em 1994, é concebido o Programa Saúde da Família, fundamentado nos princípios do Sistema Único de Saúde - SUS, que preconizam: a assistência Integral ao indivíduo, família e comunidade; a participação social, o direito a informação, entre outros. Para contemplar a assistência integral é necessário o compromisso do trabalho multiprofissional e interdisciplinar, atribuição esta, prevista na Portaria 648/06 do MS. Que prevê entre as atribuições de todos os profissionais inseridos na equipe da Estratégia Saúde da Família- ESF (médico, enfermeiro, cirurgião dentista, técnico/auxiliar de enfermagem, técnico em higiene dental, auxiliar de consultório dentário e agente comunitário de saúde) “[...] garantir a integralidade da atenção por meio da realização de ações de promoção da saúde, prevenção de agravos e curativas”. No sentido de qualificar a assistência na atenção básica, o Ministério da Saúde cria, a partir da Portaria 154/08, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF, compostos por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, com a finalidade de “ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolubilidade”. Conforme a Portaria supra mencionada, “os NASF devem buscar instituir a plena integralidade do cuidado físico e mental aos usuários do SUS por intermédio da qualificação e complementaridade do trabalho das Equipes Saúde da Família – ESF”. Nesse sentido, a proposta da Vivência Interdisciplinar e Multiprofissional desenvolvida pelos cursos da Área de Ciência da Saúde da Unochapecó, inserida no Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde - Pró-Saúde, surge como uma iniciativa diferenciada para a formação profissional, que visa contemplar a compreensão integral e ampliada da pessoa humana, bem como, o respeito entre as profissões na área da saúde, configurando-se como importante ferramenta no rompimento de preceitos e hierarquias entre as ciências, possibilitando a interdisciplinaridade na discussão dos conhecimentos e da realidade correspondente às múltiplas áreas profissionais a partir da formação. Constitui-se também como uma possibilidade de fortalecer a integração ensino/serviço. Partindo dessa breve reflexão, esse trabalho tem como objetivo descrever de que forma ocorre a inserção da equipe multiprofissional (ESF E NASF) no cotidiano de uma comunidade e identificar a percepção do usuário sobre o SUS, dando ênfase nos princípios da integralidade, direito a informação e a participação comunitária e a inserção do estudante no contexto social sensibilizando-o para o conhecimento da realidade e compreensão de seu papel de agente transformador. Metodologia: A Vivência Interdiscipliar e Multiprofissional – VIM, desenvolveu-se contemplando três momentos: o primeiro e o terceiro momento ocorreram a partir da tutoria com trabalho orientado em espaços da Universidade – Unochapecó, e o segundo momento, destinou-se para a vivência na Rede de Atenção Básica no município de Chapecó, SC, com a equipe multiprofissional da ESF e NASF. Na perspectiva de compreender o Sistema Único de Saúde – SUS contemplou-se no primeiro momento de tutoria a elaboração de uma questão de aprendizagem que serviu como direção para as etapas posteriores. Para responder a essa questão, foram realizadas leituras (Declaração de Alma-Ata, Carta de Owatta, Legislação do SUS e artigos científicos) relacionadas à temática, com subsequente análise reflexiva e elaboração de síntese provisória. Em outro momento, elaborou-se um roteiro para entrevista, contemplando perguntas aos profissionais e aos usuários, e, um roteiro de observação para contemplar a realidade do território da área de abrangência da UBS e complementar as entrevistas. A observação, segundo Laville e Dionne (1999, p. 176), é essencialmente um olhar ativo e sistemático, sustentado por uma questão, uma hipótese, um acontecimento, um fenômeno ou uma situação. A entrevista, segundo Minayo (2008, p. 190), visa “compreender o ponto de vista dos atores sociais previstos como sujeitos/objetos da investigação e contém poucas questões”. Complementando, Gil (2002, p. 90) a define “como a técnica que envolve duas pessoas numa situação ‘face a face’ e em que uma delas formula questões, e a outra responde”. Para complementar a coleta de dados, utilizou-se ainda, o registro em diário de campo. Nele, o investigador deve anotar todas as informações que digam respeito às conversas informais, comportamentos, instituição, expressões que digam respeito ao tema da pesquisa. (Minayo, 2008, pg. 194). No segundo momento realizou-se a vivência utilizando como base, os instrumentos de coleta de dados descritos anteriormente. Estes possibilitaram conhecer, em partes, o funcionamento da UBS, o trabalho desenvolvido pela equipe multiprofissional, a estrutura física e o território da área de abrangência da Unidade de Saúde. O terceiro momento destinou-se para a socialização da vivência com elaboração do relato de experiência a ser publicizado no II Seminário Interdisciplinar em Saúde da Unochapecó em julho de 2011. Resultados: A vivência, realizada na realidade de uma UBS, possibilitou identificar aspectos relevantes em relação ao processo de construção do SUS. Entre eles, a importância da participação da equipe multiprofissional e do usuário do SUS na construção desse processo. Os resultados na perspectiva de descrever e analisar a inserção da equipe multiprofissional no cotidiano de uma comunidade serão apresentados contemplando aspectos avaliados como: positivos; frágeis e percepções vivenciadas pelo grupo. Em relação a participação da comunidade na efetivação do controle social, a equipe de saúde organiza, a cada dois meses, a reunião do Conselho Local de Saúde. Avalia-se esta ação como positiva porque vem ao encontro de um dos um dos princípios do SUS que é participação da população na gestão das ações da saúde, previsto na Lei 8.080/90 e 8.142/90, e está de acordo com a atribuição prevista na Portaria 648/06, cabendo aos profissionais integrantes da ESF “Promover a mobilização e a participação da comunidade, buscando efetivar o controle social”. Compreende-se que a partir dos Conselhos, os profissionais conseguem veicular informações relacionados a promoção da saúde, a prevenção de doenças, à minimização dos riscos e vulnerabilidades, promovendo a produção do autocuidado. A integração dos alunos de diversos cursos da área da saúde à realidade dos serviços, o que demonstra a estes a importância do trabalho em equipe na promoção de saúde e prevenção de doenças, de forma que acadêmicos, tutores, acolhedores e profissionais da Rede de atenção básica passem a atuar em conjunto, voltados para uma estratégia de ação-reflexão-ação, incorporando assim os acadêmicos de diferentes cursos à rotina diária do SUS. A vivência na realidade do Sistema Único de Saúde – SUS permite o desenvolvimento de novos olhares com focos de diferentes perspectivas, levando-os a perceber as muitas contradições e as complexas relações entre gestores, trabalhadores, prestadores de serviço, usuários, instituições de ensino e o controle social. Este curso constitui-se como iniciativa de redirecionamento no processo de formação, em consonância com as novas diretrizes curriculares buscando contemplar as reais necessidades do SUS no Brasil, levando em consideração as especificidades loco-regionais. Como todo grande projeto, o VIM sofre com a resistência de alguns dos atores envolvidos, visto que estes, nem sempre, compreendem a importância de trabalhar em uma equipe multiprofissional na área da saúde. A estes acadêmicos e profissionais, entretanto, falte talvez, a compreensão do novo paradigma de saúde, que vai muito além da ausência de doenças. Desta forma o VIM proporciona uma melhor compreensão sobre o contexto biopsicossocial, no qual o ser humano pertence valorizando sua inclusão na família, num meio, numa cultura e a num contexto socioeconômico. Considerações Finais: O projeto de Vivencias Interdisciplinares Multiprofissionais é uma tentativa de mobilizar e conscientizar acadêmicos sobre a importância de conhecer e reconhecer o que é saúde – sobre a importância de um atendimento holístico, no qual, a população e a equipe de saúde tornam-se partes essenciais de uma estratégia de saúde, aonde o principal objetivo é melhorar o atendimento a população. Além de mostrar a realidade que a população vive em relação as SUS, o projeto permite uma interação entre todos os envolvidos, trazendo conhecimento e ajudando a construir uma consciência mais realista por parte dos acadêmicos. O VIM surge para aqueles que realmente o abraçam dispostos a somar e aprender com suas propostas, atualizando e complementando a formação acadêmica e o currículo dos futuros profissionais. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 648/GM de 28 de Março de 2006. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Disponível em: http: //www.saude.sc.gov.br/gestores/Pacto_de_Gestao/portarias/GM-648.html. Acesso em: 22/05/2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 154/GM, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF. Disponível em: www.saude.ba.gov.br/dab/arquivos/portaria154.2008.pdf. Acesso em: 20/05/2011. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999. 340 p. MINAYO, Maria Cecilia de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. 269 p.